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Marta deixa gestão Nunes após dizer a Lula que aceita ser vice de Boulos

Prefeito se reuniu com agora ex-secretária municipal e emitiu nota em que afirma que saída foi em comum acordo

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São Paulo e Brasília

A ex-prefeita Marta Suplicy deixou a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) nesta terça-feira (9) em um movimento para voltar ao PT e ser vice de Guilherme Boulos (PSOL) na eleição municipal em São Paulo.

Na segunda-feira (8), Marta indicou ao presidente Lula (PT) que aceita ser a vice de Boulos, fato que, segundo aliados de Nunes, tornou insustentável sua permanência à frente da Secretaria de Relações Internacionais. A demissão foi confirmada no início da noite desta terça, após uma reunião entre ela e o emedebista na prefeitura.

No encontro, Marta entregou a Nunes uma carta de demissão em que ela diz que a saída foi de comum acordo e que seguirá "caminhos coerentes" com sua trajetória.

A prefeitura também divulgou nota na qual afirmou que "ficou decidido, em comum acordo, que ela deixa suas funções na Secretaria de Relações Internacionais".

O informe sobre a demissão diz que Nunes chamou Marta "para esclarecer as informações veiculadas na imprensa". O texto, sucinto, não tem agradecimentos à agora ex-secretária.

A ex-prefeita Marta Suplicy durante entrevista, em 2023 - Bruno Santos - 26.jan.23/Folhapress

Nunes, que é pré-candidato à reeleição, e Marta se reuniram por cerca de duas horas. Ela saiu sem falar com jornalistas e não comentou o assunto. O secretário de Governo, Edson Aparecido (MDB), e o marido da ex-prefeita, Márcio Toledo, também participaram do encontro.

"Como em outras passagens de minha vida pública seguirei caminhos coerentes com minha trajetória, princípios e valores que nortearam toda a minha vida pública e que proporcionaram construir o legado que me trouxe até aqui", afirmou a ex-prefeita na carta.

A possibilidade de que Marta voltasse ao PT para ser vice de Boulos foi revelada pela Folha em novembro. A expectativa é que ela se encontre com o deputado do PSOL ainda nesta semana, provavelmente na quinta-feira (11).

Na carta de demissão, Marta citou Bruno Covas (PSDB), prefeito que morreu em 2021 e que ela apoiou na campanha no ano anterior, e diz que foi acolhida tanto pela equipe dele quanto pela de Nunes.

"Neste momento em que o cenário político de nossa cidade prenuncia uma nova conjuntura, diferente daquela que, em janeiro de 2021, tive a honra de ser convidada por Bruno Covas para assumir a Secretaria Municipal de Relações Internacionais, encaminho, nesta data, de comum acordo, meu pedido de demissão."

Na carta, Marta enumerou uma série de projetos e iniciativas que coordenou na secretaria e também faz agradecimentos à própria equipe. Ela encerra com um "muito obrigada!" e sua assinatura.

Na reunião, o prefeito expôs a Marta seu incômodo por ter ficado durante 15 dias sabendo apenas pela imprensa e não por ela das articulações da ex-prefeita para voltar ao PT. Não houve brigas, e o clima foi tranquilo, segundo os participantes.

Ainda de acordo com relatos, Marta propôs divulgar apenas na quarta-feira (10) sua carta de demissão, mas o prefeito queria que a situação fosse resolvida nesta terça, demitindo-a. Marta teria argumentado que isso seria ruim para sua trajetória, e Nunes, então, sugeriu que a demissão fosse em comum acordo, como acabou sendo divulgado nos comunicados à imprensa de ambos.

Participantes afirmam que Marta não entrou em detalhes sobre o PT e tampouco mencionou Boulos, mas falou sobre o campo democrático ao justificar sua saída, numa referência à aliança entre Nunes e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem ela se opõe. Toledo teria ponderado que seria natural, pela biografia de Marta, sua volta ao PT.

Nunes, então, teria dito que não havia novidade no apoio de Bolsonaro a ele, e que eles inclusive já haviam almoçado naquela sala e dado entrevista juntos.

