Empreendedora precisa de bons relacionamentos e autoconhecimento

Debatedoras criticam perfeccionismo de iniciantes e alertam para síndrome do impostor entre empresárias

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Duque de Caxias (RJ)

Para mulheres que querem empreender, é fundamental criar uma boa rede de relacionamentos. Sem outras pessoas para ajudar, é difícil tocar um negócio.

A dica é de Mona Oliveira, cofundadora da Biolinker, startup de biotecnologia, e uma das participantes da segunda edição do seminário Mulheres no Mercado de Trabalho. O evento foi promovido pela Folha, com patrocínio da TIM e apoio do Instituto Nelson Wilians, na terça (8), Dia Internacional das Mulheres. A mediação foi de Ana Estela de Sousa Pinto, editora de Mercado no jornal.

Mona destaca o modelo vesting como uma forma de assegurar um time no começo do negócio. O termo indica um contrato que oferece ao funcionário o direito de ganhar participação na empresa posteriormente. Dessa forma, ainda que o empreendedor não tenha dinheiro para pagar um salário alto, o contratado tem a certeza de que em breve virará sócio.

Debatedoras durante o seminário Mulheres no Mercado de Trabalho
Debatedoras durante o seminário Mulheres no Mercado de Trabalho - Keiny Andrade/Folhapress

Outra alternativa, diz ela, é procurar sócios-investidores. "Você não consegue fazer absolutamente nada sozinho, precisa criar um time."

Um erro muito comum, afirma a bioquímica, é querer fazer tudo da forma mais perfeita possível.

"Esqueça a perfeição. Como empreendedor com foco no resultado, você vai chegar a ela junto com cliente e time. Você não vai entregar aquilo [produto ou serviço] só quando estiver perfeito, porque pode perder tempo de mercado e de investimento", alerta.

Mona decidiu criar a Biolinker há três anos, para colocar em prática seu conhecimento e desenvolver produtos que impactem a sociedade.

A startup fornece kits capazes de produzir proteínas recombinantes —feitas por processos biotecnológicos— cem vezes mais rápido do que o modo tradicional.

Na visão dela, esse é um feito de poucas mulheres da área, visto que são professores homens e com mais experiência que normalmente começam o próprio negócio em ciência.

Vinda da academia, a bioquímica explica que há diversidade entre as pesquisadoras, principalmente em relação às idades, mas, mesmo assim, algumas barreiras dificultam o incentivo ao lado empreendedor.

Mulheres mais velhas costumam seguir a carreira como professoras e as mais novas têm medo de arriscar na criação de um projeto.

"Sempre tive uma visão de me colocar no mercado desde jovem, e me encontrei como cientista, mas não para ensinar. Tinha vontade de usar o que eu estava desenvolvendo, aplicar na sociedade."

Para Paula Paschoal, diretora-gerente do Google Pay, é preciso sempre se impor. "Muitas vezes a gente assume que as pessoas entendem, que enxergam o que realizamos. Não se deixem abalar pela síndrome do impostor. Posicionem-se e falem. É melhor ser repetitiva do que deixar passar uma oportunidade."

Mais da metade da população brasileira é mulher e, para ela, isso precisa ser refletido em vagas de emprego e posições de liderança.

Iniciativas como a "Cresça com o Google para mulheres", treinamento para empreendedoras e trabalhadoras que queiram melhorar na carreira, podem ser alternativa para motivar o mercado a ser mais diverso, diz.

"Um empreendedor de sucesso soluciona um problema. Então, que a gente traga problemas e óticas diferentes, que possam ter impacto na nossa comunidade."

Outra característica imprescindível para empresárias é o autoconhecimento. É o que diz Anne Carolline Wilians, diretora-presidente do Instituto Nelson Wilians e autora do livro "Empreendimento Social Feminino".

Para ela, esta dica está ligada à resiliência, uma vez que permite identificar o que a empreendedora está disposta a fazer, o que consegue aguentar e quais habilidades pode gerir no seu projeto.

"Às vezes você é mais técnico, às vezes sua habilidade é mais comercial. Então, tem que ter sensibilidade na hora de montar e estabelecer as métricas do negócio", afirma.

Para Wilians, empresas lideradas por mulheres e com um recorte definido de diversidades, incluindo a de gênero, podem produzir e lucrar mais. Além disso, é possível ter outro olhar para as demandas do mercado, pensando não só no dinheiro, mas no que a sociedade precisa.

"A gente tem uma juventude que deseja mais, tem ambição e ideias, mas sinto que nós, como Terceiro Setor, e atuantes em educação, precisamos incentivá-la."

No lado das artes cênicas, a atriz, roteirista e produtora Simone Iliescu, 45, aconselha a defender e acreditar nas próprias ideias acima de tudo.

"Você sempre acha que os outros, por algum motivo, são mais do que você. Passei por essa experiência algumas vezes e depois, quando você vê o resultado final, você fala ‘eu tinha razão naquilo que eu estava querendo fazer’."

Segundo a atriz, o mercado das artes cênicas exige dedicação e dinheiro e é por isso que muitos acabam recorrendo a auxílios financeiros e jornadas duplas de trabalho.

Para uma mulher, o trâmite é mais difícil, pois a competição é com homens que têm mais facilidades e experiências por terem tido mais oportunidades. Muitas querem, logo no início da carreira, realizar o próprio projeto, afirma.

"Para mim, aconteceu o caminho inverso, porque comecei sendo atriz e essa necessidade de contar minhas histórias surgiu quando fiquei mais velha."

Simone é protagonista do longa "A Espera de Liz", que estreia em 17 de março.

O que disseram as debatedoras

Paula Paschoal, 40, diretora de parcerias do Google Play 

Já foi diretora-geral do Paypal, onde estruturou uma equipe mais diversa. É administradora pela FAAP com especialização em negócios pela FGV

Quando mulheres têm acesso a ferramentas para transformar seu potencial em poder, elas fortalecem a si e a suas comunidades

Paula Paschoal

Anne Carolline Willians, 32, presidente do Instituto Nelson Willians

Advogada e administradora, está à frente do Projeto Justiceiras, que presta assistência a vítimas de violência doméstica no Brasil

Um mercado mais diverso, com todos os recortes e diversidades, tem mais produtividade, além de uma lucratividade melhor

Anne Carolline Willians

Mona Oliveira, 36, bioquímica e empreendedora

É cofundadora da startup de Biolinker, doutora em bioquímica pela USP e em nanotecnologia pelo Institut Jozef Stefan, da Eslovênia

A carreira científica no Brasil não tem carteira assinada, mas um contrato de dedicação exclusiva, com salário baixo e técnicas que requerem perfeição

Mona Oliveira

Simone Iliescu, 45, atriz, roteirista e produtora

Foi eleita a melhor atriz no Festin Lisboa 2014 e no Festival Guarnicê 2013 pela atuação em "Cores" (2012). É protagonista de "A Espera de Liz", que será lançado neste mês

Ainda pode existir uma situação um pouco subserviente da mulher em relação às opiniões, a o que ela pensa sobre o projeto e à maneira como ela é vista

Simone Iliescu

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.