Descrição de chapéu Câncer de Mama câncer

Cirurgias de mama se tornam menos radicais, mas dependem de diagnóstico precoce

Pacientes têm mais chance de cura se o tumor é detectado no início e tratado rapidamente

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São Paulo

Ao receberem o diagnóstico de câncer de mama, pacientes temem mastectomias radicais, que removem os seios, os linfonodos e até os músculos peitorais. O avanço de tratamentos como a quimioterapia, no entanto, permite a realização de uma cirurgia conservadora, que retira apenas a região afetada pelo tumor.

É o que afirma Ana Paula Refinetti, professora adjunta no Departamento de Cirurgia Oncológica da Mama do MD Anderson Cancer Center, da Universidade do Texas (EUA).

Segundo a cirurgiã, a aplicação da quimioterapia antes de operar, por exemplo, permite que tumores grandes diminuam ou até mesmo desapareçam, o que torna a cirurgia, a lumpectomia, menos invasiva.

Durante seminário, duas telas mostram Ana Paula Refinetti, Bruna Zucchetti e Gabriella Antici; no palco, está a mediadora Carolina Marcelino
Da esq. p/ dir., estão Ana Paula Refinetti, Bruna Zucchetti, Gabriella Antici (todas na tela) e a mediadora Carolina Marcelino (no palco) - Jardiel Carvalho/Folhapress

Isso contribui também para a reconstrução da mama. Se o procedimento de remoção é conservador, é possível fazer com que os seios fiquem do mesmo tamanho e formato por meio de próteses ou com implantes a partir de tecidos da barriga da própria paciente, diz Refinetti.

"A parte estética é muito importante para a paciente, porque influencia na qualidade de vida depois do tratamento. Quanto mais precoce é o diagnóstico, menos mórbidas são as cirurgias."

A reconstrução mamária é um direito das pacientes mesmo quando o tratamento é feito pelo SUS, ressalta Bruna Zucchetti, oncologista especialista em câncer de mama do Hospital Nove de Julho, da Dasa, em São Paulo.

A economista Gabriella Antici, 55, teve a doença em 2015 e em 2017. Com um tumor de três centímetros positivo para receptores de hormônios femininos e HER2, fez quimioterapia e cirurgia para retirar as mamas e pôr próteses durante o primeiro tratamento.


Assista ao seminário completo:


A operação conservou as aréolas, mas o câncer voltou no local após dois anos —por isso, ela fez radioterapia e uma nova operação para remover a região. "Hoje, as minhas mamas são mais bonitas do que eram antes, depois de ter amamentado três filhos", diz.

Antici é fundadora e presidente do Instituto Protea, iniciativa criada em 2018 para custear o tratamento completo de pacientes com baixa renda. A economista lidava com a doença pela segunda vez quando soube do caso de uma mulher que teria de esperar seis meses para começar a se tratar no SUS.

"Como os hospitais públicos não conseguem tratar todo mundo, o SUS credencia instituições filantrópicas e privadas para atender seus pacientes. Ele paga, mas não é o suficiente para cobrir o custo do tratamento, então esses hospitais limitam a quantidade de pacientes do sistema público que serão atendidos", afirma.

Financiado por doações, o Protea firmou parceria com o Hospital Santa Marcelina e usa os recursos para aumentar o número de pacientes do sistema público recebidas no local. Em quatro anos, 1.150 mulheres foram beneficiadas.

Segundo a economista, o Protea ampliou a capacidade do Hospital Santa Marcelina em 50%, de 15 para 30 casos recebidos por mês. Hoje, a organização pretende investir inclusive em diagnóstico, pois notou que metade das pacientes chegam ao hospital em estágios avançados da doença.

Quando o câncer avança, a possibilidade de sobrevida da paciente em cinco anos é de 30% a 40%, explica Refinetti.

Embora sejam mais comuns após a menopausa, esses tumores também acometem mulheres jovens —nesses casos, a identificação tende a ser tardia, em fases agressivas.

Ela afirma que as principais dificuldades para o diagnóstico precoce e para a cura são o acesso insuficiente a exames e consultas, a falta de informações sobre os sinais da doença e, quando se chega aos serviços de saúde, as lacunas de comunicação —sem orientação, as pacientes podem se perder entre as etapas de um tratamento multidisciplinar.

Para ela, uma mudança de perspectiva passaria, entre outros pontos, pelo aumento da quantidade de exames feitos —inclusive aproveitando ao máximo a capacidade de uso dos mamógrafos.

"Vejo estudos no Brasil mostrando que 40% das mulheres levam mais de 90 dias entre a apresentação do sintoma e a ida ao especialista. Esse tempo precisa ser diminuído."

Alguns casos pedem ressonância magnética, PET Scan (exame de imagem do corpo inteiro) e testes genéticos para identificar casos hereditários, mas a mamografia é o principal exame, afirma Zucchetti.

"Não tem fórmula mágica. Precisamos fazer com que as mulheres façam exames de rastreamento anualmente."

A indicação de rastreamento desse câncer vale para mulheres de 50 a 69 anos, grupo no qual a incidência é maior, mas é recomendável manter o exame anual em mulheres mais velhas em alguns casos, diz Zucchetti. A oncologista acrescenta que, com um bom estado de saúde, idosas podem receber tratamento completo, como ocorreu com a avó materna de Antici, do Protea, que teve a doença aos 70 anos.

Com mediação da jornalista Carolina Marcelino, Refinetti, Zucchetti e Antici discutiram os desafios de pacientes na terça (4), durante o seminário Câncer de Mama, promovido pela Folha com patrocínio da Dasa Oncologia.

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