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Boulos e Tabata prometem paridade, e Nunes enaltece mulheres hoje na prefeitura

Principal aliado de candidato do PSOL, Lula reduziu participação de mulheres em seu ministério e no STF

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São Paulo

Os principais pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo usaram os eventos desta sexta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, para tratar do tema e foram questionados sobre como avançar na diversidade de gênero na capital paulista.

Atualmente, a prefeitura tem 35 secretarias, incluindo as especiais e executivas, sendo que 9 (26%) são chefiadas por mulheres.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, disse que o governo tem "bastante mulheres". Já os deputados federais Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB) prometeram ter o mesmo número de mulheres e de homens em seus secretariados, caso sejam eleitos em outubro.

O deputado Guilherme Boulos (PSOL), o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e a deputada Tabata Amaral (PSB)
O deputado Guilherme Boulos (PSOL), o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e a deputada Tabata Amaral (PSB) - Marlene Bergamo/Folhapress

Principal aliado de Boulos, o presidente Lula (PT) é alvo de críticas justamente por ter reduzido a participação de mulheres em seu ministério e no STF (Supremo Tribunal Federal) desde que assumiu o mandato.

Boulos, que tem como pré-candidata a vice em sua chapa a ex-prefeita Marta Suplicy (PT), participou de um café da manhã com mais de 250 mulheres nesta sexta, em um clube na avenida Paulista, entre empresárias, ambulantes, artistas, professoras e líderes comunitárias.

Questionado a respeito dessa contradição, Boulos afirmou que "Lula não assumiu esse compromisso na campanha". "Ele avaliou que, pelo grau de aliança política [...] que um governo de coalizão exige, sobretudo em Brasília, pela composição do Congresso Nacional, ele não conseguiria fazer e, por isso, não se comprometeu. Eu estou me comprometendo."

"As condições para governabilidade na cidade de São Paulo e o nível de concessão que você tem que fazer na montagem do secretariado é muito diferente do cenário nacional. Lula não assumiu porque avaliou legitimamente que não conseguiria cumprir, nós avaliamos que vamos conseguir", completou.

Em seu discurso, Boulos citou Lula apenas uma vez, lembrando da aprovação da lei federal de igualdade de salários entre homens e mulheres. Se eleito, o psolista diz que vai trabalhar para que "a lei pegue" em São Paulo.

O deputado e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, em café da manhã com mulheres em clube de SP
O deputado e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, em café da manhã com mulheres em clube de SP - Danilo Verpa/Folhapress

Também em café da manhã com mulheres, Tabata afirmou que os demais pré-candidatos devem ser cobrados a assumir esse compromisso com as mulheres e defendeu a paridade de gênero nos conselhos das empresas municipais e a recriação da Secretaria das Mulheres. "Tem que fazer aqui para dar o exemplo."

Ela também afirmou que não se pode aceitar nas próximas eleições que menos da metade das candidaturas seja de mulheres ou negros. Disse que as políticas públicas para a cidade precisam atravessar as questões de gênero.

Já Nunes programou um dia voltado a eventos focados no Dia da Mulher, com inaugurações de equipamentos voltados a esse público. No primeiro, na entrega de uma casa de acolhimento para mulheres idosas na zona norte, ele foi questionado pela Folha sobre falta de paridade no governo, que tem cerca de um quarto de secretárias mulheres.

"Do governo, a gente tem a alegria, tenho várias mulheres como secretárias", disse, aproveitando para anunciar a nomeação de Cissa Santos na Assistência Social, para substituir Carlos Bezerra Jr., que sairá do cargo para concorrer a vereador. Cissa é a atual chefe de gabinete da pasta.

O prefeito citou número de mais da metade de mulheres em um recorte de diversos tipos de cargos de chefia. "Você vê, 53% de mulheres na alta gestão, presidentes de empresa, secretárias, secretárias adjuntas. Enfim, é motivo de bastante orgulho para nós", disse.

De acordo com esse recorte, de 1.610 cargos de chefia, direção e coordenação, 851 são chefiados por mulheres, enquanto 759 por homens.

Nunes ainda foi questionado pela Folha sobre a aliança com Jair Bolsonaro (PL), conhecido por frases misóginas, mas disse que a conduta dele é que tem que ser avaliada.

"O candidato sou eu. Eu e os demais que vão concorrer comigo. A análise tem que ser da pessoa, do candidato", disse Nunes. "Não é possível que a população de São Paulo não vai poder discutir a eleição de 2024."

Durante o evento, o prefeito ainda elogiou o secretário de Relações Internacionais, Aldo Rebelo, cotado para a vaga de vice. Apesar disso, afirmou que seu companheiro de chapa segue indefinido.

Boulos x Tabata

Nesta sexta, Boulos foi questionado ainda sobre a crítica que Tabata fez a ele por tê-la excluído em um post que citava a intenção de votos de pré-candidatos adversários.

"Não vou ficar entrando em bate-boca de internet, não me cabe isso. A Justiça Eleitoral definiu, eu cumpro ordem judicial, foi retirada a postagem, meu respeito pela Tabata continua o mesmo", disse ele, justificando que a postagem inclui apenas nomes alinhados com Bolsonaro, o que não era o caso dela.

