Descrição de chapéu Vida Cultural - 3ª edição

Música e literatura se destacam em bom momento cultural espanhol

Grandes eventos reúnem centenas de milhares em Barcelona e milhões em Madri

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Madri

No último dia de julho, a casa noturna Moloko Sound Club, em Madri, estava cheia. Amigos dançavam se esbarrando, rindo e trocando salivas. A casa existe há 25 anos.

"Nessa cena musical, houve grande vazio durante a pandemia e as pessoas estavam loucas para vir aqui. Voltaram com muito apetite", diz Sabi Palacios, dono da balada. De fato, em junho, o setor de bares e restaurantes registrou uma alta de 32,9% em relação ao mesmo mês de 2021.

Clientes se divertem na casa noturna Moloko Sound Club, em Madri - Divulgação

É mesmo na área musical que mais se tem a impressão de que a pandemia não passa de uma recordação na Espanha. O verão de 2022, além do calor extremo, será lembrado como a volta dos grandes festivais no país, e um de seus motores turísticos e econômicos.

É a opinião do jornalista José Fajardo, com 15 anos de experiência na área musical. "Depois da parada obrigatória por dois anos de pandemia, em 2022 voltaram os grandes festivais. É o caso, por exemplo, do Primavera Sound em Barcelona, que vendeu todos os ingressos, mesmo que tenha ampliado pela primeira vez sua programação para dois fins de semana", disse Fajardo.

Após cancelar o evento por dois anos, o Primavera Sound deste ano esgotou suas 200 mil entradas em duas semanas.

Duzentas mil pessoas compraram ingressos para o festival espanhol Primavera Sound em 2022 - @christianbertrand no Instagram

"A aposta em grandes festivais, porém, aconteceu em detrimento dos menores, que não contam com o apoio de marcas. Devido à crise econômica, consequência da Covid-19 e da incerteza na Europa por causa da Guerra da Ucrânia, a maioria dos jovens preferiu economizar e ir apenas nos maiores festivais", pondera o jornalista, que atualmente trabalha no projeto Gladys Palmera de apoio à cultura ibero-americana.

A literatura também está em alta na Espanha e a 81ª Feira do Livro de Madri, que aconteceu em 17 dias de maio e junho deste ano, re cebeu nada menos do que 3,1 milhões de visitantes, superando em 2% os números da última edição, de 2019. "A Feira de Madrid é muito popular; é o lugar onde se conectam o primeiro e o último escalão da cadeia do livro, ou seja, o autor e o leitor", disse à Folha Eva Orúe, diretora do evento.

"O reencontro de ambos agora, depois do cancelamento em 2020 e da edição reduzida em 2021, foi emocionante, e tanto a afluência do público quanto a venda de livros foram mais que notáveis. Como destaque, cito a visita massiva de crianças e jovens, um fenômeno surpreendente e esperançoso", contou Orúe.

Feira do Livro de Madrid de 2022, que recebeu 3,1 milhões de visitantes em 17 dias - Divulgação

Livreiros de rua em Madrid também estão felizes. Raquel Garzón, por exemplo, inaugurou com seu marido há dois meses a Olavide | Bar de Libros, contrariando diversos conselhos de que seria loucura abrir um negócio em pleno verão, quando muitos madrilenhos viajam para a praia. Mas, para conversar com a reportagem nesta terça-feira (30), ela precisou sair do espaço, porque havia muita gente e o barulho impedia um diálogo.

"Somos uma livraria independente, dessas que vêm surgindo nos últimos tempos. É um fenômeno de pequenas casas de bairro que não tem os catálogos completos das editoras, mas uma curadoria cuidada, que ouve os clientes e traz os livros que interessam", disse Garzón, que vende cervejas e café para acompanhar a leitura em seu bar de livros.

Fachada da livraria independente Olavide - Bar de Livros, em Madrid - Raquel Garzón

Sua colega Lola Larumbe, da livraria Alberti, faz coro. "Houve crescimento das livrarias independentes na Espanha após a pandemia. No nosso caso, pudemos sobreviver vendendo pela internet. Há um movimento de solidariedade e apreço com os independentes que permitiu aumento de vendas em 2020 e 2021. Eu diria que crescemos cerca de 10% em vendas. Em 2022, esse aumento se mantém, mas sinto uma certa estagnação, em parte devido à Guerra de Ucrânia, a inflação, a crise energética. Esse negócio é sensível, delicado e frágil e sempre está ao sabor das circunstâncias."

Segundo estatísticas do Ministério da Cultura da Espanha, o cinema parece ser o setor que mais sofreu. O número de espectadores em 2020 caiu 74,3% em relação a 2019. A queda na bilheteria foi semelhante: 73,8%. "Um declínio anual sem precedentes", apontou trecho grifado do relatório do ministério, divulgado em novembro do ano passado. Dados de 2021 e 2022 não indicam recuperação.

"Creio que agora se assistem filmes em casa, no streaming ou na TV, e as pessoas reservam as salas de cinema apenas para o caso de filmes espetaculares. Ainda assim tivemos recentemente alguns sucessos de filmes feitos na Espanha, como 'Mães Paralelas', de Pedro Almodóvar, e 'El Buen Patrón', de Fernando León de Aranoa", opina o jornalista Juan Cruz, do grupo Prensa Ibérica.


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O teatro, por fim, passa por um momento frágil. A temporada passada (setembro de 2021 a julho de 2022) foi bastante irregular, segundo a jornalista especializada Marta García Miranda. "Foi bem até o final de 2021, mas agora, no primeiro semestre, os espectadores diminuíram de forma bastante preocupante. A estimativa de queda está entre 10% e 20%. A associação de produtores na Catalunha estimou queda menor, de uns 6%, porque os empresários teatrais de Barcelona tomaram várias medidas para chamar público."

Segundo ela, fatores como a guerra, a inflação e também o tempo bom, que de alguma maneira ajuda a tirar pessoas de recintos fechados, contribuiram. "Creio que houve também uma mudança de hábitos devido à pandemia, de as pessoas não se programarem tanto. Hoje se pode decidir na última hora assistir a um teatro e conseguir entradas no mesmo dia para um espetáculo importante e popular, o que era impossível antes", disse.


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