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Ser nômade digital é algo que vem na onda do movimento "work from anywhere" (trabalho a partir de qualquer lugar). São pessoas que só dependem da internet para trabalhar.

É tendência: cerca de 35 milhões de pessoas adotam esse estilo de vida e, até 2035, a estimativa é que 1 bilhão de pessoas devem aderir a ele, segundo o relatório global de tendências migratórias, de 2022, da Fragomen.

Importante: um nômade digital é diferente de um turista. No primeiro caso, a pessoa trabalha, estuda e faz turismo em qualquer lugar do mundo, enquanto o turista está apenas viajando, em um momento de lazer.

Lugares ideais: o site Nomad List mostra os melhores lugares para morar e trabalhar remotamente de acordo com aspectos como qualidade de vida e velocidade da internet.

Segundo o site, as cidades mais populares entre os nômades são, nesta ordem:

1. Koh Phangan, na Tailândia
2. Bancoc, capital da Tailândia
3. Cidade do México, no México
4. Ubud, cidade em Bali na Indonésia
5. Florianópolis, no Brasil

Dá para ser nômade trabalhando em quais áreas? Qualquer uma —basta ter um emprego remoto.

• Na saúde: "A pandemia abriu portas para profissões que não imaginávamos que poderiam ser executadas de modo remoto, como psicólogos e médicos que atendem de forma online", diz Marina Brandão, gerente da recrutadora Michael Page.

• Na tecnologia: desenvolvedores de aplicativos e profissionais de cibersegurança, além de áreas que trabalham com software, diz Wagner Sanchez, pró-reitor do Centro Universitário FIAP (Faculdade de Informática e Administração Paulista).

• E mais: professores podem embarcar nesse modelo ao dar aulas a distância, acrescenta Sanchez.

Parece maravilhoso. Mas é para qualquer um? Não. Veja quais características são importantes no nomadismo:

1. Ser organizado e priorizar as entregas no trabalho.

• É muito fácil se perder quando se está em um lugar com uma paisagem paradisíaca, afirma Brandão.

2. Estabilidade emocional para lidar com imprevistos.

3. Autogestão para encontrar equilíbrio entre lazer e trabalho.

• "Sem disciplina, a pessoa pode trabalhar muito e não terá tempo de conhecer o lugar ou vice-versa. É preciso equilíbrio", afirma Lilian Cidreira, especialista em carreiras e professora em cursos de MBA da ESPM.

Acabei a faculdade e quero ser nômade. É recomendado? Especialistas dizem que não.

• Profissionais em início de carreira perderiam a troca de conhecimento com profissionais experientes no formato presencial, argumenta Brandão.

• "Vejo como nômades os profissionais que já desempenham posições em níveis de sênior ou pleno", concorda Sanchez.

• Mas...Se desejar seguir no nomadismo, é indicado buscar mentores, pessoas que possam ajudar a nortear esta escolha.

A parte boa...

• Mais qualidade de vida: por causa da flexibilidade para fazer atividades que gosta.

• Realização pessoal: por ter a possibilidade de escolher onde trabalhar, seja na praia ou no campo.

• Custo de vida: é possível estar em cidades que têm moradia e transporte baratos, mesmo trabalhando para empresas com sede em locais de custo de vida elevado, diz Sanchez.

• Vivência em culturas diferentes: o profissional passa a saber lidar com diferentes ambientes e experiências de trabalho. Isso amplia repertório, desenvolve competências e fortalece o networking, diz Sylvia Hartmann, consultora de empresas para modelos de trabalho e conselheira de carreira.

...e a parte ruim

• Instabilidade: é preciso ter um trabalho remoto fixo ou estar sempre atrás de serviços para não ficar sem renda.

• Estrutura: internet e ambientes confortáveis são essenciais para poder trabalhar, o que nem sempre está disponível.

• Menos contato: a conexão com a empresa pode ser mais frágil ao não ter convívio e vínculo com seu gestor. "Você não respira o dia a dia da organização", explica Sanchez.

Se um brasileiro quer ser nômade digital, qual tipo de visto precisa obter? Hoje, cerca de 40 países —como Austrália, México, Indonésia— editam vistos especialmente para nômades, de acordo com o advogado Renan Moreira.

"São vistos temporários, com duração média de um a dois anos. Esse visto é interessante porque costuma ser rápido e não tão burocrático para tirar. Cada país tem uma regra diferente que varia desde hospedagem a tempo de duração. Alguns exigem que a pessoa tenha uma remuneração fixa ou um valor na sua conta bancária", explica Moreira.

Quer adotar esse modelo? Veja dicas abaixo.

