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Gonet recorre contra decisão de Toffoli de suspender multa de R$ 10,3 bi da J&F

PGR pede que o ministro redistribua o caso a outro magistrado ou que reveja seu posicionamento

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Brasília

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, recorreu contra a decisão liminar (provisória) do ministro Dias Toffoli de suspender o pagamento da multa de R$ 10,3 bilhões prevista no acordo de leniência da J&F, grupo dos irmãos Joesley e Wesley Batista.

O pedido foi enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta segunda-feira (5) e endereçado ao próprio Toffoli.

O chefe do MPF (Ministério Público Federal) defende que o recurso seja redistribuído pelo magistrado a um colega ou, se ele assim não entender, que reveja seu posicionamento. Caso mantenha o decidido, que submeta a controvérsia ao plenário do tribunal, composto por 11 integrantes.

Gonet busca o pleno como alternativa à Segunda Turma, colegiado de cinco integrantes presidido por Toffoli e composto também por Gilmar Mendes, crítico da Lava Jato. Para isso, o PGR argumenta que o pleito da J&F deve tramitar juntamente com uma ação que discute no plenário parâmetros adotados nos acordos de leniência firmados no âmbito da operação.

Paulo Gonet em solenidade de abertura do Ano Judiciário no STF - Pedro Ladeira - 1º.fev.2024/ Folhapress

"A decisão monocrática que suspendeu a pactuação celebrada entre o Ministério Público Federal e a J&F Investimentos S.A. deve ser reformada, dado que o Supremo Tribunal Federal não é competente para deliberar, per saltum, sobre o mérito da questão apresentada pela parte requerente, nem a via escolhida é a adequada para produção de provas e dilação probatória", afirmou Gonet.

O acordo de leniência foi celebrado em 2017 entre a empresa e a Procuradoria da República do Distrito Federal. A pactuação foi homologada pela 10ª Vara Federal Criminal do DF.

A determinação que beneficiou a J&F é de dezembro de 2023. Nela, o ministro também autorizou o grupo empresarial liderado pelos Batistas a ter acesso à íntegra das mensagens da Operação Spoofing, que possui conversas entre procuradores da Lava Jato.

Toffoli é o relator do processo que tramita na corte sobre a referida operação policial. Nos autos desse processo ou em procedimentos conexos, ministros têm tomado uma série de decisões contra atos da Lava Jato. O relator anterior era o ministro Ricardo Lewandowski, que se aposentou e atualmente é ministro da Justiça.

O pedido da J&F foi atuado em procedimento que tramita sob segredo de Justiça no início de novembro passado e não consta no andamento processual informação sobre eventual envio dos autos à PGR para manifestação prévia do órgão.

O grupo alegou que os agentes públicos responsáveis pela condução da Lava Jato em Brasília teriam desvirtuado instrumentos legais de combate.

Disse que teria havido coação para que fosse celebrado o acordo de leniência e que tais circunstâncias configurariam "estado de coisas inconstitucional".

Gonet ressaltou em sua manifestação que o acordo é fruto da Operação Greenfield, originária de investigação sobre rombos nos maiores fundos de pensão do país.

Ele afirmou que reverter a decisão de Toffoli impedirá "grave risco ao sistema previdenciário complementar brasileiro, com vultoso prejuízo especificamente à Funcef e à Petros", em referência ao dois fundos alvos de irregularidades investigadas pela força-tarefa da Greenfield.

"A Operação Greenfield não é um desdobramento da operação Lava Jato, mas trabalho autônomo de procuradores da República, da Polícia Federal e auditores da Previc [Superintendência Nacional de Previdência Complementar], que atuaram em caso sediado no Juízo Federal da 10ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal", afirmou.

"Nessa operação e em seus desdobramentos, sem qualquer relação com a Lava Jato, investigaram-se, entre outros, os executivos vinculados ao grupo econômico controlado pela holding J&F."

O procurador-geral entendeu também descabido o pedido da empresa, deferido por Toffoli, para o acesso aos elementos probatórios angariados no âmbito da Operação Spoofing, com vistas a comprovar supostas irregularidades em seu acordo de leniência, não há de ter êxito.

"Afinal, aqui, os agentes públicos referidos [da Operação Lava Jato] são diferentes dos que entabularam o acordo de leniência [da Operação Greenfield]", afirmou Gonet.

No âmbito do MPF, o conglomerado empresarial dos irmãos Batista vem buscando a revisão do acordo de leniência formalizado em 2017.

Em agosto do ano passado, a 5ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, colegiado que funciona vinculado à PGR e responsável pela homologação dos acordos de leniência, informou ter analisado "um pedido pontual de solução de controvérsia, e não promoveu qualquer repactuação ou revisão".

Antes da 5ª CCR, o Conselho Institucional do MPF também rejeitou um recurso apresentado pela J&F para tentar renegociar os termos da leniência assinado com o MPF em 2017.

A defesa da empresa tentou reduzir o valor de R$ 10,3 bilhões que deve ser pago pela companhia em multas e investimentos em projetos sociais sob a alegação de eventuais falhas na fundamentação jurídica e nas premissas contábeis que serviram de base para que o valor da multa fosse estipulado.

Na semana passada, Toffoli também suspendeu o pagamento de multas decorrentes do acordo de leniência firmado pela Procuradoria no Paraná com a Novonor (antiga Odebrecht).

A decisão é válida até que a holding dona da construtora consiga analisar todo o material relacionado aos diálogos entre integrantes da extinta força-tarefa da Lava Jato.


PEDIDOS DA J&F ANALISADOS POR TOFFOLI

DEFERIDOS

  • Acesso a todo o material colhido na Operação Spoofing, que investigou a ação de hackers e o vazamento de mensagens em aplicativos de conversação trocadas por integrantes da força-tarefa da Lava Jato;
  • A suspensão de todas as obrigações pecuniárias decorrentes do acordo de leniência entabulado entre a J&F e o Ministério Público Federal, incluindo multa de R$ 10 bilhões, até que os advogados do conglomerado analisem os documentos mencionados no item anterior e promovam a revisão, a repactuação ou a revalidação nas instâncias adequadas;
  • A autorização para que representantes da J&F reavaliem junto à CGU (Controladoria-Geral da União) os anexos do acordo de leniência firmado com o MPF para a correção de eventuais abusos praticados, em especial no que se refere à utilização das provas declaradas imprestáveis no processo no STF (Supremo Tribunal Federal), para que, no âmbito da controladoria, sejam considerados apenas anexos com ilicitude reconhecida pela empresa.

INDEFERIDO

  • A suspensão de todos os negócios jurídicos de caráter patrimonial decorrentes da situação "de inconstitucionalidade estrutural e abusiva" em que se desenvolveram a Lava Jato e suas operações conexas Greenfield, Sépsis e Cui Bono —essas relacionadas a fundos de pensão.
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