No Brasil, o problema da educação começa cedo. Cerca de 55% dos estudantes com idade acima dos oito anos apresentam níveis insuficientes de leitura e 54% revelam a mesma dificuldade em matemática. O baixo desempenho continua no 9º ano escolar, quando só 40% dos alunos aprendem o adequado em leitura e 21% em matemática.
Esse acúmulo de insuficiências, que vêm desde o ensino fundamental e desembocam no ensino médio, torna o trabalho dos professores ainda mais desafiador, o que resulta no alto índice de reprovação no primeiro ano do ensino médio.
“Inovação educativa não é fazer uma infraestrutura bonita para a escola, com piscina e quadra coberta. É lidar com esses dados para acelerar a transformação”, declarou Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas.
A educadora e colunista da Folha discursou na abertura da quarta edição do fórum Inovação Educativa, que o jornal realizou nesta quarta-feira (13) em parceria com a Fundação Telefônica Vivo.
Costin falou dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), conjunto de diretivas da ONU firmado pelo Brasil e outros 194 países que se propõe a assegurar que, até 2030, todos os cidadãos recebam educação inclusiva e igualitária e oportunidade e aprendizagem ao longo da vida.
“Educação de qualidade para todos não se faz com ilhas de excelência. Não adianta dar educação de primeira linha para os estudantes ‘mais brilhantes’ e uma educação qualquer para os outros”, disse Costin, que enfatizou a importância da equidade no ensino.
O cenário é de grandes desafios e de crise profunda de aprendizagem, avaliou a palestrante, enfatizando que o problema educacional não atinge apenas os estudantes que estão no ensino público, embora eles formem uma imensa maioria de 88%. Segundo dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), os 25% mais ricos da amostra brasileira tiveram desempenho pior que os 25% mais pobres da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Entre os vários motivos para esse déficit na educação estão a baixa atratividade da carreira de professor e a formação excessivamente teórica e divorciada da realidade da sala de aula --não há, afirmou, preparação para a profissão. Para piorar, o país tem uma cultura introjetada que não busca entender as dificuldades de cada aluno.
Para começar a combater a crise de aprendizado, é preciso identificar os problemas, formar consenso na comunidade e imprimir senso de urgência na busca de soluções. “Nós temos criatividade e podemos colaborar e aprender uns com os outros”.
Os professores precisam estar preparados para capacitar as novas gerações em um cenário composto pela aceleração da automatização e da inteligência artificial. Uma das principais consequências dessas mudanças seria a criação de novos cargos que demandam competências muito mais sofisticadas. “A inteligência artificial substitui trabalho humano de competências cognitivas de nível básico, que o Brasil não está conseguindo suprir.”
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