Descrição de chapéu internet

Brasileiro tentou criar chatbot aos 9 anos, deixou Google e fundou startup de IA que vale US$ 1 bi

Daniel de Freitas se uniu a colega da big tech para fundar Character.AI, que captou US$ 150 milhões após seis meses no ar

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São Paulo

O chatbot da startup Character.AI é o terceiro desenvolvido pelo brasileiro Daniel de Freitas, 33, que fundou a plataforma de conversas com personagens avaliada em US$ 1 bilhão ao lado do americano Noam Shazeer, ex-colega de Google.

O primeiro chatbot foi quando ele tinha 9 anos. Incentivado pelos pais, embarcou no mundo da IA (inteligência artificial) e desenvolveu do zero um banco de dados, mas acabou esbarrando nas limitações da tecnologia da época, no fim dos anos 1990.

"Eu já sabia que faltava uma tecnologia que fosse escalável, e que aquele meu trabalho chegaria a um ponto em que não teria para onde ir, então não dei sequência", disse Freitas à Folha.

Homem branco com blazer e camisa azul abraçado com outro homem branco de boné e jaqueta puffer
O brasileiro Daniel de Freitas e o americano Noam Shazeer, ex-engenheiros do Google que fundaram a startup Character.AI - Divulgação

O segundo veio cerca de 20 anos depois. Após uma graduação em engenharia de computação na USP (Universidade de São Paulo) e um período de quatro anos como engenheiro de software na Microsoft, ele chegou ao Google em 2016 para trabalhar com machine learning (aprendizado de máquina) no YouTube.

Na época, após ler um artigo do Google Brain (área da big tech focada em pesquisas sobre IA) sobre chatbots que eram treinados com legendas de filmes, resolveu tentar mais uma vez construir o seu.

Para isso, usou um programa da companhia em que os trabalhadores podem destinar 20% da rotina para desenvolver ideias além de suas tarefas diárias. Batizou sua criação de "Meena" –um nome que veio enquanto sonhava –, que depois viria a se chamar de Lamda.

A sigla em inglês, que significa modelo de linguagem para aplicativos de diálogo, viria a ser a base do Bard, chatbot que o Google lançou para rivalizar com o ChatGPT, o robô sensação deste ano na internet e que também é usado no buscador Bing, da Microsoft.

Foi no Google Brain que Daniel conheceu Noam, um engenheiro que estava na companhia desde 2000.

Após terem identificado o potencial de sua criação, o brasileiro e o americano tentaram repetidas vezes convencer os executivos da big tech a liberarem o acesso do chatbot a pesquisadores externos ou até que colocassem no ar uma versão de demonstração ao público, de acordo com uma reportagem do jornal The Wall Street Journal.

Resignados com as negativas dos executivos, que recusaram o projeto por não atender aos patamares de segurança do Google, conforme o jornal americano, Daniel e Noam saíram da companhia em 2021 para criar a Character.AI.

Ambos se recusaram a comentar a reportagem do WSJ.

Na plataforma da startup que veio ao ar há seis meses, o usuário pode conversar com cerca de 2,7 milhões de personagens, incluindo gente famosa –viva ou não– e anônima.

Há perfis de personalidades do mundo todo, inclusive brasileiras, caso de Machado de Assis, Anitta e Neymar, e de políticos, como o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL).

A imensa maioria dos perfis é criada pelos próprios usuários. O que a startup faz é abastecer a plataforma com grandes quantidades de diálogos e de páginas da web, incluindo notícias e artigos sobre as personalidades públicas.

Os robôs não apenas jogam conversa fora. Eles podem ser usados para ajudar a redigir emails, resumir livros e escrever códigos de programação.

"Queremos que a pessoa use e customize a IA para o que ela precisa", disse Daniel. "Como construímos todas as etapas, desde o modelo de linguagem até a interface do site, o nível de personalização que o usuário tem é inigualável", afirmou.

Startup capta US$ 150 mi com seis meses de site no ar

Apesar do pouco tempo disponível ao público, a plataforma da Character.AI atraiu o fundo americano Andreessen Horowitz, um dos pesos pesados no mercado de investimentos em startups.

O veículo liderou uma rodada de investimentos de US$ 150 milhões (cerca de R$ 760 milhões) na startup, que a avaliou em US$ 1 bilhão (R$ 5,07 bilhões).

Acredito que as pessoas vão se acostumar a checar as respostas que recebem [dos chatbots] assim como elas fazem com as mensagens que chegam em seus celulares

Noam Shazeer

cofundador da starup Character.AI

O investimento vem em um momento em que as empresas de IA generativa, tipo de tecnologia que gera novos conteúdos, estão bombando desde o lançamento do ChatGPT.

Ao mesmo tempo, surgem questionamentos sobre se a tecnologia não está evoluindo tanto que pode se tornar um risco para a própria humanidade. O pensamento foi expresso em uma carta aberta assinada pelo bilionário Elon Musk e por especialistas pedindo uma pausa de seis meses na pesquisa sobre IAs mais potentes do que o GPT-4.

Daniel e Noam, assim como fundadores de outras startups de IA, estão entre os que defendem a continuidade do desenvolvimento da tecnologia.

"Os modelos de linguagem [que servem como base para os chatbots] que vemos hoje são como aviões que voam um trajeto curto, carregando apenas o piloto", disse o americano, se referindo ao potencial da tecnologia.

"Vai ficar cada vez mais fácil produzir texto que pareça ter sido escrito por um humano. Acredito que as pessoas vão se acostumar a checar as respostas que recebem assim como elas fazem com as mensagens que chegam em seus celulares", afirmou Shazeer.

O nome do americano aparecia entre os que assinaram o documento que pede uma pausa na pesquisa em IA, mas foi removido horas depois. A Character.AI informou, por meio de sua assessoria, que a inclusão de Shazeer havia sido forjada e, portanto, foi excluída.

Site permite criar personagem e avisa que tudo é inventado

Na plataforma da Character.AI, um aviso aparece no topo das conversas: "Lembre-se: Tudo o que os personagens dizem é inventado!".

A frase foi citada diversas vezes pelos fundadores da startup quando questionados sobre os riscos existentes na plataforma. Eles também dizem ter treinado o robô para desincentivar e não reproduzir discursos que causem danos às pessoas.

Além de conversar com perfis de pessoas famosas, o usuário pode criar um personagem anônimo e dar a ele as características que desejar, como a maneira com que se descreve, suas principais funções e se ele será visível a outras pessoas ou não.

Há ainda um campo onde podem ser inseridos exemplos de conversas e informações que definem o personagem. Apesar de ser limitado a 3.200 caracteres, essa etapa é importante para a criação de um perfil de alguém que tenha pouca informação disponível na internet.

Desde que a Character.AI lançou sua plataforma, em setembro de 2022, mais de 2 bilhões de mensagens foram enviadas pelos usuários, sendo 1 bilhão apenas no último mês.

Os usuários que enviam uma mensagem passam, em média, mais de duas horas por dia no site, segundo a startup.

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