Descrição de chapéu MST, 40 anos

Reforma agrária, invasões, massacre de Carajás, CPI; veja a trajetória de 40 anos do MST

Criado em 1984 no Paraná, movimento consolidou reivindicação e se notabilizou com ocupações

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São Paulo

Criado em 1984 na cidade de Cascavel, no Paraná, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) se consolidou na reivindicação da reforma agrária e se notabilizou pela prática de invasões de latifúndios para o assentamento de famílias, que passam a morar e produzir nos locais.

Ao longo de sua história, o movimento sofreu massacres, como o de Eldorado do Carajás (PA), admitiu ter extrapolado em algumas ações –a exemplo da invasão de fazenda da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)–, apoiou o PT, embora com críticas ao partido no que tange à política agrária, e enfrentou período turbulento durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL).

Veja a seguir a cronologia do movimento, desde os primeiros anos de sua articulação.

Pessoas com bandeiras do MST participam de reunião em área externa de Brasília
Grupo participa de terceiro Congresso Nacional do MST, em 1995 - Débora Lerrer/Coletivo de Acervo e Memória MST

Cronologia do MST

Gestação (1979) – Cerca de 110 famílias invadem a fazenda Macali, no município de Ronda Alta, no Rio Grande do Sul. O ato, ocorrido no dia 7 de setembro, é considerado um dos pontos de início da "gestação" do MST.

Ideia de criar o movimento (1982) – Em setembro, seminário da CPT em Goiânia (GO) reúne 22 agentes de pastoral e 30 líderes sem-terra, posseiros, meeiros e arrendatários, de 17 estados. É levantada a ideia da criação de um movimento nacional dos sem-terra, autônomo à Igreja Católica.

Criação (1984) É criado o MST, durante o Primeiro Encontro Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, ocorrido em janeiro, em Cascavel (PR). O evento reúne representantes de 11 estados (RS, SC, PR, SP, MS, ES, BA, PA, GO, RO e AC).

congresso nacional (1985) – Em janeiro, em Curitiba (PR), o MST realiza seu primeiro congresso nacional. Nele, o movimento elege a primeira direção nacional, com 20 integrantes, sendo dois de cada um dos seguintes estados: RS, SC, PR, MS, SP, RJ, ES, MG, BA e RO. Cerca de 1.500 delegados aprovam a palavra de ordem: "Ocupação é a única solução".

Fracasso na Constituinte (1988) – O MST vê o fracasso das propostas de reforma agrária ao fim da Constituinte. No 4º Encontro Nacional, em Piracicaba (SP), é aprovada resolução que visa eleger o maior número possível de militantes nas eleições municipais de novembro.

Repressão no governo Collor (1990) – Em maio, o MST organiza o segundo congresso nacional, em Brasília. É o início do governo Collor, e o movimento começa a sentir a repressão. Cerca de 4.000 delegados, de 20 estados, avaliam que é o momento de deixar o isolamento do campo e buscar apoio nas cidades.

Audiência com Itamar Franco (1993) – Em 2 de fevereiro, representantes do movimento são recebidos por Itamar Franco no Palácio do Planalto, na primeira audiência oficial do MST com um presidente da República.

Congresso Nacional (1995) – Cerca de 5.000 delegados, no terceiro Congresso Nacional do MST, aprovam o lema: "Reforma Agrária, Uma Luta de Todos".

Massacre de Carajás (1996) – Em 17 de abril, 19 trabalhadores rurais ligados ao MST são assassinados por policiais militares durante a desobstrução da rodovia PA-150, em Eldorado do Carajás (PA). O caso tem repercussão internacional, o que fortalece o nome do movimento.

Livro "Terra" (1997) – Em fevereiro, marcha nacional liderada pelos sem-terra leva cerca de 50 mil pessoas a Brasília. Em 17 de abril, dia da chegada da marcha, é lançado o livro "Terra", com fotos de Sebastião Salgado e textos do escritor português José Saramago, acompanhado de uma canção ("Assentamento") de Chico Buarque.

Onda de invasões (1998) – O MST surpreende ao promover uma onda de invasões a prédios públicos e a pressionar não apenas pela desapropriação de terras, mas também por créditos aos novos assentados da reforma agrária.

Período de refluxo (2000) – Em encontro nacional, define-se que a direção nacional do movimento passa a ser dividida igualmente entre homens e mulheres. No mesmo ano, o governo edita medida provisória que impede a desapropriação de áreas invadidas. Por conta disso, o MST entra em refluxo.

Invasão a fazenda de FHC (2002) – Em março, o MST invade fazenda do presidente Fernando Henrique Cardoso, em Buritis (MG). O governo classifica a ação como terrorista e o PT, de olho nas eleições, também condena a investida. No segundo semestre, o MST atua na campanha de eleição de Luiz Inácio Lula da Silva.

CPI da Terra (2003) – O MST aparece no centro da primeira crise do governo petista. Em maio, numa audiência com líderes sem-terra no Planalto, Lula coloca um boné vermelho do movimento, e a oposição o acusa de ser conivente com as invasões de terra. Para investigar o MST, é criada a CPI da Terra.

