Raquel Lyra vê afastamento definitivo de presidente da Assembleia de PE, agora rival

Grupo político de Álvaro Porto vai migrar para Republicanos, comandado pelo ministro Silvio Costa Filho

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Recife

O presidente da Assembleia de Pernambuco, Álvaro Porto (PSDB), consolidou seu afastamento político da governadora Raquel Lyra (PSDB) após a filiação da sua esposa a um partido aliado do prefeito do Recife, João Campos (PSB).

Esposa de Álvaro, Sandra Paes é prefeita de Canhotinho (210 km do Recife) e ingressou no Republicanos. Em Pernambuco, a legenda é liderada pelo ministro de Portos e Aeroportos do governo Lula (PT), Silvio Costa Filho.

Canhotinho é reduto político do presidente da Assembleia, que já foi prefeito da cidade, assim como seu pai e sobrinho. A cidade tem 24 mil habitantes e fica no agreste.

Deputado Álvaro Porto, presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, e a governadora Raquel Lyra - Lucas Patrício / Divulgação

Desde o início de 2023, a relação política entre Álvaro Porto e Raquel Lyra é marcada por tensões. O governo atribui ao parlamentar as derrotas em votações importantes, como na discussão do Orçamento de 2024. Já o presidente do Legislativo estadual diz haver problemas na articulação política do Executivo.

O impasse levou a governadora a entrar com ação no STF (Supremo Tribunal Federal). O ministro André Mendonça atendeu parcialmente ao pedido de Raquel e derrubou, de forma liminar (provisória), trechos do projeto orçamentário aprovado pela Assembleia.

No início de fevereiro, o vazamento de um áudio expôs a relação desgastada entre os chefes do Legislativo e do Executivo estaduais. Na gravação, Álvaro Porto ironizou um discurso feito pela governadora na reabertura dos trabalhos na Assembleia, o que gerou reações públicas de Raquel e do PSDB, partido dos dois.

"O [discurso] dela eu não entendi nada, conversou merda demais e não disse nada", disse em um dos trechos. Em nota após o áudio vazado, Porto disse que "usou uma expressão não condizente com o contexto e local". Raquel classificou o episódio como "violência política", e o PSDB falou em "comentários agressivos".

A ida da esposa de Álvaro Porto para o Republicanos selou, segundo aliados de ambos, o rompimento político entre as duas partes. A avaliação é que já havia alguns meses que a relação era apenas institucional, o que deve continuar, segundo sinalizações mútuas.

O Republicanos é o partido mais próximo do prefeito João Campos, adversário de Raquel e cotado para ser candidato a governador em 2026 pela oposição.

Integrantes do PSB marcaram presença no evento de filiação em Canhotinho, como o deputado federal Pedro Campos, irmão de João Campos. O presidente estadual do partido, o deputado estadual Sileno Guedes, disse que o PSB está "à disposição para integrar a base aliada da prefeita de Canhotinho".

Para o entorno da governadora, Álvaro Porto está definitivamente na oposição ao governo, o que deputados próximos ao presidente da Assembleia refutam. Os aliados do deputado dizem que ele seguirá defendendo a independência do Legislativo e apoiará pautas do Executivo que interessem à população.

Um dos temores de aliados da tucana é que Álvaro tente assumir o comando do Executivo. Isso porque, até 2026, ele será o segundo na linha sucessória do estado, já que articulou a antecipação da eleição da Mesa Diretora do biênio 2025/26 para novembro de 2023, quando foi candidato único.

Aliados de Álvaro descartam a possibilidade de ele tentar assumir o Executivo, mas admitem que a antecipação da reeleição se deu por temor de que Raquel lançasse um candidato em 2025 e usasse a máquina estadual para conquistar votos na Assembleia.

O presidente da Assembleia não deixou o PSDB rumo ao Republicanos para não ter chances de perder o mandato por infidelidade partidária em caso de eventual ação de aliados de Raquel na Justiça Eleitoral.

No final de novembro, ela indicou o empresário Fred Loyo, um dos financiadores da sua campanha de 2022, para sucedê-la na presidência do PSDB em Pernambuco. Álvaro se colocou à disposição para assumir o partido, mas foi ignorado e alegou ausência de diálogo da governadora na escolha do sucessor.

A aproximação do deputado estadual com João Campos acontece de forma gradativa desde o ano passado. Os dois apoiaram a indicação do então deputado estadual Rodrigo Novaes (PSB), de oposição a Raquel, para o Tribunal de Contas do Estado.

Além disso, em dezembro, João Campos renunciou a repasses do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para o Recife em prol de municípios menores, atendendo a um pedido de Álvaro para ajudar na arrecadação das cidades em 2023.

O movimento marca uma guinada política para o presidente da Assembleia, que foi oposição aos 16 anos de governo do PSB no estado, inclusive no auge da popularidade de Eduardo Campos (1965-2014), pai do prefeito do Recife.

No plano ideológico, Álvaro Porto, que é de direita, se alia ao partido comandado por um ministro do governo Lula em Pernambuco. Silvio Costa Filho, chefe da pasta de Portos e Aeroportos, foi aliado do atual presidente mesmo em momentos de tensão, como durante a Operação Lava Jato.

O sobrinho de Álvaro, Felipe Porto, que o sucedeu na prefeitura de Canhotinho entre 2013 e 2020, tem cargo no escritório da Infraero em Pernambuco por nomeação de Silvio Costa Filho.

Costa Filho se articula para disputar o Senado nas eleições de 2026 e quer contar com Álvaro Porto como um dos porta-vozes em defesa da possível candidatura. O ministro e o prefeito João Campos são definidos no meio político como "uma coisa só", em razão das ações políticas combinadas entre ambos.

Além da esposa, Álvaro deve filiar outros prefeitos e vereadores aliados ao Republicanos. O movimento agrada a Campos, que ganha espaço no interior se for candidato a governador daqui a dois anos.

No plano da articulação com a Assembleia, a relação de Raquel Lyra com os deputados e Álvaro Porto segue tensa.

Por outro lado, junto às cúpulas partidárias, a governadora impôs reveses a João Campos atraindo partidos que eram aliados ao PSB para o seu entorno, como PDT e PSD, o que deve enfraquecer o tempo de propaganda eleitoral do prefeito no rádio e na televisão na busca pela reeleição.

O movimento deixou o prefeito dependente do PT, que quer a vice na chapa, para ter tempo de propaganda expressivo.

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