Descrição de chapéu Eleições 2024 Bahia

Prefeito desponta como favorito, e PT afia armas por aliado em Salvador

Bruno Reis (União Brasil) e vice-governador Geraldo Júnior (MDB) lançam pré-candidaturas e replicam polarização estadual

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Salvador

Eles atropelaram crises internas, uniram desafetos e agregaram aliados em torno de uma única candidatura. Agora, a quatro meses das eleições, apresentam seus trunfos e afiam suas armas para mobilizar o eleitorado de Salvador.

O prefeito Bruno Reis (União Brasil) e o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) lançaram nesta semana suas respectivas pré-candidaturas à prefeitura, em atos marcados pela ode à força de seus grupos políticos.

A disputa em Salvador caminha para mimetizar as eleições estaduais e replicar o cenário de polarização entre dois principais grupos políticos da Bahia, liderados pelo PT e pela União Brasil.

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Bruno Reis (União Brasil) e Geraldo Júnior (MDB), pré-candidatos à Prefeitura de Salvador - Fotos União Brasil/Divulgação e Ulisses Dumas/Divulgação

Bruno Reis vai em busca de mais um mandato em um pleito que representa mais que uma mera reeleição, mas a própria sobrevivência e coesão do grupo político liderado pelo ex-prefeito ACM Neto (União Brasil).

Na outra ponta, Geraldo Júnior tem como missão apontar um horizonte para o grupo liderado pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT), partido que governa a Bahia há 18 anos, mas nunca venceu uma eleição em Salvador.

A candidatura à reeleição do prefeito foi confirmada nesta segunda-feira (3) em uma solenidade simples em um hotel de Salvador. A decisão foi precedida de uma intensa negociação com partidos que fazem parte da oposição ao PT na Bahia.

Bruno Reis, 47, recebeu adesões de legendas que abdicaram de suas pré-candidaturas para manter a unidade no campo da direita, movimento que incluiu o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O partido é liderado na Bahia por João Roma, que foi ministro da Cidadania e rompeu com o então padrinho político ACM Neto ao assumir o cargo no governo Bolsonaro em 2021. Na solenidade, ambos se encontraram e apertaram as mãos em um cumprimento protocolar.

Mesmo com o apoio do PL, Reis tem rejeitado a pecha de candidato do bolsonarismo e quer evitar a influência da polarização nacional. A União Brasil faz parte da base do governo Lula, com três ministros, mas tem adotado postura independente nas votações no Congresso Nacional.

Para contrabalancear a aliança, o prefeito manteve em sua chapa a vice-prefeita Ana Paula Matos (PDT). Com a escolha, terá ao seu lado um nome de sua estrita confiança e garante protagonismo ao aliado de centro-esquerda.

Ao confirmar sua candidatura, Reis destacou sua trajetória política, realizações de seu mandato e sobretudo a força do seu grupo político, que inclui uma megacoligação com 13 partidos e o apoio de 32 dos 43 vereadores.

"Esse sonho não é só meu. Eu disse que iria ouvir a cidade, ouvir as pessoas, as lideranças, nosso grupo político e assim o fiz [...] Estou aqui para em alto e bom som afirmar que estou à disposição do povo da nossa terra", afirmou o prefeito em discurso ao lado de aliados.

Seu principal desafiante será um antigo aliado. Com 54 anos, Geraldo Júnior foi vereador em Salvador por quatro mandatos e presidente da Câmara. Foi aliado de Bruno Reis e ACM Neto, de quem chegou a ser secretário municipal.

Em 2022, chegou a anunciar apoio ao ex-prefeito na eleição para governador da Bahia, mas rompeu com o aliado para compor a chapa com Jerônimo Rodrigues. Sua adesão ao grupo governista foi articulada pelo senador Jaques Wagner com os irmãos Geddel e Lúcio Vieira Lima, que controlam o MDB da Bahia.

Dois anos depois, Geraldo foi escolhido para disputar a prefeitura, unificando os 10 partidos da base do governador. Mas decisão foi precedida por crises e embates internos ao longo de 2023.

O PT trabalhou para ter candidato próprio em Salvador e o ministro Rui Costa (Casa Civil) tentou emplacar um aliado pelo PSB. Prevaleceu a tese defendida pelo senador Jaques Wagner, que apoiou o vice-governador e mobilizou a base petista.

"Agora é ir para cima, não tem eleição ganha de véspera. Tem que acreditar e dar o primeiro passo para chegar lá. Acho que Geraldo tem tudo para fazer uma bela campanha", afirma o senador.

Nesta quarta-feira (5), Fabya Reis (PT) foi apresentada como candidata a vice-prefeita na chapa. Com trajetória ligada ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), ela era secretária estadual de Desenvolvimento Social.

A escolha teve como objetivo alicerçar a parceria política e engajar a militância petista na campanha, diante de um histórico de atuação de Geraldo Júnior no campo da centro-direita. Havia um temor de migração do eleitorado da esquerda para a candidatura do sindicalista Kleber Rosa (PSOL).

O PT também reforçou a estratégia de nacionalizar a campanha, apresentando Geraldo como o candidato de Lula em Salvador e associando o prefeito Bruno Reis ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Temas como ocupação urbana, meio ambiente, transporte público e desemprego devem estar no centro do debate da campanha.

O prefeito deve ser cobrado pelos problemas na frota de ônibus e pelo controverso projeto do BRT, sistema de linhas exclusivas de ônibus com viadutos que custou R$ 795 milhões.

A gestão municipal defende o projeto como essencial para a mobilidade, mas os adversários criticam o sistema por considerarem-no ultrapassado e pelo fato de o projeto ter demandado a remoção de árvores.

Outro ponto de polêmica é a desafetação de 40 terrenos na capital baiana, incluindo áreas verdes, demandada por Reis em dezembro. A autorização para venda ou cessão das áreas foi concedida pela Câmara Municipal, sob fortes críticas de entidades da sociedade civil.

Um dos terrenos fica em uma encosta no Corredor da Vitória e é alvo de interesse de um grupo de investidores que inclui o ex-prefeito ACM Neto. A compra da área permitiria o aumento do potencial construtivo para um empreendimento imobiliário que será erguido em um terreno ao lado.

Em inserções comerciais do MDB na televisão, Geraldo inseriu o assunto no debate eleitoral, acusando o prefeito de trocar áreas verdes por concreto e se guiar pela especulação imobiliária.

Mas adversários e até mesmo aliados de partidos de esquerda admitem que o vice-governador possui telhados de vidro em relação ao tema ambiental.

Quando esteve à frente da Câmara Municipal, Geraldo comandou a aprovação de leis que afrouxaram regras de proteção ambiental na cidade e foram contestadas pelo Ministério Público. Também ajudou a aprovar a autorização para a venda de outros terrenos na capital baiana.

Em entrevistas recentes, o vice-governador tem afirmado que mudou sua visão de mundo e despertou para importância do debate ambiental.

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