Descrição de chapéu mercado de trabalho

É proibido? Posso ser demitido? Cinco perguntas sobre namoro no trabalho

Newsletter FolhaCarreiras explica que cuidados tomar quando uma relação profissional passa a ser amorosa

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São Paulo

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O trabalho é onde passamos a maior parte do nosso tempo. É inevitável, então, que nele surjam potenciais interesses românticos que balancem nosso coração.

Mas nem tudo são rosas no ambiente corporativo.

Pensando nisso, a edição de hoje vai responder a cinco perguntas sobre relacionamentos com alguém do trabalho. Vamos nessa?

Foto mostra duas silhuetas, um homem e uma mulher, de braços dados em um ambiente que parece ser corporativo. Ele é branco, usa terno cinza e segura uma maleta. Ela também é branca, aparece sorrindo, segura uma bolsa amarela e está de camisa branca e calça azul. Os rostos dos dois não aparecem por completo.
Se a empresa proíbe relacionamentos entre colaboradores, ela está ferindo direitos previstos pela Constituição - Polkadot/Adobe Stock

1) A empresa pode proibir? Não, não pode.

De acordo com a Constituição (artigo 5°, inciso X), "são invioláveis a intimidade e a vida privada das pessoas".

  • Ou seja, se a empresa proíbe relacionamentos entre colaboradores, ela está ferindo direitos previstos em lei.

"O que ela pode fazer é colocar recomendações nos códigos de ética e conduta", afirma Grácia Fragalá, especialista em gestão de pessoas e conselheira da ABQV (Associação Brasileira de Qualidade de Vida no Trabalho).

As regras mais comuns são sobre demonstrações de afeto, relações entre colaboradores da mesma área e entre líderes e liderados (spoiler: vamos falar mais disso abaixo).

  • "O principal intuito é evitar ruídos, interferências na produtividade e deterioramento do clima interno", diz Fragalá.


2) Posso ser demitido por isso? Somente se o casal ferir as regras internas e agir de forma inadequada.

"É importante que o colaborador conheça e cumpra o código de normas da empresa para se proteger", diz Miriam Rodrigues, professora de Comportamento Organizacional e Gestão de Pessoas na Universidade Mackenzie.

  • Se não existirem regras fixas, a dica é contar para o RH e para a liderança assim que o relacionamento firmar. Depois, alinhe condutas com eles.

Ter um comportamento considerado inadequado também pode ser motivo para demissão.

3) Que cuidados tomar para que a relação não interfira no trabalho, e vice-versa?

"O casal precisa distinguir bem dois papéis: o profissional e o de parceiro romântico", diz Fragalá.

No trabalho, o profissionalismo tem que se sobrepor ao romance –e isso precisa ser acordado pelo casal com muita transparência.

  • Exemplo: uma briga não pode ser motivo para que os colaboradores deixem de interagir em tarefas que dividem.
  • O casal pode criar combinados de posturas e modos de agir para evitar desconfortos.
  • Se estão na mesma área da empresa, o ideal é que um dos colaboradores seja realocado internamente.

Em casa, o trabalho não pode ser o único tema de conversa do casal.

  • "É preciso estabelecer um limite, até para não ultrapassar a linha tênue de conflitos do relacionamento e conflitos profissionais", diz Lucas Freire, psicólogo organizacional.
  • Vale criar acordos. Por exemplo: estabelecer um horário para não falar mais de trabalho.
  • Expandir os círculos de relações também é importante para não restringir a rede de amigos do casal.

4) Virei fofoca. E agora? De duas, uma:

Ou ignore o burburinho e siga fazendo seu trabalho;

Ou seja transparente sobre o que está acontecendo.

  • "A fofoca aparece quando o casal tenta se esconder. O melhor antídoto é a transparência. Se essa relação for anunciada logo no início, o burburinho morre ali", diz Fragalá.

5) E quando o namoro é com um superior?

Em um relacionamento em que as partes estão em posições hierárquicas diferentes, é preciso ter cuidado para não prejudicar o trabalho e não verticalizar a relação fora dele.

"O líder, em especial, precisa ter muita cautela, porque uma posição de poder pressupõe tomadas de decisão", diz Lucas Freire.

  • Pode parecer que o líder está favorecendo o parceiro pela relação romântica, e isso tem o potencial de criar ruídos dentro da equipe.

E a relação de poder entre eles não deve se estender para fora do trabalho.

  • "Excesso de críticas ao desempenho do liderado pode minar a autoestima dele e deteriorar a relação", diz o especialista.

Por isso, o recomendado é que a relação seja comunicada ao RH e que, se possível, um dos colaboradores migre de área.

É importante saber distinguir um relacionamento saudável de casos de assédio no ambiente corporativo.

É assédio quando...

  • As abordagens são invasivas, recorrentes e causam desconforto;
  • Uma das partes se sente constrangida e tem medo de dizer "não";
  • Há ameaças de demissão, descumprimento de acordos e outras intimidações em relação ao trabalho;
  • O líder abusa da posição de poder;
  • Há toques físicos sem consentimento;
  • A vítima se sente descriminada pela aparência física, orientação sexual, entre outros;
  • Há humilhação diante de colegas de trabalho.

Sim, mas...Nem sempre é tão simples classificar comportamentos de assediadores. A gente publicou um texto (leia a aqui) que ajuda a identificar esses padrões.

Quando há assedio, é preciso que a vítima se sinta confortável para recorrer a um espaço de acolhimento dentro da empresa –seja um específico para situações de abuso, seja a própria área de RH.

  • "A organização precisa fornecer esse acolhimento e criar políticas de consequência", afirma Fragalá.
  • Recorrer a vias legais também é uma opção

Minha Experiência

Casal conta como é ter um relacionamento amoroso dentro do trabalho

Casados há cinco anos, Larissa e Felipe se conheceram no trabalho
Casados há cinco anos, Larissa Carvalho, 40, e Felipe Oliveira, 38, se conheceram no trabalho - Arquivo Pessoal

A urbanista Larissa e o engenheiro Felipe trabalham há oito anos no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Florianópolis (SC). Dividiram bancada para, depois, compartilharem alianças.

Escrito na lista de aprovados. Larissa conta que conheceu Felipe em agosto de 2015, quando passaram no mesmo concurso público. "Como fazíamos longos turnos juntos, criamos um elo bem forte, inclusive com as outras dez pessoas que tinham entrado conosco", diz. Durante um ano e meio, a relação era só de amizade, com idas a bares e outras saídas em grupo. Os colegas diziam que eles combinavam, e, depois de um tempo, o casal percebeu que "a afinidade ia além do trabalho e do bar". No final, os amigos foram padrinhos de casamento.

Profissionalismo. Não houve necessidade de contar para o RH, diz Larissa. "Por muito tempo, só quem convivia conosco sabia que estávamos juntos. Ninguém desconfiava que éramos um casal de namorados, e alguns só foram saber quando saímos para lua de mel. A relação sempre foi de muito profissionalismo."

A parte complicada. Felipe afirma que é difícil não misturar trabalho e vida pessoal. "Tivemos situações estressantes nos últimos anos, e era difícil não levar para casa o que estávamos vivendo juntos profissionalmente", conta ele. Um dos desafios era parar de falar de trabalho. O que ajudou foi ter amigos diferentes, de fora do escritório, e espaços de acolhimento dentro da relação. "Às vezes, o outro precisa se expressar e quer só um afago, não uma opinião sobre o que está acontecendo", diz.

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