Descrição de chapéu 40 anos das Diretas

'Povo brasileiro foi se descobrindo cidadão' nas Diretas, diz Fafá

Interpretação do Hino Nacional pela cantora emocionou o auditório lotado da OAB

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São Paulo

Por alguns minutos, a noite desta segunda, 29 de abril de 2024, foi tomada pela emoção e pela confiança na democracia que moveram a campanha das Diretas Já ao longo dos anos de 1983 e, principalmente, 1984.

Com a mesma voz potente de 40 anos atrás, Fafá de Belém interpretou o Hino Nacional na sede da OAB-SP ao lado de nomes históricos daquela campanha, como o ex-ministro Almino Affonso, a atriz Cristiane Torloni e o jornalista Ricardo Kotscho, o "cronista das Diretas", nas palavras do mediador, o também jornalista Oscar Pilagallo.

Fafá de Belém, ao centro, canta o Hino Nacional na noite de segunda (29) na OAB; à esq. dela, Eunice Aparecida Prudente, professora sênior da Faculdade de Direito da USP, e o advogado e ex-presidente da OAB-SP Antonio Cláudio Mariz de Oliveira; à dir., Patricia Vanzolini, atual presidente da OAB-SP, e Oscar Pilagallo, autor de "O Girassol que nos Tinge: Uma História das Diretas Já, o Maior Movimento Popular do Brasil" - Divulgação/OAB

O público, que lotava o auditório, cantou com Fafá, muito aplaudida.

Assim, em clima de comoção, chegou ao fim o seminário sobre as quatro décadas das Diretas Já, promovido pela OAB e pela Folha.

Minutos antes, no chamado ato final do evento no centro de São Paulo, a cantora lembrou Teotônio Vilela, político do PMDB nos anos 1980 e um dos maiores entusiastas da campanha. Em homenagem a ele, que morreu em novembro de 1983, Milton Nascimento e Fernando Brant compuseram "Menestrel das Alagoas", música que ficou famosa na voz de Fafá.

"Participei de quase 40 comícios. Ao longo dessa trajetória, o povo brasileiro foi, a cada passo, se descobrindo cidadão", afirmou a cantora, que era chamada de "musa das Diretas".

Na época, Fafá dividia esse "título" com Christiane Torloni, também presente no seminário. Além de chamar a atenção para a fragilidade da nossa democracia, a atriz associou o tema à crise climática.

"O 8 de Janeiro mostra que nosso trabalho [nas Diretas] não foi concluído de jeito nenhum. É um trabalho que precisa sempre florescer", disse Torloni, que aproximou os conceitos de democracia e florestânia. "O Brasil corre o risco de se tornar o vilão do planeta se não cuidar da Amazônia."

Patricia Vanzolini, presidente da OAB-SP, fez um apelo ao diálogo e à conciliação. "Há 40 anos, direita e esquerda, conservadores e progressistas se uniram, houve uma convergência. Se foi possível naquela época, hoje também pode ser", afirmou.

Da esq. p/ dir., Ricardo Kotscho, Luiz Sampaio Correa, Leonardo Sica, Eunice Prudente, Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, Fafá de Belém, Patricia Vanzolini, Oscar Pilagallo, Christiane Torloni, Juca Kfouri e Almino Affonso - Jardiel Carvalho/Folhapress

Ela lembrou que o comitê suprapartidário que conduziu a campanha das Diretas era comandado pela OAB nacional, presidida àquela altura por Mário Sérgio Duarte Garcia, que morreu em 2021.

Ao fim da sua fala, Vanzolini defendeu eleições diretas para o conselho federal da OAB, com reações efusivas de boa parte do auditório.

Aos 95 anos, com dificuldade para caminhar, Almino Affonso fez questão de se levantar para o seu discurso.

Ministro do Trabalho do governo João Goulart e ex-deputado federal, ele ressaltou o aumento da presença feminina na vida pública brasileira. "Há algo de novo no cânone nesse país", disse. Também recebeu aplausos eloquentes.

A mesa também contou com dois jornalistas identificados com as Diretas, Ricardo Kotscho e Juca Kfouri.

Repórter da Folha naquela época, Kotscho disse que estava dividido: contente por reencontrar antigos amigos no evento e triste ao "perceber que ainda não alcançamos a democracia plena".

Para ele, hoje colunista do UOL e do MyNews, é fundamental que o país resolva a "questão militar". "Herdeiros de 1964 tentaram dar o golpe recentemente [em referência ao 8 de Janeiro e às ações do governo Bolsonaro]", disse Kotscho.

Num tom entre a crítica e a ironia, afirmou: "O Brasil é o único país do mundo que se preocupa com a irritação dos seus militares."

Kfouri, colunista da Folha e do UOL, recordou-se de alguns nomes relevantes do movimento de quatro décadas atrás. Homenageou o editor Caio Graco Prado, responsável por associar as Diretas à cor amarela, e o jogador Sócrates, líder da Democracia Corintiana.

Também destacou nomes da imprensa paulista. Além de Kotscho, lembrou-se de Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha naquele período, e Otavio Frias Filho, que naquele ano de 1984 assumiu a direção de Redação do jornal.

A Folha foi o primeiro grande veículo de comunicação a se engajar na campanha das Diretas.

O advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira falou em nome dos ex-presidentes da OAB-SP. Segundo ele, os anos de ditadura foram "tempos muito difíceis para a advocacia, até mesmo no governo de João Figueiredo, que se dizia a favor da abertura".

Mariz de Oliveira citou o político baiano Otavio Mangabeira, que dizia que a democracia brasileira é uma planta que tem que ser regada todos os dias. Essa consciência de que o sistema democrático precisa ser cultivado cotidianamente também permeou as falas dos outros convidados.

Como disse Fafá, "não queremos ser atropelados pelo retrocesso".

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