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'Não é hora de falar de política brasileira', diz Serra na Europa
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VAGUINALDO MARINHEIRO
ENVIADO ESPECIAL A BIARRITZ
José Serra, candidato derrotado na eleição presidencial do último dia 31, afirma que agora não é hora de falar de política brasileira.
Passada apenas uma semana desde o segundo turno, afirmou à Folha que é o momento de descansar dos sete meses de campanha.
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É para isso que está na Europa. Passou o fim de semana em Biarritz (litoral francês) e fica mais uns dez dias no continente.
Ele não diz, mas, ao evitar os assuntos políticos, busca não alimentar agora a discussão interna do PSDB sobre culpados pela derrota para Dilma Rousseff (PT).
Divulgados os resultados, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, afirmou que foi um erro esperar até março para definir o candidato tucano (decisão que partiu de Serra).
Em Biarritz, o ex-governador de São Paulo participou de seminário sobre relações entre América Latina e Europa, realizado quinta e sexta.
Diz que foram delirantes os relatos de seu discurso no final do evento. Foi reportado que ele criticou o governo Lula, que estaria fechado para o mundo e promovendo a desindustrialização do país.
Serra afirma que sua fala, feita de improviso, em espanhol, fazia uma análise histórica da América Latina, não uma crítica direta a esse ou àquele governo.
Na palestra, alguém da plateia gritou "por qué no te callas?". Segundo o tucano, era uma mexicana partidária dos zapatistas, movimento guerrilheiro que lutava contra a globalização e a favor da distribuição de terras para os indígenas do sul do México.
A Folha conversou com Serra no voo que o levou de Biarritz a Paris. Ele só aceitou falar de economia, principalmente a mundial. Mas tratou um pouco de Brasil. Falou de juros "escandalosos" e "galopante gasto público".
Serra, que viaja com o filho, Luciano, parece mesmo cansado, mas não triste. Mantém o hábito de pontuar suas falas com anedotas.
Leia trechos da conversa.
Moeda desvalorizada
O Brasil entrou na guerra cambial em desvantagem: com a moeda já sobrevalorizada e juros escandalosos, o que pressiona ainda mais o real para cima.
O gasto público galopante e o deficit nas contas correntes, também galopante, atrapalham ainda mais.
A única solução para o Brasil é fazer um bom diagnóstico de sua situação macroeconômica e planejar. Mas o Brasil está num momento de pouco planejamento econômico.
Campanha
Seria importante discutir assuntos mais sérios durante a campanha eleitoral. Temas da economia profunda. Mas eles são evitados porque todos creem que ficaria incompreensível para a maioria.
China
A China não irá de uma hora para outra valorizar sua moeda para ajudar o Brasil. O governo chinês fará um ajuste, mas com a elevação do salário de sua população.
Isso irá aumentar o consumo interno, e o superavit nas exportações deve cair, o que é bom para os demais países.
O que a China quer do Brasil e da África é matéria-prima.
Reservas e investimento
O Brasil gasta muito para manter e ampliar suas reservas. Se você investe em estradas, sabe o efeito que dá. Se gasta com reservas, não.
Europa
A Europa está com um problema enorme porque não pode fazer política monetária, só fiscal. Com os países usando uma mesma moeda, fica difícil. Perde-se um instrumento muito importante para lidar com as crises.
Futuro
Não é hora de falar disso. Após sete meses de campanha, é hora de esfriar a cabeça, ler jornal, descansar.
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