Nunes diz que não há fato novo para justificar Marta com Boulos

Emedebistas dizem que sentimento é de traição; prefeito marca reunião com secretária

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São Paulo

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), disse à Folha, nesta terça-feira (9), não ver um fato novo que justifique a saída de Marta Suplicy, secretária de Relações Internacionais, do seu governo e afirma que só lhe cabe aguardar neste momento.

O prefeito chegou a dizer que não fazia seu estilo demitir a secretária, mas, horas mais tarde, tomou a decisão de chamá-la para uma reunião às 17h e demiti-la em comum acordo com ela. A decisão veio após a notícia de que Marta indicou ao presidente Lula (PT) que aceita ser vice na chapa de Guilherme Boulos (PSOL) à Prefeitura de São Paulo.

Nunes pontua que sempre deixou claro que queria ter o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em sua campanha à reeleição neste ano —a aliança com o bolsonarismo é a razão que afasta Marta do seu palanque, de acordo com petistas.

"Não tem um fato novo, eu sempre falei de forma transparente do apoio do ex-presidente. Isso foi amadurecendo. Não é algo que apareceu agora, já é público para todo mundo", disse Nunes à Folha nesta terça, enumerando seus encontros com Bolsonaro ao longo do ano passado.

Marta Suplicy e o prefeito Ricardo Nunes na festa de aniversário da ex-prefeita, em São Paulo - Mathilde Missioneiro - 18.mar.23/Divulgação

Marta se encontrou nesta segunda-feira (8) com Lula no Palácio do Planalto, ocasião em que o presidente formalizou o pedido para que ela retorne ao PT e seja vice na chapa de Boulos. A possibilidade de que Marta voltasse ao PT para ser vice de Boulos foi revelada pela Folha em novembro.

Segundo aliados, Nunes ficou contrariado por ter sabido pela imprensa desse encontro e recebeu evidências de que, de fato, Marta estava planejando migrar para a campanha de Boulos pelas suas costas.

Auxiliares do prefeito dizem ainda que a situação tem que ser resolvida nesta terça e que Nunes ficou magoado e perdeu a confiança em Marta. Para eles, está nítido que o emedebista foi traído pela secretária.

Questionado anteriormente pela reportagem sobre a possível saída de Marta, Nunes disse que não acreditava que isso iria acontecer. "Pode até acontecer, mas eu sinceramente não consigo ver isso. Temos uma relação muito boa, de amizade. A Marta é minha conselheira", afirmou.

"O que me cabe é aguardar", completou.

Como mostrou a coluna Painel, auxiliares de Nunes se incomodam com o silêncio da secretária durante todo o processo de negociação com o PT.

"Ela não falou comigo em nenhum momento. Não ligou, não mandou mensagem. Então, estou aguardando ela voltar de férias para conversar. Se tivesse alguma coisa, ela teria me dito", completou o prefeito.

Nunes tinha afirmado ainda que "não faria seu estilo" demitir Marta —há críticas de que o prefeito deveria ter dispensado a ex-prefeita assim que os rumores sobre ser vice de Boulos tiveram início.

"Não é meu estilo mandar embora se não faz do meu jeito. Ela apoiou Lula em 2022, e o candidato dele aqui é o Boulos. Eu nunca questionei isso, nunca questionei que ela fez campanha para Lula. Eu gosto dela, tenho carinho por ela, admiro ela", disse.

Questionado pela Folha se ele teria trocado Marta por Bolsonaro no palanque, Nunes disse que haveria espaço para todos. "Sempre deixei claro que era importante ter a união do centro e da direita. O exercício verdadeiro da democracia é dialogar com todo mundo. Eu tive boa relação com o governo Bolsonaro e tenho boa relação com o governo Lula."

De acordo com petistas que acompanham o movimento de Marta em direção a Boulos, dois fatos ocorridos no fim do mês passado abriram caminho para a saída dela da prefeitura —o vídeo divulgado por Nunes em que ele pede apoio de Bolsonaro e a declaração do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, de que o partido e o ex-presidente apoiam o prefeito.

Aliados do prefeito reforçam a avaliação de que a mudança de lado de Marta não se justifica politicamente e lembram que ela, apesar de não ver com entusiasmo a aliança com Bolsonaro, sabia que esse apoio era importante do ponto de vista de estratégia eleitoral para conquistar os votos da direita e derrotar Boulos.

No encontro com Lula, Marta indicou que antes de qualquer anúncio quer conversar com Nunes e informar sua saída. Ela foi aconselhada a resolver a situação ainda durante suas férias, que começaram em meio às negociações para retornar ao antigo partido.

De acordo com pessoas que obtiveram relatos da conversa de Marta com Lula, ficou implícito o fato de que, caso confirme o ingresso na chapa de Boulos, Marta não fará ataques à atual gestão, até por participar dela até o momento.

A ex-prefeita foi um dos principais nomes do PT, tendo sido eleita para a prefeitura em 2000. Ela acabou sendo derrotada por José Serra (PSDB) na tentativa de se reeleger, em 2004. Disputou o comando da capital paulista outras duas vezes, em 2008 e 2016, mas não conseguiu voltar ao posto.

Após ter sido ministra do Turismo no segundo mandato de Lula na Presidência, se eleger para o Senado em 2010 e ser ministra da Cultura do primeiro mandato de Dilma Rousseff, Marta rompeu com o PT e deixou a sigla em 2015. No ano seguinte, 2016, votou a favor do impeachment da petista.

Marta passou pelo MDB e Solidariedade e está, atualmente, sem partido. Ela chegou à Secretaria Municipal de Relações Internacionais depois de se engajar na campanha de Bruno Covas (PSDB) em 2020.

A ex-prefeita se reaproximou de Lula e do PT a partir de 2019 e, na campanha de 2022 chegou a ser cogitada para a vice do na chapa presidencial do petista, antes da bem-sucedida articulação com Alckmin. No segundo turno, atuou para consumação do apoio de Simone Tebet a Lula.

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