Pela manhã, Nunes ainda resistia em demitir Marta, mas mudou de ideia depois que um aliado dele soube que a conversa dela com Lula estava avançada e que assessores do petista tratavam a questão da vice de Boulos como resolvida.

Segundo um integrante da prefeitura, Nunes também ficou sabendo que Marta já tinha redigido uma carta de demissão. Pesou ainda a própria notícia de que Marta disse a Lula que topava ser vice, mas antes precisaria conversar com Nunes para informar sua saída.

Apesar de a prefeitura e de Marta terem divulgado que a demissão foi em comum acordo, aliados do prefeito consideram que ela foi demitida, já que Nunes foi quem tomou a iniciativa de chamá-la nesta terça. A carta de demissão de Marta, inclusive, tinha data de quarta-feira.

Diante das evidências de que de fato, a secretária estava planejando migrar para a campanha de Boulos pelas suas costas, Nunes ficou profundamente magoado e perdeu a confiança nela, segundo aliados dele.

Segundo interlocutores da ex-prefeita, um vídeo divulgado no fim de dezembro em que Nunes diz querer o apoio de Bolsonaro deu a oportunidade para que ela, que sempre fez oposição ao bolsonarismo, abandonasse o emedebista.

No entorno de Nunes, porém, a atitude de Marta foi considerada uma traição. Mais cedo, em entrevista à Folha, o prefeito afirmou não haver fato novo que justificasse a aliança dela com Boulos e ressaltou a relação de amizade entre ele e a agora ex-secretária.

De acordo com pessoas que obtiveram relatos da conversa de Marta com Lula, ficou implícito o fato de que, caso confirme o ingresso na chapa de Boulos, Marta não fará ataques à atual gestão da prefeitura, até por ter participado dela até agora.

Isso ficará a cargo do candidato do PSOL. Ela direcionará seu foco para elencar feitos de sua gestão na cidade, de 2001 a 2004.

Antes do Natal, Lula já tinha ligado para Marta sinalizando o desejo de que ela se filiasse ao PT para integrar a chapa de Boulos. Na segunda, a ex-prefeita, depois da reunião com o presidente em Brasília, participou da cerimônia alusiva ao aniversário de um ano dos ataques de 8 de janeiro.

O plano do PT agora é fazer um ato festivo para a filiação de Marta, com a presença de Lula e Boulos. As costuras para a chapa têm sido intermediadas pelo deputado federal Rui Falcão, ex-presidente do partido.

A intenção é passar uma borracha em mágoas do passado e entusiasmar a militância a acolhê-la mesmo após o traumático rompimento, que incluiu voto da então senadora pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT).

A pré-campanha de Boulos, oficialmente, diz que não está envolvida nas tratativas e reitera que, pelo acordo costurado com a legenda de Lula, a vice será oferecida ao PT.

Boulos reforçou nas últimas semanas elogios à gestão da ex-prefeita, com quem nunca teve uma relação de proximidade.

Aliados consideram positiva a dobradinha e avaliam que ela fortalecerá a chapa encabeçada pelo psolista. Marta tem bom trânsito em setores de centro e de direita, o que representará um ativo para Boulos.

A ex-prefeita foi um dos principais nomes do PT, tendo sido eleita para a prefeitura em 2000. Ela acabou sendo derrotada por José Serra (PSDB) na tentativa de se reeleger, em 2004. Disputou o comando da capital paulista outras duas vezes, em 2008 e 2016, mas não conseguiu voltar ao posto.

Após ter sido ministra do Turismo no segundo mandato de Lula na Presidência, se eleger para o Senado em 2010 e ser ministra da Cultura do primeiro mandato de Dilma, Marta rompeu com o PT e deixou a sigla em 2015. No ano seguinte, 2016, votou a favor do impeachment da petista.

Marta passou pelo MDB e Solidariedade e está, atualmente, sem partido. Ela chegou à Secretaria Municipal de Relações Internacionais depois de se engajar na campanha de Bruno Covas (PSDB) em 2020.

A ex-prefeita se reaproximou de Lula e do PT a partir de 2019 e, na campanha de 2022 chegou a ser cogitada para a vice do na chapa presidencial do petista, antes da bem-sucedida articulação com Alckmin. No segundo turno, atuou para consumação do apoio de Simone Tebet a Lula.

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