Boulos pede, e conselho adia votação do caso Janones em meio a mal-estar no PSOL

Pré-candidato à Prefeitura de São Paulo é relator do caso e deu parecer favorável a colega do Avante

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Brasília

A pedido de Guilherme Boulos (PSOL-SP), o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados adiou nesta terça-feira (28) a votação do parecer do deputado que propõe o arquivamento da representação contra André Janones (Avante-MG) por suspeita da prática de "rachadinha".

Segundo o presidente do Conselho, Leur Lomanto Júnior (União Brasil-BA), Boulos telefonou a ele afirmando que só chegará a Brasília por volta das 18h. A votação do relatório, então, ficou para a próxima semana.

Tanto Boulos quanto Janones são aliados do presidente Lula (PT). O primeiro é seu pré-candidato à Prefeitura de São Paulo. O segundo integrou a linha de frente de sua campanha eleitoral digital em 2022.

Close de Boulos e Janones
Fotomontagem com os deputados federais Guilherme Boulos (PSOL-SP) e André Janones (Avante-MG) durante sessão do Conselho de Ética da Câmara em 15 de maio - Ranier Bragon-15.mai.2024/Folhapress

O voto de Boulos favorável a Janones gerou insatisfação dentro da própria bancada do PSOL, já que contraria posições que normalmente o partido adota no Congresso.

As suspeitas contra Janones vieram a público após o site Metrópoles revelar áudio de 2019 em que o ele, em seu primeiro mandato como deputado, informou a assessores que eles teriam que devolver parte dos salários para recompor seu patrimônio dilapidado na fracassada eleição de 2016.

Em seu voto, Boulos deturpou uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) e usou como prova afirmação do próprio Janones para sugerir o arquivamento do processo contra o colega.

Segundo o deputado do PSOL, o deputado do Avante não era parlamentar no dia em que foi gravado, logo, não se pode falar em quebra de decoro parlamentar.

Ao contrário do que diz Boulos em seu voto, o STF não disse que as suspeitas de rachadinha se referem a 2016, mas sim a 2019, já no exercício do mandato. A íntegra do áudio da reunião em que Janones foi gravado também indica que ele já havia tomado posse.

No áudio, ele reclama com assessores que vários colegas já haviam apresentado projetos de lei e ele não —só um deputado pode apresentar projeto— e que estaria também desamparado sobre como proceder na sessão plenária que ocorreria naquela tarde.

A tese apresentada por Boulos para tentar livrar Janones contraria ainda o que ele próprio e o PSOL adotaram em pedidos de cassação protocolados contra adversários —como Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de mandar matar Marielle Franco (PSOL-RJ), Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que foi investigado por suspeita de "rachadinha", e quatro deputados do PL que teriam estimulado as depredações de 8 de janeiro.

Em todos esses casos, os crimes dos quais eles são ou eram acusados dizem respeito a período anterior ao exercício do mandato no Congresso Nacional.

Janones nega ter promovido "rachadinha", afirmando que pediu contribuições a amigos, que se tornariam seus assessores, para quitar dívidas que ele e esses auxiliares assumiram em conjunto nas eleições de 2016.

Disse ainda que não considera sua atitude ilícita e que, de qualquer forma, a devolução de parte dos salários dos assessores acabou não ocorrendo por orientação jurídica que recebeu.

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