Descrição de chapéu Governo Lula Itamaraty

Itamaraty convoca embaixador da Hungria para explicar hospedagem de Bolsonaro

Ex-presidente permaneceu 2 dias em missão diplomática do país europeu após PF apreender passaporte

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O Ministério das Relações Exteriores decidiu convocar o embaixador da Hungria no Brasil, Miklós Halmai, para dar explicações sobre a permanência de Jair Bolsonaro (PL) na missão diplomática do país europeu dias após a Polícia Federal ter apreendido o passaporte do ex-presidente.

Nas relações diplomáticas, chamar o chefe de uma missão para prestar esclarecimentos na sede da chancelaria é uma demonstração de contrariedade do país anfitrião.

O ex-presidente Jair Bolsonaro, em imagem captada pelo circuito interno de segurança da embaixada da Hungria. - Reprodução/NYT

A responsável por transmitir a reprimenda ao húngaro foi a secretária de Europa e América do Norte do Itamaraty, embaixadora Maria Luisa Escorel de Moraes. Halmai permaneceu por cerca de 20 minutos no Itamaraty. De acordo com interlocutores, ouviu as queixas da diplomata brasileira e não se manifestou.

De acordo com auxiliares de Lula (PT), o governo recebeu com estarrecimento a notícia revelada pelo jornal The New York Times.

A avaliação é que o embaixador da Hungria não recebeu apenas um adversário político da atual gestão, mas uma pessoa alvo de investigações no STF (Supremo Tribunal Federal). O gesto, dizem esses auxiliares, tem sido lido como uma interferência do governo da Hungria, liderado por Viktor Orbán, em assuntos internos do Brasil.

Bolsonaro se encontra com o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán - Attila Kisbenedek -17.fev.22/AFP

A PF vai investigar a presença de Bolsonaro na embaixada da Hungria. Segundo investigadores, é cedo para dizer se houve uma tentativa de fuga, mas é preciso investigar a veracidade e a motivação de o ex-presidente ter ficado na embaixada.

O jornal americano diz que as câmeras mostram que Bolsonaro estava acompanhado de dois seguranças. Ele teria permanecido no prédio de 12 de fevereiro a 14 de fevereiro.

Caso permanecesse dentro da missão diplomática, Bolsonaro não poderia ser alvo de uma ordem de prisão, por exemplo, por tratar-se de prédio protegido pelas convenções diplomáticas.

O ex-presidente é aliado próximo do líder da Hungria, Viktor Orbán, um dos principais expoentes da extrema direita na Europa.

A Hungria, um país pós-comunista de 10 milhões de habitantes, se tornou referência para conservadores em todo o mundo. Isso não aconteceu por acaso: foi uma política de Estado pensada meticulosamente por Orbán.

Em paralelo ao investimento do governo húngaro na construção de um soft power veio o desmonte da democracia húngara. O primeiro-ministro governa desde 2010 com uma maioria de dois terços do Parlamento, o que permitiu que ele aprovasse uma nova Constituição.

Institutos que medem a qualidade das democracias no mundo, opositores e jornalistas dizem que Orbán minou a independência do Judiciário, tomou conta do mercado de mídia, sufocou ONGs e universidades, aprovou leis contra minorias, como a comunidade LGBTQIA+ e os imigrantes, e redefiniu distritos eleitorais para favorecer o partido dele.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.