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Setor de logística ganha destaque na pandemia e atrai jovens

Crise acelerou transformações com maior demanda por rastreabilidade e entregas agendadas

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Luciana Alvarez
Lisboa

Logo no início da pandemia, o papel higiênico sumiu das prateleiras dos mercados. Na sequência, foram os serviços de entrega de produtos a domicílio que tiveram dificuldade em cumprir prazos. Depois de alguns meses, os materiais de construção para pequenas reformas escassearam. Para completar, o encalhe de um navio no Canal de Suez fez o preço dos fretes disparar e os contêineres desapareceram.

Todos esses acontecimentos evidenciaram como nunca a importância da logística, assim como a necessidade de profissionais com formação na área.

Na FGV (Fundação Getulio Vargas), logística é a área de MBA mais procurada desde o ano passado. Passou à frente de finanças, direito e marketing.

"Questões que não ganhavam muita relevância, começaram a se tornar uma preocupação para as empresas. A demanda por profissionais e, por consequência, por cursos de logística, está em alta", afirma o coordenador do MBA LIVE em Logística da instituição, Alexandre Pignanelli.

Desde que era estagiário, o engenheiro de produção Erhard Edgard Kux, 33, trabalha com logística. Ele diz ter sentido na pele o quanto a visão sobre sua função tem se transformado.

"O setor era visto como um custo e tinha de ser o menos possível: no armazém, na empilhadeira, na entrega. Hoje, muita gente adquiriu o hábito de comprar online, o que acirrou a competição. A logística passou a fazer parte da experiência do cliente. Algumas pessoas preferem pagar mais para ter rastreabilidade e data de entrega agendada", conta.

Por mais que tivesse experiência na área, Kux buscou o MBA da FGV no ano passado para se manter atualizado durante um momento crítico do seu setor. "O curso instrumentalizou as teorias, permitindo que eu praticasse certas coisas no dia a dia, sem perder o rigor acadêmico. Também me fez ‘sair da bolha’, por ter colegas de Norte a Sul e poder conhecer outras realidades do país", diz.

O coordenador do MBA explica que, além das questões conjunturais da pandemia, o mundo passa por mudanças estruturais que vão exigir cada vez mais especialistas e lideranças com conhecimento de logística. O setor, portanto, deve continuar em alta por muitos anos, acredita.

"A globalização e a digitalização são irreversíveis; a pandemia acelerou processos que já vinham acontecendo", afirma Pignanelli.

A FIA (Fundação Instituto de Administração) também tem registrado um aumento recente no número de interessados nos cursos de pós-graduação em Logística e Distribuição e MBA Inovação em Supply Chain.

"Tivemos uma baixa geral nas matrículas por causa da pandemia, porque são cursos longos, que as pessoas fazem quando sentem que têm estabilidade. Mas agora as buscas na área de logística cresceram muito, e esperamos que isso se reverta em aumento de matrículas em breve", afirmou o coordenador da área, Nuno Fouto.

Segundo Fouto, uma especialização faz muita diferença para a carreira porque logística é uma área pouco explorada nas graduações. "Ela está presente em administração e engenharia, mas em geral com pouco espaço. Quando começam a trabalhar com isso, os profissionais precisam buscar conhecimentos", explica.

Uma especialização, diz Fouto, é mais recomendada para quem precisa de conhecimentos técnicos e práticos. Já um MBA ajuda quem já tem alguns anos de experiência e busca aprender sobre como gerir pessoas e funções na área.

Para os dois cenários, o coordenador garante que há espaço de crescimento. "O Brasil tem um déficit enorme de profissionais e de projetos. Há demandas no agronegócio, nos transportes, nos pequenos ecommerces", cita.

A perspectiva positiva para os próximos anos tem inclusive mudado o perfil dos alunos, segundo Fouto. Ele diz que cada vez mais jovens e mulheres buscam estudos no setor. "É um movimento que tenho sentido forte de uns cinco anos para cá".

O Centro Universitário Senac não divulga números de procura ou matrículas, mas Cesar Akira Yokomizo, coordenador da pós-graduação em Logística Empresarial, também reconhece uma "revitalização da área". Para ele, o fenômeno é mundial e tem relação também com uma visão ultrapassada sobre as responsabilidades do setor.

"Há falta crônica de profissionais qualificados não apenas no Brasil, mas no mundo. Alguns motivos se sobrepõem, mas muitos versam sobre a visão de que a logística é excessivamente operacional. Há quem acredite que, por exemplo, logística é quem dirija o caminhão. Mas a logística envolve uma visão mais ampla e que conecta diferentes áreas do negócio: vendas, produção, operações, jurídico, estratégia e parcerias, apenas para citar algumas", diz Yokomizo.

O engenheiro de produção Erhard Edgard Kux, 33; ele trabalha com logística
O engenheiro de produção Erhard Edgard Kux, 33; ele trabalha com logística - Arquivo pessoal
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