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Rede social de Kanye West é Twitter de baixo orçamento com anúncios para impotência sexual

Parler, plataforma comprada pelo rapper, reúne perfis de conservadores e bolsonaristas sem engajamento

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São Paulo

A rede social Parler, comprada pelo rapper americano Kanye West nesta segunda-feira (17), foi vista em 2020 como um pilar da liberdade de expressão por conservadores americanos. A empolgação não durou muito.

A plataforma é esvaziada e funciona como um Twitter de baixo orçamento, com hashtags e funções equivalentes a tuítes e retuítes. No Parler, os textos podem ter até mil caracteres e ser editados, recurso que a outra deve lançar em breve.

A diferença é que não há pessoas e nem conteúdo. Os tópicos de interesse selecionados ao criar uma conta pouco importam, porque não há porta-vozes de nicho suficientes.

Anúncio patrocinado do Parler de remédio para disfunção erétil
Anúncio patrocinado do Parler de remédio para disfunção erétil - Reprodução

O Parler ganhou popularidade entre conservadores americanos em 2020, após sites como Twitter, Instagram e Facebook marcarem posts do ex-presidente Donald Trump e seus apoiadores com alertas de desinformação e incitação à violência.

Grupos de direita que se posicionam contra as políticas de moderação de conteúdo das grandes plataformas foram atraídos pela visão de liberdade de expressão propagada pela nova rede social.

"Políticas tendenciosas de curadoria de conteúdo permitem que grupos violentos e agressores influenciem as Diretrizes da Comunidade. Políticas neutras de ponto de vista do Parler promovem uma comunidade de indivíduos que toleram a expressão de todas as ideias não violentas", diz a seção "Nossos Valores" do site.

Na timeline do Parler, entre posts sobre liberdade de expressão e com frases motivacionais, aparecem anúncios de coletes à prova de balas, venda de armas e remédios para disfunção erétil.

Na coluna à esquerda, abaixo das seções "Perfil" e "Notificações", um link leva a uma loja virtual que vende camisetas com a frase "não vou ser cancelado". Na coluna à direita, há uma seção com notícias com chamadas críticas ao governo do presidente americano, Joe Biden.

A caixa de busca, acima, funciona mal e não consegue procurar por "parleys", forma como a rede chama seus tuítes. Abaixo das notícias, há um bloco com sugestão de perfis como Fox News e outros influenciadores de direita. Todos com baixo ou nenhum engajamento.

Anúncio patrocinado do Parler de colete à prova de balas
Anúncio patrocinado do Parler de colete à prova de balas - Reprodução

Por exemplo, o número de seguidores de perfis conservadores dos EUA raramente passa de 1 milhão. O dono da conta mais seguida, o senador republicano Ted Cruz, tem 5,1 milhões de seguidores, mas nenhum post.

Após o sucesso na direita americana, a rede social também conquistou bolsonaristas no Brasil. O presidente Jair Bolsonaro e seus filhos criaram contas no aplicativo e migraram conteúdos para a plataforma, convocando seus seguidores a fazer o mesmo.

No Brasil, o Parler tem ainda menos apelo que nos EUA. O perfil de Bolsonaro tem 107 mil seguidores, ante mais de 9,4 milhões no Twitter. As postagens se limitam a reproduzir o que foi publicado na outra rede social e conquistam de 20 a 30 curtidas.

Flávio e Carlos Bolsonaro, respectivamente, têm 118 mil e 133 mil seguidores, mas suas publicações também custam a atingir dezenas de interações. Eduardo Bolsonaro, com 806, restringe o perfil.

Anúncio patrocinado do Parler de compra e venda de armas de fogo
Anúncio patrocinado do Parler de compra e venda de armas de fogo - Reprodução

Contas de outras personalidades bolsonaristas como Filipe G. Martins, a deputada federal Bia Kicis (PL-DF), Ernesto Araújo e Abraham Weintraub, com poucos milhares de seguidores cada, não têm publicação alguma.

"Triste é ver que a direita ainda não entendeu que, se não fortalecer aqui e ficar no Twitter e Facebook, vai ser impedida de se comunicar na hora certa. Tudo o que postar lá, poste aqui. Mesmo sem visualização, para fortalecer aqui", comentou um usuário num post com 10 likes do influenciador Bernardo Kuster.

O aplicativo chegou a ser a ferramenta gratuita mais popular para iPhones na loja da Apple. No entanto, foi removido das lojas do Android e do iOS em janeiro de 2021, após a invasão ao Capitólio, em Washington, sob acusação de disseminar discurso de ódio.

Após a remoção, o Parler sofreu um apagão, com nomes da direita do mundo todo, incluindo bolsonaristas, migrando para o Telegram, onde permanecem até hoje –uma rede social de nicho não é necessária quando até as grandes plataformas falham em moderar seus conteúdos.

Neste ano, o Parler foi reintegrado às lojas de aplicativos e criou uma nova empresa controladora, a Parlement Technologies Inc, como parte de uma reformulação, mas segue com pouca relevância.

A publicação mais popular desta semana tem cerca de 8.000 curtidas. Postada pelo perfil oficial da rede social, ela anuncia a compra pelo rapper americano Kanye West.

O anúncio ficou fixado na timeline da rede social até esta quarta (19). Nesse período, a publicação atingiu cerca de 450 mil visualizações. O próprio rapper tem apenas 20 mil seguidores na plataforma, ante 31,5 milhões no Twitter.

"Este acordo vai mudar o mundo e mudará a maneira como o mundo pensa sobre a liberdade de expressão. Ye está fazendo um movimento inovador no espaço da mídia de liberdade de expressão e nunca vai precisar temer ser removido das mídias sociais novamente", disse o CEO da Parler, George Farmer, no post.

Kanye West decidiu comprar a rede social após ser bloqueado do Instagram e do Twitter por violar as diretrizes de conteúdo —mesmo já tendo recuperado as contas. Na tarde desta quarta (19), ele publicou pela primeira vez.

"Romanos 8-31: 'Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?'", escreveu.

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