Descrição de chapéu Eleições 2024

Bolsonaro traça estratégia de 'jogo de War' para frear esquerda nas capitais

PL quer eleger até mil prefeitos pelo país, mas negocia alianças em grandes cidades e vai apoiar outros partidos em SP, Natal e Porto Alegre

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Salvador, Recife e Porto Alegre

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) indicou que deve atuar com pragmatismo nas eleições para as prefeituras das capitais, traçando o que chamou de estratégia "jogo de War", com apoio a nomes competitivos de outros partidos para frear candidaturas de aliados do presidente Lula (PT).

Bolsonaro confirmou apoio à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo, movimento que impôs a desistência do deputado federal Ricardo Salles (PL), classificado pelo ex-presidente como o seu "candidato do coração".

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, participa de evento com presença do ex-presidente Jair Bolsonaro - Zanone Fraissat - 16.out.23/Folhapress

Diante da aliança, o coronel Mello Araújo (PL), ex-comandante da Rota e nome de confiança de Bolsonaro, pode ser indicado para o posto de vice na chapa liderada por Nunes, que deve comparecer a um ato convocado pelo ex-presidente na avenida Paulista no próximo domingo (25) em meio às investigações da Polícia Federal sobre a suposta atuação em uma trama golpista.

O PL de Bolsonaro também desistiu da corrida pela Prefeitura de Natal e selou apoio ao deputado federal Paulinho Freire (União Brasil) com a promessa de unificar a direita na capital potiguar em torno de uma única candidatura.

O partido ensaia movimentos semelhantes em capitais como Salvador, Florianópolis e Campo Grande com aliados que disputam a reeleição. Em Porto Alegre, a aliança já foi sacramentada.

Quem é quem nas disputas das capitais

Veja quais são os pré-candidatos para a disputa de outubro

Em uma transmissão na internet no fim de janeiro, Bolsonaro pregou "estratégia e paciência" na definição das candidaturas e destacou que os partidos de direita não devem se dividir onde houver possibilidade de vitória do PT e partidos aliados de Lula.

"A ideia é lançar candidatos no maior número possível de municípios, ter candidatos nas capitais. Em algumas não vai ser possível, vamos partir para uma negociação fazendo da melhor maneira possível. A gente tá jogando War aqui, pessoal", disse o ex-presidente, em referência ao jogo de tabuleiro de estratégia de guerra e que pode incluir objetivos diferentes de cada participante e para cada região.

Um dos entraves para o avanço das articulações tem sido a proibição de contato entre Bolsonaro e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, após determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, no dia 8 de fevereiro. Ambos são investigados no STF sob suspeita da prática do crime de tentativa de golpe de Estado.

O PL não elegeu prefeitos nas capitais na eleição de 2020, assim como o PSL, partido ao qual Bolsonaro era filiado na época. Atualmente, o único prefeito de capital do PL é João Henrique Caldas, o JHC, que se filiou ao partido em 2022 após deixar o PSB.

Desta vez, o partido vai para as eleições municipais com uma meta ousada de eleger mil prefeitos e deve ter candidato próprio em ao menos 14 capitais. Mas a ordem é buscar consensos com outros partidos de direita e tentar consolidar uma base sólida para pavimentar as eleições de 2026.

Esse deve ser o caminho nas capitais dos estados do Sul. Em Porto Alegre, o PL tem o vice-prefeito Ricardo Gomes, que deve repetir a dobradinha com o prefeito Sebastião Melo (MDB), candidato à reeleição. A tendência é de uma disputa polarizada na capital gaúcha com o PT, que prevê a candidatura da deputada federal Maria do Rosário.

Em Florianópolis, o PL articula uma possível indicação do candidato a vice do prefeito e candidato à reeleição Topázio Neto (PSD), que é considerado favorito e ampliou sua base nas últimas semanas com o apoio do MDB e Republicanos.