Uma criança coloca um boné do MST no presidente Lula. Dois homens seguram a bandeira do MST em frente ao corpo de Lula
Lula recebe bandeira e boné do MST - João Wainer/Folhapress

Recorde de invasões (2004) – No fim de março, o coordenador nacional do MST, João Pedro Stedile, declara que "abril vai ser o mês vermelho", numa referência às cores do movimento espalhadas em ações pelo país. A promessa é cumprida. Em abril, o governo registra 109 invasões, sendo 79 delas do MST, um recorde de ações num único mês.

Marcha histórica (2005) – Em maio, para pressionar o governo Lula, 15 mil integrantes do movimento percorrem a pé os 200 km entre Goiânia e Brasília, na maior marcha da história do MST. Em agosto, no auge da crise do mensalão, o MST se une a movimentos sindicais e estudantis e sai às ruas contra a iniciativa da oposição de sugerir o impeachment do presidente petista.

Apoio a Lula (2006) – Apesar da lentidão da reforma agrária no primeiro mandato petista, o MST anuncia apoio a Lula no segundo turno, na disputa contra o tucano Geraldo Alckmin. Em artigo publicado na Folha, João Pedro Stedile afirma que "é preciso barrar a direita e derrotar Alckmin".

Homem branco de cabelo branco gesticula com a mão esquerda e segura um microfone com a direita. Na frente dele, há parte da bandeira do MST
João Pedro Stedile, líder do MST, fala durante palestra a membros de movimentos sociais reunidos no acampamento do MST em Brasilia - Lalo de Almeida - 15.abr.16/ Folhapress

Pressão pela reforma (2007) – Após ter poupado Lula durante todo o primeiro mandato, no qual centrou sua pressão na equipe econômica, a cúpula do MST decide mirar seus ataques diretamente no presidente Lula. Um cartaz com a foto do petista é espalhada pelo país: "Por que não sai reforma agrária?".

Carta de Felisburgo (2008) – O MST publica a "Carta de Felisburgo", sobre massacre ocorrido em 2004 na região do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. O documento descreve a situação dos sem-terra e denuncia o uso de terras devolutas repassadas a empresas para o plantio de eucalipto.

Invasão da Cutrale (2009) – O MST invade a fazenda Santo Henrique, da empresa de sucos de laranja Cutrale, na divisa dos municípios de Iaras e Lençóis Paulista, em São Paulo. Lula se refere à ação como vandalismo, e João Pedro Stedile, presidente do MST, chama o mandatário de mal-informado; o movimento admite ter destruído 3.000 pés de laranja, mas diz que acusações sobre depredação eram armação.

Redução de assentamentos (2010) – O último ano do segundo mandato do governo Lula é marcado pela redução do número de famílias assentadas e do número de hectares voltados à reforma agrária.

Ocupação do Ministério do Desenvolvimento Agrário (2012) – O MST ocupa, em abril, o Ministério do Desenvolvimento Agrário. A reivindicação é por mais assentamentos e punição aos culpados pelo Massacre de Eldorado do Carajás, ocorrido em 1996. O movimento afirma que o ano é o pior para assentamentos desde 1995.

Críticas a Dilma Rousseff (2014) – Lideranças do MST divulgam carta com críticas ao governo de Dilma Rousseff (PT) sobre a política agrária. A carta é entregue à presidente um dia após 30 manifestantes ficarem feridos depois de confronto com a polícia durante marcha que reuniu cerca de 15 mil pessoas em Brasília.

Aumento de invasões (2015) – O MST aumenta o número de invasões. Exemplos são manifestação com mais de mil mulheres que destruíram mudas transgênicas em uma fábrica de papel e celulose em Itapetininga (SP), e no Ministério da Agricultura, em Brasília.

Protestos contra impeachment (2016) – No dia 26 de abril, o MST organiza protestos em ao menos sete estados contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e a favor da reforma agrária. No ano seguinte, o governo de Michel Temer (MDB), visto como golpista pelos manifestantes, não assenta nenhuma família.

Vigília Lula Livre (2018) – O MST participa do Vigília Lula Livre. Organizada por diferentes movimentos populares, a ação acompanhou Lula por 580 dias enquanto ele esteve preso em Curitiba, acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Lula foi solto em 8 de novembro de 2019, depois que o STF entendeu que réus só podem ser detidos quando não houver mais recurso pendente.

Recrudescimento da violência sob Bolsonaro (2019) – O MST reduz invasões no mandato de Jair Bolsonaro, eleito pelo PSL, diante de discurso hostil do então presidente, que prega "receber os invasores de terra à bala". A gestão é marcada pelo aumento de violência contra os sem-terra.

Doação de alimentos (2020) – Na pandemia de Covid-19, o MST interrompe as invasões e inicia campanha nacional de doação de alimentos produzidos nos assentamentos. O movimento diz ter doado mais de 7.000 toneladas de alimentos e 2 milhões de marmitas.

Retomada de invasões (2021) O MST retoma as invasões, que se resumiram a 14 entre 2019 e abril de 2021. O arrefecimento da pandemia é acompanhado por ações em propriedades de São Paulo, Bahia, Rio Grande do Norte e outros estados.

CPI do MST (2023) – De janeiro a abril, o MST ocupa mais de 30 imóveis rurais. Na Câmara dos Deputados, é instalada uma CPI para investigar as ocupações de terras. Na CPI, João Pedro Stedile admite que o movimento errou ao ter invadido uma fazenda da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) no dia 31 de julho. A comissão acabou após 130 dias, sem um relatório final.

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