Descrição de chapéu Inteligência artificial

Defesa dos EUA planeja fazer de IA principal gasto em inovação; China já prioriza tecnologia

Departamento de Defesa estima gastos de R$ 8,6 bilhões em 2024, mais do que o dobro investido em 2022

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O Departamento de Defesa dos Estados Unidos elegeu inteligência artificial como principal investimento em ciência e tecnologia no próximo ano. Desde 2022, chips e semicondutores ocupam o topo da lista de gastos militares na área.

No ano passado, a pasta responsável pela segurança nacional dos EUA investiu US$ 874 milhões (cerca de R$ 4,18 bilhões). A projeção para 2024 fica em US$ 1,8 bilhões, embora esse valor precise ser ratificado pela Casa Branca e aprovado pelo Congresso.

Soldados americanos na Polônia - Kacper Pempel/Reuters

Recursos de inteligência artificial são vistos como ativos estratégicos por potências militares, segundo o conselheiro de políticas públicas do CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha), Neil Davison.

A tecnologia não só acelera processamento de dados e identifica alvos e riscos, como também aumenta a escala de produção de propaganda e tradução de documentos de países inimigos.

Empresários do ramo da IA têm afirmado que parlamentares americanos precisam aprovar uma regulação para a tecnologia, mas é necessário cuidado para evitar que as regras atrapalhem a concorrência com a China.

"O perigo é que a regulação desacelere a indústria americana de uma maneira em que a China ou outro país progrida mais rapidamente", afirmou o chefe-executivo por trás do ChatGPT, Sam Altman, em audiência no Senado dos EUA.

O fundador da startup Scale, que vende soluções para o Departamento de Defesa, Alexandr Wang, faz coro. "Os chineses acreditam que conseguiram superar os EUA em IA, assim como fizeram no setor de fintechs, por causa do mercado de serviços financeiros americano ser estabelecido e regulado."

O ex-chefe-executivo e acionista do Google, Eric Schmidt, que hoje investe em inovações bélicas, afirmou em 2021 que a "China não parou desenvolvimentos por causa de regulação." Durante a gestão de Barack Obama, Schmidt participou de um conselho consultivo para modernizar o Departamento de Defesa dos EUA.

Todos eles podem ganhar dinheiro com o Estado americano como cliente. O contrato da Scale com a Defesa dos EUA para desenvolver uma IA assistente para militares, por exemplo, saiu por US$ 90 milhões.

Por outro lado, a China, de fato, começou a investir alto em aplicações de IA para conflitos antes dos EUA.

Levantamento do Centro para Segurança e Tecnologias Emergentes, vinculado à Universidade de Georgetown, mostra que o Exército de Libertação Popular investiu em equipamentos com IA entre US$ 1,6 bilhões e US$ 2,7 bilhões por ano de 2018 a 2020.

Embora a disputa entre EUA e China lembre a guerra fria, o conselheiro do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) avalia que existem diferenças fundamentais. No passado, governos americanos e russos puxaram a corrida espacial, e agora, o setor privado lidera o desenvolvimento de IAs.

Essa disputa também não é bilateral. Índia, Rússia, Reino Unido, Israel, Austrália e outros países desenvolvem IAs voltadas a conflito e segurança.

Ainda faltam informações, porém, de como essas tecnologias estão em ação em armamentos autônomos e também em táticas não convencionais, como guerras cibernéticas.

Segundo o New York Times, a China já usa reconhecimento facial para monitorar minorias étnicas, como os muçulmanos uigures, e para reprimir manifestações.

Os Estados Unidos já usam máquinas autônomas, como drones e sistemas antimísseis. O Departamento de Defesa determinou em janeiro deste ano que a decisão humana "em níveis apropriados" ainda é necessária para empregar força.

Os países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) pressionam a China para participar de acordo sobre princípios éticos para aplicação de IA em conflitos. "O próximo passo é acertar valores com a China para pavimentar uma via para o uso responsável, mas podemos talvez definir regras", afirmou o chefe da aliança Jens Stoltenberg em abril. Desde então, não houve avanços no tema.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.