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Edney Silvestre reúne em livro dicas para repórteres de TV

Jornalista foi correspondente em Nova York pela TV Globo, onde trabalhou durante 25 anos

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São Paulo

Edney Silvestre se tornou repórter de TV de uma hora pra outra. Em dezembro de 1996, quando era correspondente cultural do jornal O Globo em Nova York, ele recebeu uma ligação do então diretor do departamento de jornalismo da TV Globo Evandro Carlos de Andrade (1931-2001), que o convidou para ser uma das faces da emissora na cidade americana.

Edney Silvestre, autor do recém-lançado "Segredos de um Repórter" - Divulgação

Andrade tinha pressa e queria a resposta em minutos. Silvestre titubeou, afinal não tinha experiência diante das câmeras, mas gostou do desafio e disse ao diretor que aceitaria, imaginando que teria ao menos alguns dias para se preparar para o novo ofício.

Depois de ouvir o "sim" de Silvestre, Andrade respondeu: "Ótimo, você começa amanhã". E agora?

O recém-lançado "Segredos de um Repórter - Tudo Aquilo que Eu Gostaria que Tivessem me Contado Antes de Enfrentar as Câmeras" é o livro que o jornalista de 2023 escreveu levando em conta a extensa lista de dúvidas que afligiam o jornalista de 1996. "E foi assim, sem ida ao Brasil, sem meses de treino, sem aula de fonoaudiologia, sem orientação de vestimenta, sem saber sequer como segurar um microfone que comecei minha carreira de repórter televisivo", ele anota nas primeiras páginas.

As sugestões indicadas ao longo de quase 300 páginas resultam de duas décadas e meia de trabalho de Silvestre na Globo. Primeiro como correspondente em Nova York, ao longo de cinco anos; depois, de volta ao Rio de Janeiro, como repórter dos principais telejornais do canal e apresentador do GloboNews Literatura. Foi demitido pela emissora há pouco mais de um ano.

Num "tom de conversa com o leitor", como diz, Silvestre reúne dicas bem práticas para o repórter que está começando na TV ou em vídeos de sites jornalísticos. Comenta os chavões ("a maneira mais garantida de você destruir seu próprio trabalho") e explica como o texto para um meio audiovisual se difere daquele preparado para a imprensa escrita.

No trecho sobre transmissões ao vivo, ele convidou a repórter Zileide Silva, com quem trabalhou na Globo, para dar recomendações.

O autor apresenta sugestões aos repórteres homens sobre como se vestir ("blazer salva tudo, azul-marinho, tá?"). Para as mulheres, contou com colaborações da figurinista Ana Lucia Quintaes ("cuidado com as estampas, que aumentam o volume da pessoa, poluem o visual e roubam a atenção do telespectador. No YouTube, o efeito é mais desastroso ainda").

Mas "Segredos de um Repórter" não é apenas um manual da vida prática. Silvestre também revive memórias profissionais, uma vontade que ganhou impulso depois da morte em 2015 de uma grande amiga, Beatriz Thielmann, também da Globo.

"A Beatriz cobriu a Constituinte [1987 e 1988] e tinha histórias fabulosas de Tancredo Neves, José Sarney, Antonio Carlos Magalhães… Eu dizia a ela para contar tudo em um livro, Beatriz falou que faria isso. Mas aí veio um câncer bravo", ele lembra.

A Constituinte foi o momento de maior impacto da carreira de Thielman. No caso de Silvestre, o equivalente é o 11 de Setembro. "O cara de Valença [referindo-se a si mesmo], filho do dono de um armazém, de repente está no meio do maior atentado terrorista da história", afirma. No livro, o jornalista lembra os instantes em que ele e o repórter-cinematográfico Orlando Moreira se aproximaram do World Trade Center em meio a muita fumaça, sirenes e gente apavorada.

Edney Silvestre, repórter da TV Globo, em uma rua destruída por bombardeios em Basra, no Iraque, em outubro de 2000 - Arquivo pessoal

Também revê a entrevista com José Saramago (1922-2010), realizada em 2007 na ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias, onde o romancista português vivia. "Foi a entrevista que mais me preocupou e também a que me deu mais prazer", diz. Uma entrevista com um Nobel de Literatura deixaria qualquer repórter tenso. No caso de Silvestre, muito ligado ao tema, a ansiedade era ainda mais difícil de controlar.

De qualquer modo, a oportunidade de entrevistar Saramago tinha o peso de um prêmio. Três anos depois, veio outro: Silvestre ganhou o Jabuti pelo seu primeiro livro de ficção, "Se Eu Fechar os Olhos Agora". Depois desse, vieram seis romances e dois volumes de contos.

Atualmente, além dos eventos ligados ao novo livro, Silvestre se dedica à escrita para o teatro. "Quatro Amores e uma Esperança", uma das suas peças, deve estrear em setembro deste ano no Rio.

Segredos de um Repórter - Tudo aquilo que eu gostaria que tivessem me contado antes de enfrentar as câmeras

  • Preço R$ 55
  • Autoria Edney Silvestre
  • Editora Edições 70 - Grupo Almedina
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