Barroso cita 'falsos patriotas' e prega pacificação no aniversário de um ano do 8/1

Cerimônia teve presença da ex-presidente da corte Rosa Weber e ausência de Kassio, Mendonça, Toffoli e Fux

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Brasília

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, citou "falsos patriotas" e "aprendizes de terroristas" ao criticar os responsáveis por atos golpistas, mas discursou em defesa de pacificação em evento no aniversário de um ano dos ataques de 8/1.

O STF inaugurou nesta segunda-feira (8) uma exposição a respeito do tema em cerimônia com os ministros e com a ex-presidente da corte Rosa Weber, que se aposentou em setembro do ano passado.

O prédio do Supremo foi o que sofreu mais danos entre os três Poderes com os ataques, e Rosa presidia o tribunal durante o período. A corte estima os custos da destruição em cerca de R$ 12 milhões.

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, junto do presidente Lula (PT) em ato de aniversário dos ataques de 8 de janeiro, em Brasília
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, junto do presidente Lula (PT) em ato de aniversário dos ataques de 8 de janeiro, em Brasília - Gabriela Biló/Folhapress

Em seu discurso, Barroso afirmou que o objetivo da cerimônia era "manter viva a memória desse episódio que remete ao país que não queremos".

"O país a intolerância, do desrespeito ao resultado eleitoral, da violência destrutiva contra as instituições. Um Brasil que não se parece com o Brasil", declarou.

Ele também defendeu o que chamou de "verdadeira pacificação da sociedade, em que pessoas que pensam de maneira diferente possam se sentar à mesma mesa e conversarem, com respeito e consideração, sem ofensas ou desqualificações".

No evento, o presidente do STF também criticou os golpistas que participaram e insuflaram os ataques.

"Numa espécie de alucinação coletiva, milhares de pessoas, aparentemente comuns, insufladas por falsidades, teorias conspiratórias, sentimentos antidemocráticos e rancor foram transformadas em criminosos, aprendizes de terroristas", disse.

Além de Barroso, participaram do ato os ministros Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Cristiano Zanin e Gilmar Mendes. Também estavam os ministros aposentados Ayres Britto e Ricardo Lewandowski, além de Rosa.

Os ministros Luiz Fux, Dias Toffoli, André Mendonça e Kassio Nunes Marques não compareceram.

O evento de inauguração da exposição se passou em três ambientes da corte. A abertura aconteceu em um salão chamado Hall dos Bustos, onde ficam expostas estátuas de juristas e que foi invadido pelos golpistas em 8 de janeiro passado.

Barroso abriu a cerimônia em frente a um busto da Justiça, que foi derrubado durante os ataques ao prédio.

Em seguida, os ministros e as autoridades presentes seguiram para o plenário da corte, onde assistiram a um vídeo. Por fim, estiveram no salão branco do Supremo, que é a principal entrada de autoridades no edifício.

O discurso de Barroso foi feito no plenário do STF, onde também discursou a ministra aposentada Rosa Weber.

"O 8 de janeiro de 2023 se consolida como uma marca indelével na democracia constitucional do nosso país, pelo ataque sofrido numa investida autoritária espúria, obscurantista e ultrajante insuflada pelo ódio e pela coragem da ignorância contra as instituições democráticas", disse Rosa.

Ela destacou, em seu discurso, a reação das instituições às depredações. "A autoridade das instituições democráticas não está no prédio, apesar da simbologia, e sim no espírito que as anima", disse.

Rosa voltou a mencionar o 8 de janeiro como "dia da infâmia", mas acrescentou que também é o "dia da resistência da democracia constitucional". Ao fim da fala, ela foi aplaudida de pé pelos presentes.

Depois da inauguração, Barroso e os ministros seguiram para o Congresso, onde um evento também em alusão ao 8 de Janeiro será realizado com o presidente da República, Lula (PT), e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também tinha sua participação prevista no Senado, inclusive com discurso. Mas ele avisou que não vai comparecer e alegou problemas de saúde da família.

A exposição do STF se chama "Após o 8 de janeiro: reconstrução, memória e democracia".

Segundo o tribunal, a intenção é mostrar "cenas que simbolizam tanto a resistência do STF diante da retomada das atividades da Casa, com base na previsão constitucional de funcionamento do órgão de cúpula do Judiciário nacional, quanto os esforços das equipes envolvidas na reconstrução e restauração do patrimônio do Supremo".

A exposição será aberta ao público nesta terça-feira (9), das 13h às 17h, no térreo do edifício-sede.

Em recente entrevista à Folha, Barroso defendeu as punições aos envolvidos nos ataques.

"No momento que os fatos acontecem, as pessoas têm uma reação muito indignada e querem uma punição exacerbada, mas na medida em que o tempo vai passando, essa reação vai diminuindo e as pessoas começam a ficar com pena", disse ele.

O presidente do STF disse que o país foi tomado por uma espécie de "fúria assassina", em que se misturava a violência, a agressão e uma falsa religiosidade, porque "as pessoas rezavam ao mesmo tempo em que destruíram".

"O que aconteceu foi inimaginável, em todos os sentidos, e uma combinação de tantas coisas ruins que ninguém foi capaz de prever ou não tomou nenhuma providência, o que é mais grave ainda, uma falha dramática da inteligência", disse Barroso.

Relator das ações do 8 de janeiro no STF, Alexandre de Moraes catalogou que desde os ataques proferiu 6.204 decisões no âmbito das investigações sobre a invasão e destruição das sedes dos três Poderes em 8 de janeiro de 2023.

Desse total, 255 decisões autorizaram medidas de busca e apreensão realizados pela Polícia Federal em mais de 400 endereços e 350 trataram de quebras de sigilos bancário e telemático.

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