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Área de análise de dados tem demanda por cientista político

Com poucas opções de graduação, interessados na área costumam cursar ciências sociais e seguir para um mestrado

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Denise Meira do Amaral Roberto Saraiva
São Paulo

Em tempos de acirramento de opiniões cada vez mais intenso, entender e explicar os meandros da política e das estruturas sociais tem passado de curiosidade de poucos a necessidade de todos.

Essa maneira de organizar a vida em sociedade é esmiuçada pela ciência política, usando métodos de disciplinas como física, química e biologia.

Ou seja, partilha do chamado método científico, em que observações levam a hipóteses e previsões que depois serão testadas em experimentos controlados.

Ester Borges, cientista política e coordenadora de Informação e Política do Internetlab
Ester Borges, cientista política e coordenadora de Informação e Política do Internetlab - Jardiel Carvalho/Folhapress

Ester Borges, 25, já se interessava por política desde menina, quando lia o caderno infantil Folhinha, da Folha. Seus pais se conheceram na faculdade de comunicação social —ler e debater os assuntos do mundo era comum em sua casa. Na escola, fez parte do grêmio e, na faculdade de relações internacionais da USP, do centro acadêmico.

Chegou a pensar em ser jornalista e cobrir os bastidores do poder, mas outro desejo falou mais alto.

Após a graduação, Ester entrou para o mestrado em ciência política na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, trilhando o caminho da maioria dos profissionais da área.

Hoje, ela é coordenadora da área de informação e política do Internetlab, que promove o debate e a produção de conhecimento nessas áreas.

Ela analisa como as redes sociais mudaram a forma como falamos de política e como isso transformou a campanha eleitoral.

Entre os projetos em andamento, estão um guia voltado para explicar como influenciadores e atores de comunicação podem participar do debate, um compilado de como cada plataforma lida com discurso de ódio e um estudo sobre como o brasileiro usa aplicativos como WhatsApp e Telegram nesse contexto.

São pouquíssimos cursos de graduação no Brasil —cerca de 30 distribuídos pelo país, sendo grande parte a distância. Os cientistas políticos costumam se formar após o mestrado ou até mesmo um doutorado.

Ou seja, se o estudante ingressar em ciências sociais, guarda-chuva da ciência política e graduação mais comum entre os estudantes, teria no mínimo mais sete anos e meio pela frente.

João Paulo Veiga, chefe do departamento de ciência política da USP, explica que o campo de atuação do profissional é bastante diverso.

Ele pode trabalhar com institutos de pesquisa eleitoral, em expansão, ou com pesquisa de mercado na área de marketing, entre outros.

Já a carreira acadêmica tem decepcionado. Sem concursos públicos desde 2014, há milhares de doutores sem emprego, afirma Veiga. "Muitos acabam indo trabalhar no exterior ou mudam de área."

Por outro lado, cientistas políticos focados em análise de dados estão em alta, especialmente de cinco anos para cá.

Treinados a processar grandes quantidades de informação, precisam apenas de capacitação tecnológica específica.

"Você pode trabalhar em um hospital com um software de imagens detectando doenças através de um sistema automatizado de machine learning, já que o cientista político possui recursos para fazer uma leitura fina de certos fenômenos", diz Veiga.

Débora Thomé, 45, doutora em ciência política pela UFF (Universidade Federal Fluminense), explica que a profissão requer saber falar ou estar disposto a aprender inglês, para poder ler grande parte dos estudos, além de respirar política, trabalhar com dados e estar atento ao macro.

"O jornalismo olha o dia a dia. Na ciência política a gente tenta entender os grandes movimentos. Estamos tentando ver a floresta toda."

Apesar do nome, Débora lembra que a a área não forma políticos, mas estuda sobre a política e como funcionam os processos.

"Se você quiser ser político, precisa estudar como fazer alianças. A gente não aprende isso em nenhum momento".

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