Boulos disse que não há, da sua parte, um pacto de não agressão com Tabata, mas evitou criticá-la e voltou-se contra Nunes.

"Eu tenho maior respeito pela Tabata, acho que a pré-candidatura dela contribui para a qualificação do processo eleitoral. Nós vemos o prefeito fazendo ataques de baixo nível todos os dias. [...] Ela faz parte de um campo político democrático e vai expressar isso no processo eleitoral", completou.

Já Tabata, quando falava sobre machismo e invisibilização das mulheres, se referiu ao post de Boulos como um crime eleitoral. "Tira a mulher, é o caminho mais rápido", disse.

Em entrevista a jornalistas, a deputada foi questionada se o caso representava um episódio de machismo. Ela respondeu que não sabe qual foi a motivação de Boulos e da equipe, e reforçou que o ocorrido foi um crime eleitoral. "A Justiça reconheceu isso e determinou que ele retire o post", afirmou.

A deputada federal Tabata Amaral (PSB), pré-candidata à Prefeitura de SP, durante café com jornalistas - Karime Xavier/Folhapress

Tabata e aborto

Questionada pela Folha sobre seu posicionamento contrário à ampliação do direito ao aborto, Tabata respondeu que sua posição é válida e também tem que ser ouvida. "A luta para que tenha mais mulheres em espaços de poder não deveria ser uma luta para ter mulheres que pensam igualzinho a gente", disse.

A deputada afirmou ainda que a luta das mulheres não pode ser reduzida a uma única questão e que o aborto não é um tema municipal. "Acho um pouco triste, tendo oportunidade de falar sobre a cidade de São Paulo, que a gente sempre volte na polêmica. Quero ser ouvida sobre tudo, não apenas questões sobre mulheres", disse.

Questionada sobre frase misógina do apresentador José Luiz Datena (PSB), apontado como seu vice, Tabata respondeu que esse "não é um projeto construído por pessoas que pensam igual". "Queremos boas ideias, boas pessoas da esquerda à direita", disse.

Durante o evento, Tabata elogiou as duas prefeitas anteriores de São Paulo: Luiza Erundina (PSOL) e Marta Suplicy (PT), vice na chapa de Boulos. Ela afirmou que a cidade tinha uma foto antes e outra depois da gestão Marta, e citou os CEUs (Centros Educacionais Unificados) como um oásis no "meio da selva de pedra".

"Eu quero tirar uma foto de cima e que o resultado seja diferente. Tem tempo que a gente não tem nada que mude a foto da cidade, nada estruturante", disse.

Questionada pela imprensa sobre o que se lembrava da administração Marta, Tabata reagiu mal, avaliando que havia um julgamento na pergunta relacionado à sua idade. A deputada é frequentemente tratada pelos críticos como alguém sem experiência para comandar a prefeitura.

"Tenho lembrança, mas não acho que é isso que importa. O que importa é eu ter essas duas mulheres me recebendo e reconhecendo que esse projeto é bom para a cidade, me ajudando e compartilhando conhecimento comigo", respondeu. "Se a gente for entrar nessa coisa de idade, idade resolve o quê? Se ser mais velho fosse garantia de algo positivo, Brasil seria o primeiro país do mundo."

Lula e Boulos

Com buffet da chef Bel Coelho, o evento com Boulos teve a presença de deputados como Rui Falcão (PT), Eduardo Suplicy (PT), Ediane Maria (PSOL), Marina Helou (Rede), além da chef Bela Gil e de Ana Estela Haddad (PT). O café da manhã atrasou e houve reclamação de convidadas por causa da demora.

Exercendo seu primeiro mandato como deputado federal, Boulos tem em seu gabinete 16 assessores, sendo 7 mulheres e 9 homens.

Já Lula iniciou o mandato com 37 ministros —26 homens e 11 mulheres. Atualmente, Lula tem 38 ministérios, e a participação feminina caiu de 11 para 9 para que o presidente acomodasse partidos do centrão, como PP e Republicanos, na Esplanada.

No STF, Lula tampouco preservou a representatividade feminina, que já era desigual —entre 11 ministros, havia 2 mulheres. Nas duas oportunidades que teve, o presidente indicou homens, mesmo para substituir a vaga de Rosa Weber, tornando Cármen Lúcia a única mulher hoje na corte.

"A gente não precisa ficar observando tudo que Lula faz para se basear na nossa campanha aqui", diz à Folha a economista Camila de Caso, uma das coordenadoras do programa de governo de Boulos.

"Acho que ele tem uma série de medidas que vai precisar tomar, está fazendo um excelente governo e, inclusive, tem avançado na pauta das mulheres em outros âmbitos. Mas a gente está olhando muito mais para a cidade de São Paulo", acrescenta, ressaltando a desigualdade de gênero no secretariado de Nunes.

Questionada pela Folha, Camila evita mencionar nomes de mulheres que possam vir a compor o eventual secretariado de Boulos. "A gente não definiu isso. Nem de mulheres, nem de homens, nem de ninguém. Sentar antes na cadeira pode trazer azar."

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