Vida de nômade digital

Jovens contam como adotaram esse estilo de vida e dão dicas para quem deseja seguir o mesmo caminho.

Talia viaja pelos estados brasileiros com suas cachorrinhas, que descreve como "nomadogs", chamadas Katia Cega e Maggie. Antes mesmo da pandemia, ela já tinha um trabalho remoto. Somado com o desejo de sair viajando e buscar qualidade de vida, decidiu ser nômade.

Quais os benefícios? "Ser nômade me ajudou a ver o trabalho com mais equilíbrio. Tudo tem o seu tempo, não precisa ter medo de desacelerar. Crescemos na correria de querer conquistar tudo antes dos 30 e saí de casa cedo para ser independente. Trabalhei muito a ponto ter uma crise de ansiedade. Depois que comecei a ser nômade, consigo me planejar para conhecer esses ambientes e não trabalhar demais."

E o lado ruim? "A parte ergonômica e prática de trabalhar na ausência de um escritório adequado. Na maioria dos lugares em que morei, não tinha mesa ou cadeira para trabalhar, ou a internet era péssima e só descobri quando cheguei no local. São coisas que, sendo autônomo ou não, é você que tem que se virar e bancar."

O lado negativo de viajar sozinha. "Como falo sobre minha vida de nômade nas redes sociais, sinto que sou mais vigiada. Recebo perguntas invasivas como: 'você está morando e viajando sozinha? Você não tem namorado? O que seus pais acham?'. Já passei por casos de perseguição e comecei a ficar mais atenta com a minha segurança. Evito falar para quem acabei de conhecer que estou viajando."

Dicas para quem quer ser nômade: Ter uma reserva financeira que seja o suficiente para te sustentar por seis meses, caso fique sem emprego. Além de fechar as hospedagens com antecedência para evitar gastos em períodos de alta temporada. "Procure capitais porque terão estruturas melhores para trabalhar com conforto como internet e luz. Em Maceió, por exemplo, há um espaço de coworking gratuito."

Luís uniu o desejo de viajar e a possibilidade de trabalhar de maneira remota para ser nômade digital. Desde então, já passou por dez países e seis estados brasileiros.

Quais os benefícios? Por ser da área de front-end, responsável pela parte visual e interativa de um software, Luís precisa de muita criatividade. "Ser nômade é estar em contato com constantes mudanças, diversas pessoas, línguas diferentes que aguçam a minha criatividade. Ajuda também na habilidade de resolver problemas."

Alô, networking. Ele conta que já esteve em um hostel com pessoas do mundo inteiro trabalhando remotamente. "A maioria eram programadores. Compartilhamos ideias sobre o que estavam fazendo e problemas que estavam resolvendo. Isso é bom para trazer soluções diferentes para o meu trabalho. É algo que alavanca minha carreira."

Para evitar perrengues…"Dou preferência para ficar em um hostel, sempre olho as fotos e avaliações do lugar. Antes de ir, entro em contato com o funcionário do local para fazer um teste de internet e avalio se está de acordo com o que preciso."

Dicas para quem quer ser nômade: "Vá devagar. Fique uma semana viajando e trabalhando para entender se consegue ser produtivo. Outra dica: faça um planejamento financeiro. Entenda que está começando, não terá um alto salário. Por isso, não queria iniciar a jornada viajando pela Suíça. Busque lugares em que irá gastar menos ou fazer trabalhos voluntários."

Lucas nunca se identificou com um estilo de vida "tradicional". "Desde novo, sempre me imaginei fazendo intercâmbio e viajando pelo mundo. No momento em que enxerguei essa possibilidade, sabia que era um estilo de vida que queria." Há dois anos como nômade já visitou três países, Paraguai, Chile e Argentina, e diferentes estados brasileiros.

Quais os benefícios? Por trabalhar com comunicação criativa, o contato com outras vivências ajuda a "sair da bolha" ao conhecer pessoas novas com pensamentos diferentes. "Isso faz com que o resultado da minha criação no trabalho e percepção de vida sejam ampliados. Consigo ter resultados no meu trabalho, desenvolvendo mais criatividade ao me expor a outros ambientes e culturas."

Para evitar perrengues… "Desde que comecei no nomadismo, sempre escolhi capitais porque são os lugares com melhor acesso a internet em hostel ou outras estadias. Minha preocupação é focar em ter acomodações confortáveis. Também busco espaços de coworking."

Dicas para quem quer ser nômade: "Faça um planejamento financeiro. A satisfação em viver esse estilo de vida está associada a suas finanças, já que isso pode limitar as experiências que deseja viver. Por isso, caso a pessoa tenha apenas um emprego, indico encontrar outras fontes de renda para somar nessa reserva financeira."