Cursos de pós-graduação híbridos vão atrás de novas tecnologias para fisgar aluno

Plataformas online usam inteligência artificial e machine learning para personalizar o aprendizado

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São Paulo

Tecnologia em constante evolução e novas formas de aprendizado são o trunfo dos cursos híbridos de pós-graduação, conhecidos como ‘blended’ (misturados, em inglês). 

A modalidade combina ensino a distância com presencial, e tem investido em novas plataformas e formatos inéditos para personalizar cada vez mais o aprendizado.

“O planejamento do curso tem que ser feito especialmente para o formato blended, de forma que a parte online seja complementada pela presencial. Se não, corre-se o risco de o professor tentar fazer em sala de aula, nesse 50% de tempo, o que ele fazia em 100%”, afirma Tatsuo Iwata, diretor nacional de pós-graduação e ensino continuado da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing)

A consultora de pesquisa Angelica Salado, 28, no campus da ESPM, em São Paulo
A consultora de pesquisa Angelica Salado, 28, no campus da ESPM, em São Paulo - Adriano Vizoni/Folhapress

Nesse processo, o professor vira mentor, e o estudante é levado a participar mais ativamente da aula. “O aluno se vê obrigado a ir para a sala de aula preparado, com leitura e atividades feitas online. Assim, ele aproveita plenamente aquele momento”, afirma Iwata.

Inteligência artificial e machine learning foram as ferramentas escolhidas pela Saint Paul Escola de Negócios para a criação de sua plataforma própria, chamada Lit, desenvolvida em parceria com a IBM e disponível para todos os estudantes da instituição. 

Primeiro foi realizado um estudo junto aos alunos, em busca das formas mais eficientes de ensino, com testes de perfil psicológico. Com base nisso, foi desenvolvido um método que envolve diferentes recursos didáticos —testes, vídeos, apostilas, cases—, que são combinados e individualizados para cada perfil de aluno.

“É um robô que trabalha como se fosse um professor a distância 24 horas por dia, sete dias na semana. Ele consegue tirar dúvidas ao vivo, conversando com o aluno em momentos em que talvez não dê para acionar o professor”, explica Bruna Losada, professora da Saint Paul. 

O robô também sugere aulas, exercícios e tarefas específicas para cada aluno, num esquema similar às sugestões da Netflix, plataforma que usa o mesmo tipo de tecnologia.

Esse tipo de estratégia ajuda a aumentar a retenção e o engajamento dos estudantes.

“Em cursos 100% a distância, as taxas de abandono e de evasão são altas, porque nem todas as pessoas têm a disciplina e a persistência necessárias”, afirma Silene Magalhães, representante da diretoria da Abipg (Associação Brasileira das Instituições de Pós-Graduação) para assuntos institucionais. 

Segundo ela, a culpa é do nosso modelo mental de educação, focado na presença e no comando do professor. 

“Talvez as próximas gerações venham com um modelo mental um pouco diferente e entendam que podem aprender o que têm interesse, no tempo que escolherem”, diz ela.

A própria realidade profissional já vem levando o aluno a ter mais autonomia na busca do desenvolvimento. “Isso faz com que o perfil do estudante de pós-graduação, não importa a modalidade, seja de mais independência”, completa.

Não há uma regra para a proporção de aulas presenciais e online. Isso vai depender do curso —alguns demandam mais aulas práticas— e da instituição. 

Nos híbridos da Saint Paul, cerca de 30% das aulas são presenciais. Já o mestrado de neurociência do consumidor da ESPM, por exemplo, tem apenas um encontro mensal. 

A consultora de pesquisa Angelica Salado, 28, que optou por esse curso em agosto, diz que a disciplina é tão necessária quanto em um curso presencial. 

“É preciso assistir às aulas, separar um tempo para estudar o material, fazer leituras complementares...”. O engajamento com o tema, para Angelica, é o que faz a diferença em um curso desse tipo.

As aulas presenciais devem ficar reservadas para a interação, a troca de ideias e a realização de projetos coletivos.

“Na minha sala tem gente de praticamente todos os estados do Brasil, e até de Miami. Ter a visão de pessoas que estão fora de grandes centros contribui muito para diminuir a miopia de mercado que a gente tende a ter. Isso enriquece a experiência”, diz.

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