Descrição de chapéu Folhajus ataque à democracia

Valdemar e Torres destoam de Bolsonaro e generais e falam à PF sobre trama golpista

Alguns dos principais auxiliares do ex-presidente, como o general Braga Netto, optam pelo silêncio

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Brasília

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres destoaram de outros aliados de Jair Bolsonaro (PL) e responderam às perguntas da Polícia Federal durante depoimento nesta quinta-feira (22) referente às investigações sobre os planos discutidos no fim de 2022 para um golpe de Estado contra a eleição de Lula (PT) à Presidência da República.

Valdemar encerrou o depoimento na sede da PF, em Brasília, por volta de 17h15. Segundo a defesa do político, ele "respondeu todas as perguntas que lhe foram feitas". Os advogados, porém, decidiram não fazer comentários sobre as apurações.

O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, que prestou depoimento à PF nesta quinta (22) - Pedro Ladeira - 10.fev.2024/ Folhapress

Anderson Torres seguia prestando esclarecimentos aos investigadores até o início da noite. A decisão do ex-ministro de não silenciar diante da PF já havia sido anunciada pela defesa.

"[Anderson] reafirma, assim, sua disposição para cooperar com as investigações e esclarecer toda e qualquer dúvida que houver, pois é o maior interessado na apuração isenta dos fatos", disse o advogado Eumar Novacki.

Bolsonaro e os oficiais-generais Braga Netto, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Almir Garnier ficaram em silêncio.

Assessor para assuntos internacionais de Bolsonaro, Filipe Martins chegou a negar à Polícia Federal que tenha entregado uma minuta de decreto golpista para o ex-presidente. Ele, porém, não respondeu às perguntas dos investigadores.

"Aguardamos agora a decisão referente ao requerimento de revogação da prisão preventiva, pontuando que essa só deve persistir em casos excepcionalíssimos, quando a liberdade em si for um risco, o que demonstrado não ser o caso de Filipe, sob pena de a medida se transmutar em cumprimento antecipado de uma eventual e absolutamente incerta pena", escreveram em nota os advogados João Vinícius Manssur, William Iliadis Janssen e Ricardo Scheffer.

Também apresentaram esclarecimentos o coronel Bernardo Romão Correa Neto, que está preso, e o assessor de Bolsonaro Tércio Arnaud, que respondeu a cerca de 150 perguntas dos investigadores. Os depoimentos dos dois duraram pouco menos de seis horas.

O coronel da reserva Marcelo Camara, auxiliar do ex-presidente, acabou não depondo. Ele tem os mesmos advogados de Tércio, e o depoimento deveria ter começado enquanto seus defensores ainda estavam auxiliando o outro investigado na oitiva.

Camara ficou, portanto, sem advogados para o auxiliar no depoimento. A Polícia Federal considerou o caso como uma opção do militar pelo silêncio e não o chamará para depor novamente.

As defesas dos investigados que se mantiveram calados alegam que não tiveram acesso à íntegra dos documentos apreendidos pela Polícia Federal, como os anexos da delação do tenente-coronel Mauro Cid.

Advogados do ex-presidente pediram três vezes ao STF (Supremo Tribunal Federal) para adiar a data da oitiva de Bolsonaro. O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, negou os três pedidos.

Bolsonaro chegou à sede da PF em Brasília por volta das 14h20. O depoimento estava previsto para começar às 14h30. Com a decisão de Bolsonaro de se manter em silêncio, o depoimento foi encerrado pouco depois. Ex-ministros, ex-assessores, militares e aliados também foram intimados a prestar esclarecimentos à PF no mesmo horário. No total, 23 pessoas. Só em Brasília, 13.

O advogado de Bolsonaro, Paulo Bueno, disse nesta quinta que a defesa não teve acesso a todos os elementos das imputações contra o ex-presidente, o que motivou a opção pelo silêncio. Ele também afirmou que Bolsonaro nunca foi simpático a movimento golpista.

"O presidente fez o silêncio, como a defesa antecipou. Esse silêncio, quero deixar claro, não é simplesmente o uso do direito constitucional, mas estratégia baseada no fato de que a defesa não teve acesso a todos os elementos que estão sendo imputados ao presidente a prática de certos delitos."

A PF investiga as tratativas por um golpe de Estado desde que encontrou na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, em janeiro de 2023, uma minuta de decreto para Bolsonaro instaurar estado de defesa na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O objetivo seria reverter o resultado da eleição, segundo os investigadores.

Com a delação de Mauro Cid e as provas obtidas em outras operações, a PF chegou à conclusão de que Bolsonaro teve acesso a versões da minuta golpista (não exatamente a mesma que estava com Torres).

De acordo com as investigações, ele chegou a pedir modificações no texto e apresentar a proposta aos chefes militares, para sondar um possível apoio das Forças Armadas à empreitada.

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