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Se conciliar carreira e estudos dá trabalho, imagine quando a maternidade se soma a essa equação.

O impacto do nascimento de um filho na participação de homens e mulheres no mercado de trabalho foi tema de um estudo publicado em 2022 por pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios do IBGE.

O resultado? Mulheres que estão no início da vida adulta (18-24 anos) e com filhos pequenos (0-5 anos) são as que mais apresentam dificuldades para se inserir no mercado de trabalho.

Por quê? Elas podem precisar interromper os estudos e, como consequência, não conseguem empregos com boas remunerações no futuro.

"Se essa jovem mãe para de trabalhar, é difícil conseguir voltar em condições semelhantes a que saiu porque o capital humano dela se depreciou", diz Janaína Feijó, pesquisadora principal do estudo e economista do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Por que a resistência em contratar mães? A resposta das especialistas foi unânime: desigualdade de gênero.

• Normas sociais e culturais como a de que os cuidados com os filhos são apenas responsabilidade da mulher.

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Quando se é mãe jovem, quais os desafios no trabalho?

• Saber conciliar. "Uma mãe que teve filho aos 24 anos, por exemplo, lida com uma tripla pressão. Cuidar de uma criança, com a pressão de ser mãe de primeira viagem, e enfrentar desafios como voltar a estudar e voltar ao trabalho", afirma Feijó.

• Sonhos interrompidos. Sem uma rede de apoio, essa sobrecarga e as restrições financeiras atreladas ao início de carreira são fatores que levam mães jovens a abandonarem suas carreiras.

• Desmotivação. "Muitos empregadores assumem que, por serem mães não terão condições de assumir desafios maiores em posições de liderança", diz Monique Stony, executiva de RH e criadora do perfil Mães na Liderança no Instagram.

Caminhos para mudar essa realidade? É preciso prover uma rede de apoio que parte desde a família até o trabalho.

• Como? "As organizações têm um papel de recolher, reinserir e de criar medidas para garantir que essa pessoa consiga conciliar filhos e carreiras. Como o oferecimento de licenças estendidas, jornadas flexíveis e auxílio creche", diz Michelle Levy, cofundadora da consultoria Filhos no Currículo.
• Por quê? "Quando a mãe se sente segura, ela consegue se dedicar e ser mais produtiva no trabalho. São ganhos mútuos", diz Feijó.

• Importante: "Depois que nos tornamos mães, desenvolvemos resiliência. A nossa criatividade aflora porque precisamos resolver várias coisas ao mesmo tempo. São características que podem ajudar na solução de problemas de equipe", diz Fernanda Miranda, cofundadora e COO da startup Se Candidate, Mulher!.

A jovem é obrigada a dizer que tem um filho na entrevista de emprego?

• Para Stony a resposta é não e alerta que se esse tipo de pergunta aparecer é um sinal para buscar outras oportunidades.

• Por quê? "Provavelmente as práticas da organização não são a favor da diversidade e inclusão", diz.

• Miranda faz coro à Stony e diz ser uma pergunta desnecessária, mas se surgir, a mãe deve ser sincera e deixar claro que mesmo com filhos será capaz fazer um bom trabalho.

Conheça iniciativas que promovem empregabilidade entre mães:

• Ser Mãe, dá trabalho, um projeto da Filhos no Currículo e B2Mammy focado na recolocação de mães no mercado de trabalho;

• Marias, iniciativa da Se Candidate, Mulher! que vai oferecer uma capacitação gratuita para mães ou responsáveis legais da área de engenharia, tecnologia ou comercial. As inscrições vão até dia 30 de maio.

Minha Experiência

Mulheres contam desafios de serem jovens mães no mercado de trabalho.

Laura optou por fazer a faculdade de publicidade à distância para conciliar os cuidados com o bebê e os estudos. Hoje, trabalha de forma remota em uma agência de publicidade.

Quando estava grávida... Sofreu um burnout no trabalho no sétimo mês de gestação. "A gravidez já traz um cansaço por si só e, por muitas coisas ao mesmo tempo no emprego, cheguei no meu limite. Chorava o tempo todo por exaustão e medo de não ter dinheiro."

Por esse motivo, Laura saiu do emprego e focou em se dedicar ao seu filho. Mas depois de alguns meses decidiu que era hora de voltar. Há 15 dias, retornou ao mercado de trabalho. "Mesmo cuidando do meu filho em tempo integral, me sentia inútil por não estar trabalhando, especialmente na minha área que exige criatividade. Não estar criando algo me deixou deprimida."

Bebê nasceu e... Laura acredita que não vão confiar tantas tarefas ou que não será capaz de dar conta de todas as atividades por ser mãe. Ela diz que sua sorte é ter um chefe compreensível que permite horários flexíveis.

É possível conciliar desenvolvimento de carreira com a maternidade? "Não sei se é possível 100%. Depende de cada um e está tudo bem se não der. Eu só consigo dar conta por ter uma rede de apoio."

Carolina ficou grávida no início de 2020 e durante a gestação trancou a faculdade. Hoje, concilia trabalho, graduação e cuidados da sua filha de três anos de idade.

E não é fácil dar conta de tudo..."O mais é complicado é estudar. O tempo que estou em casa quero me doar para a minha filha e me sinto culpada por me trancar no quarto para estudar. Tudo vai pesando. Mas minha mãe sempre fala o que estou fazendo agora é para o meu bem e da Clara. Já chorei muito por pensar que não estou sendo a mãe que ela precisa."

Desafios por ser mãe jovem no trabalho: "Faço estágio em uma farmácia de manipulação. Há aquela desconfiança por ser jovem, mãe e estudante universitária. 'Será que ela vai ficar no estágio? Vai conseguir trabalhar?' No meu emprego atual, já perceberam que isso não tem sentido e que meu trabalho é bem feito."

Até na entrevista de emprego..."Me perguntaram se eu teria muitos compromissos com a minha filha durante o horário de trabalho. São questões que podem pesar contra uma mãe jovem."

É possível conciliar desenvolvimento de carreira com a maternidade? "Sim e até melhora por conta da responsabilidade. Depois que a Clara nasceu, vi que a minha faculdade seria a minha carreira e o que levaria nós duas para frente."