Entorno de Tarcísio vê pressão pública de Valdemar para filiar governador ao PL

Aliados dizem que não há urgência e que presidente da sigla busca ganhos políticos

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São Paulo

O entorno do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), diz que o recente movimento do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, foi inesperado e que o dirigente busca pressioná-lo publicamente.

No domingo (19), Valdemar afirmou que Tarcísio sinalizou a ele há cerca de um mês que se filiaria ao PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, por volta do mês de junho.

No mesmo dia, o governador negou, em entrevista à CNN, que exista essa intenção no momento.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas - Danilo Verpa/Folhapress

Aliados de Tarcísio afirmam não ter havido um fato novo que possa ter motivado a manifestação de Valdemar. Há meses caciques do PL, inclusive Bolsonaro, pressionam o governador a deixar o Republicanos e se filiar à legenda.

Interlocutores de Tarcísio avaliam que Valdemar quer fortalecer o partido em ano eleitoral e que o governador é um ativo importante –ou seja, o dirigente precisa de um produto para vender, e Tarcísio está em alta.

As conversas sobre a filiação ficaram mais intensas em março, depois que o imbróglio em torno do túnel Santos-Guarujá criou um desconforto entre o governador e o Republicanos.

Na ocasião, a Autoridade Portuária de Santos, ligada ao governo federal, chegou a sinalizar que dispensaria a participação do governo estadual no projeto. A instituição é vinculada ao Ministério de Portos e Aeroportos, dirigido por Silvio Costa Filho, colega de partido de Tarcísio.

O governador ficou incomodado com a tentativa de escanteamento, considerando ainda que ele havia tocado o projeto enquanto ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro. Tarcísio foi então ao Planalto para conversar diretamente com o presidente Lula (PT) e selar um acordo de parceria para a construção do túnel.

O governador também já havia se incomodado com a sigla quando disputou o governo em 2022, por considerar que o partido deveria ter se engajado mais em sua campanha.

Uma pessoa do entorno de Tarcísio afirma que o governador chegou a verbalizar que esperaria o leilão da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo), previsto para junho ou julho, e possivelmente as eleições municipais, para se filiar ao PL. Outra ala, porém, diz que a transferência nem sequer está confirmada.

Esses aliados dizem que o governador adiará ao máximo a decisão e que não há urgência para a filiação.

Eles afirmam existir um equilíbrio na composição dos partidos que o apoiam e que um movimento do tipo pode desestabilizar essa costura. Outros dizem ainda que o político não tem nada a ganhar com a transferência.

Um interlocutor lembra que o governador atuou para filiar prefeitos ao Republicanos e que não haveria motivo para fazer isso se estivesse de saída do partido. Aliados avaliam que a manifestação de Valdemar foi desnecessária e inoportuna e veio em uma semana crítica para o governo.

Nesta segunda-feira (20), prefeitos de cidades atendidas pela Sabesp aprovaram o novo contrato que será firmado com a empresa após a privatização. A votação marcou a última etapa política do processo de desestatização da companhia, que agora segue para a venda das ações.

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O ex-presidente Jair Bolsonaro ao lado do presidente do PL, Valdemar Costa Neto - Marlene Bergamo/Folhapress

Embora a relação entre Tarcísio e Valdemar esteja mais azeitada hoje, os dois eram desafetos no passado.

Isso porque no primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), quando diretor do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Tarcísio promoveu demissões de apadrinhados de Valdemar. Naquela época, o PR (antigo PL) controlava a pasta e teve suas indicações exoneradas numa "faxina" anticorrupção.

Esse foi um dos motivos que levaram Tarcísio a se filiar ao Republicanos para concorrer ao governo, e não ao PL de seu padrinho Jair Bolsonaro, como seria o caminho mais natural.

A pressão para que o governador se filie ao PL acompanha o aumento nas especulações de que ele possa ser o candidato do bolsonarismo à Presidência em 2026, com Bolsonaro inelegível.

Desde o início do ano, o ex-presidente, sua esposa Michelle e parlamentares do partido têm manifestado publicamente seu desejo de ter Tarcísio na legenda.

Ao fim do mês de março, na filiação da então secretária Sonaira Fernandes ao PL, Bolsonaro brincou que a "rede de arrasto" do partido poderia capturar também o governador.

Tarcísio apenas riu, mas no mesmo evento fez um aceno à sigla: "Bolsonaro representa o que o PL representa hoje: Deus, pátria, família, liberdade. É o que a gente está falando o tempo todo".

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