O cenário é mais nebuloso em Curitiba, onde aliados de Bolsonaro e do governador Ratinho Júnior (PSD) seguem divididos em mais de uma candidatura. Uma eleição suplementar para o Senado, em caso de cassação do senador Sergio Moro (União Brasil-PR) na Justiça Eleitoral, pode mexer no tabuleiro municipal.

Dentre as capitais do Nordeste, Natal e Salvador têm negociações mais avançadas. Na capital potiguar, o deputado General Girão (PL) retirou-se da disputa após articulação do senador Rogério Marinho (PL) para unir a direita. Os aliados de Lula, por outro lado, se dividem em ao menos três pré-candidaturas.

Em Salvador, o PL sinaliza uma aliança com o prefeito e candidato à reeleição Bruno Reis (União Brasil). Os partidos ainda afinam os detalhes da parceria, que caminha para ser selada em março.

A ideia é firmar a aliança ainda no primeiro turno para se contrapor à candidatura do vice-governador Geraldo Júnior (MDB), que unificou a base do governador Jerônimo Rodrigues (PT). Neste cenário, o PL deve centrar forças na eleição de vereadores em Salvador e prefeitos no interior do estado.

Também há negociações em curso para unificar o campo bolsonarista em capitais como Campo Grande (MS), onde PP e PL têm pré-candidatos, e Boa Vista (RR), estado em que aliados do ex-presidente articulam uma convergência em torno do nome da deputada estadual Catarina Guerra (União Brasil).

Na rota contrária, o partido deve partir para uma estratégia de candidatura própria em capitais como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Manaus, Belém e Recife.

No Rio de Janeiro, o PL dobrou a aposta na candidatura do deputado federal Alexandre Ramagem, alvo de investigação por um suposto esquema de espionagem ilegal.

A aliança em torno de Ramagem é articulada pelo governador Cláudio Castro (PL), que sondou partidos aliados para apoiá-lo contra o prefeito Eduardo Paes (PSD). Um dos entraves é o MDB, que insiste na candidatura do deputado federal Otoni de Paula. O PL, por sua vez, cobra reciprocidade ao apoio a Ricardo Nunes em São Paulo.

Em capitais como Manaus (AM), Belém (PA) e João Pessoa (PB), a disputa é dentro do próprio PL, com mais de um pré-candidato à prefeitura no partido.

Na capital do Amazonas, dois militares disputam a indicação: o deputado federal Capitão Alberto Neto e o Coronel Alfredo Menezes. Ambos têm um acordo e podem compor uma chapa pura.

Em Belém, o deputado federal Delegado Eder Mauro e o delegado da Polícia Federal Everaldo Eguchi, candidato a prefeito derrotado em 2020, disputam a indicação para concorrer contra o prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL).

O panorama em João Pessoa é mais crítico, já que há um descompasso entre a cúpula e parte das bases do partido. O PL definiu como candidato o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, nome que sofre resistência da ala mais radical do bolsonarismo.

O comunicador Nilvan Ferreira (PL), que foi o segundo colocado na eleição de 2020 e pleiteava nova candidatura, anunciou desistência no último dia 2, tecendo críticas ao partido.


Em outras capitais do Nordeste, o cenário é visto como adverso. No Recife, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado Neto (PL) vai enfrentar o prefeito, João Campos (PSB), favorito à reeleição.

O PL de Pernambuco avalia que a candidatura é importante para disseminar o nome de Gilson no eleitorado de olho na disputa para o Senado em 2026, em caso de derrota na eleição municipal.

Em Fortaleza, o PL lançou o deputado federal André Fernandes, mas o parlamentar não descarta a possibilidade de aliança com o ex-deputado Capitão Wagner, derrotado duas vezes para a prefeitura de Fortaleza e candidato a governador mais votado na capital nas eleições de 2022.

Um dos temores da direita no Ceará é a possibilidade de divisão do eleitorado, que pode deixar os aliados de Bolsonaro fora do segundo turno. Isso porque a esquerda também vai para a disputa dividida, com candidaturas do prefeito Sarto Nogueira (PDT), e do PT, que comanda o governo estadual.

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