Lula diz que 'perdão soaria como impunidade' e que ato do 8/1 marca vitória da democracia

Presidente classificou Bolsonaro como golpista em discurso, e sugeriu renúncia de mandato para quem ainda duvidar das urnas eletrônicas

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Brasília

O presidente Lula (PT) disse nesta segunda-feira (8) que "perdão soaria como impunidade" e que o ato que marca um ano dos ataques golpistas às sedes dos três Poderes, em Brasília, marca a vitória da democracia sobre o autoritarismo.

"Nunca uma caminhada tão curta teve tanto significado na história do nosso país. A coragem de parlamentares, governadores e governadoras, ministros e ministras da Suprema Corte, de Estado, militares legalistas e sobretudo da maioria do povo brasileiro garantiu que nós estivéssemos aqui hoje celebrando a vitória da democracia sobre o autoritarismo", disse.

Lula se referia à caminhada do Palácio do Planalto ao STF (Supremo Tribunal Federal), que reuniu as autoridades no dia seguinte aos ataques. De braços dados, eles atravessaram a praça dos Três Poderes em repúdio ao episódio.

O presidente Lula (PT) em reunião ministerial no Palácio do Planalto. - Evaristo Sá-20.12.2023/AFP

"Todos aqueles que financiaram, planejaram e executaram a tentativa de golpe devem ser exemplarmente punidos. Não há perdão para quem atenta contra a democracia, contra seu país e contra o seu próprio povo. O perdão soaria como impunidade. E a impunidade, como salvo conduto para novos atos terroristas", afirmou ainda o presidente.

As declarações foram feitas durante evento reúne no Congresso Nacional centenas de convidados, entre autoridades e representantes da sociedade civil.

O evento leva o nome da campanha lançada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no ano passado, "Democracia Inabalada", e conta ainda com a presença de governadores e prefeitos.

Em seu discurso, Lula citou diretamente e indiretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem chamou de golpista.

A primeira menção ocorreu em um momento em que o chefe do Executivo narra como estaria o país caso a tentativa de golpe, em 8 de janeiro, tivesse sido bem-sucedida.

"Adversários políticos e autoridades constituídas poderiam ser fuzilados ou enforcados em praça pública – a julgar por aquilo que o ex-presidente golpista pregou em campanha, e seus seguidores tramaram nas redes sociais", disse.

Em outro momento, o mandatário provocou: sugeriu, sem mencionar nomes, que quem duvida das urnas eletrônicas que peça para seu partido renunciar aos seus parlamentares por ela eleitos.

"Se houvesse a possibilidade de falsificar urnas eleitorais, será que eu teria ido tantas vezes para o segundo turno? Seria eleito tantas vezes presidente da República? Será que teríamos conseguido eleger Dilma Rousseff naquela campanha de 2014 num clima de guerra que foi estabelecido nesse país?", questionou.

"As pessoas que duvidam das eleições e da legalidade da urna brasileira, porque não pedem para o seu partido renunciar todos deputados e senadores que foram eleitos? Os três filhos dele que foram eleitos, por que não renunciam em protesto a urna fraudulenta?", questionou.

Lula fez referência aos filhos de Bolsonaro: o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Integrantes da legenda do ex-presidente continuam críticos ao sistema eleitoral, mas por ele foram eleitos e hoje o PL tem as maiores bancadas no Congresso. No Senado, são 12 parlamentares e, na Câmara, 95.

No início de sua fala, Lula usou uma palavra amplamente utilizada por bolsonaristas, inclusive, pelo próprio Bolsonaro: a liberdade. Durante a campanha, o então candidato à reeleição dizia que o que estava em jogo era a liberdade.

"Não há democracia sem liberdade. Mas que ninguém confunda liberdade com permissão para atentar contra a democracia. Liberdade não é uma autorização para espalhar mentiras sobre as vacinas nas redes sociais, o que pode ter levado centenas de milhares de brasileiros à morte por covid", disse Lula, em seu discurso.

O evento, realizado no salão no salão negro do Congresso Nacional, contou com a presença, além de Lula, dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso.

Na abertura do ato, o hino nacional foi cantado pela ministra da Cultura, Margareth Menezes, acompanhada pelo grupo Choro Livre.

Autoridades fizeram uma espécie de reapresentação da tapeçaria de 1973 de Burle Marx após a restauração. Em 8 de janeiro, a obra foi rasgada e suja de urina por vândalos.

Em seguida, Lula, Pacheco e Barroso seguraram um exemplar da Constituição que foi roubado por bolsonaristas. A réplica foi recuperada em janeiro do ano passado e devolvida ao STF pelo ministro Flávio Dino (Justiça).

Um vídeo institucional com imagens da invasão aos prédios dos Três Poderes e da reação das autoridades também foi exibido na cerimônia antes dos discursos.

No dia seguinte aos ataques, Lula conseguiu reunir todos os chefes de executivos estaduais no Planalto, com ministros de estado e do Supremo, num ato de repúdio. Na cerimônia desta segunda, contudo, integrantes da oposição não participam, assim como governadores alinhados a Jair Bolsonaro (PL).

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também não participa. Era previsto que ele até discursasse, mas o deputado cancelou presença alegando problemas de saúde na família.

Um ano atrás, apoiadores do ex-presidente insatisfeitos com a derrota na eleição depredaram as sedes dos três poderes e pediam por intervenção militar. No dia seguinte ao ataque, ocorreram prisões de milhares de golpistas que acampavam em frente ao QG do Exército em Brasília.

Em declaração por vídeo enviada à Folha no último sábado (6), Lula relembrou ataques golpistas do ano passado e disse que rechaçou decretar a GLO (Garantia da Lei e da Ordem) para não terceirizar aos militares o comando de uma crise que, segundo ele, deveria ser resolvida na política.

"Nas conversas que eu tive com o ministro Flávio Dino, e foram muitas conversas, dentre várias coisas que ele me falou, ele aventou que uma das possibilidades era fazer GLO. E eu disse ao ministro Flávio Dino que não teria GLO. Eu não faria GLO porque quem quiser o poder que dispute as eleições e ganhe, como eu ganhei as eleições", afirmou.

"Por que eu, com oito dias de governo, iria dar para outras pessoas o poder de resolver uma crise que eu achava que tinha que resolver na política? E foi resolvida na política."

Segundo aliados do mandatário, houve no governo quem defendesse o decreto de GLO para tentar dar fim às cenas de vandalismo em Brasília. A avaliação de autoridades naquele dia era que as forças de segurança do Distrito Federal, como a Polícia Militar, não estavam agindo para conter os manifestantes.

Havia ainda um clima de desconfiança muito grande em relação aos militares, devido à associação dos fardados com o governo anterior. No lugar da GLO, Lula optou por uma intervenção na segurança pública do Distrito Federal.

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