Casais brasileiros ganham dinheiro enquanto viajam o mundo de carro

Livros, palestras e postagens em redes sociais são fontes de renda de turistas

Casal na frente de carro parado em frente à água
Henrique Fonseca, 31, e Sabrina Chinelato, 24, do projeto "Terra Adentro", na península Valdés, na Argentina - Divulgação
Wesley Faraó Klimpel
São Paulo

Largar a profissão ou tirar um sabático não precisa causar um rombo no orçamento. Livros, postagens em redes sociais ou palestras no retorno ao país são algumas das fontes de renda de quem está na estrada.

Foi o que fizeram o administrador Leonardo, 33, e a economista Rachel Spencer, 32, casal por trás do projeto “Viajo Logo Existo”. Eles visitaram, de Land Rover, 78 países em quase quatro anos, entre maio de 2013 e dezembro de 2016, num total de cerca de 130 mil km. Antes de partirem, decidiram quais seriam os países que visitariam e, a partir daí, calcularam quilometragens, quanto o carro fazia por litro, preço do diesel em cada lugar, época de chuvas.

A segurança financeira veio do aluguel do apartamento em que viviam em São Paulo. No início, a renda bancava todas as despesas, mas, no fim, o aluguel era responsável por apenas 40% da receita, o que os obrigou a encontrar outros meios para ganhar dinheiro.

“Não tinha escolha: ou a gente achava uma forma de aumentar a receita ou a gente acabava com tudo. Mas até isso custava dinheiro, já que teria que pagar o transporte do carro para o Brasil, comprar passagem”, afirma Leonardo.

As primeiras ideias foram investir no ecommerce e vender camisetas –projeto que não foi para a frente. Quando o primeiro ano de viagem acabou, avaliaram o que seus seguidores queriam e que tipo de informação ou produto comprariam. Tiveram, então, a ideia de publicar um livro sobre o período nas Américas.

Casal na frente da placa do trópico de capricórnio, sobe areia. Céu azul
Leonardo, 33, e Rachel Spencer, 32, do projeto "Viajo Logo Existo", na Namíbia - Divulgação

Fizeram, com sucesso, um financiamento coletivo que deu origem ao livro “Viajo Logo Existo - Um Ano na Estrada” (editora VLE, R$ 65). Assim que saíam de um continente, já trabalhavam na próxima obra, com fotos e relatos. Publicaram, na sequência, “No Velho Continente” (editora VLE, R$ 80), “Na África Selvagem” (editora VLE, R$ 80) e “1 Ano na Ásia e na Oceania” (editora VLE, R$ 80).

“Tudo o que a gente via na estrada que poderia gerar renda para ajudar o projeto, a gente tentava fazer. Algumas coisas deram certo e outras não. Focamos a mídia digital, como vender espaço e banner no blog, fazer parceria, usar a plataforma para empreender nessa linha”, conta Leonardo.

Desde que voltaram, ministraram mais de 30 palestras em 17 cidades do Brasil e de Portugal sobre o período na estrada. Na maioria das vezes, é o próprio casal que organiza os eventos, por meio de parceria com hotéis, vendendo ingresso pela internet e alugando equipamento, mas fazem também palestras direcionadas para grandes empresas.

De volta ao Brasil, o casal aproveitou para organizar pequenas expedições até completar cem países visitados, sem o carro. No início deste ano, viajaram 35 dias entre Catar, Bahrein, Omã, Geórgia, Armênia e Israel.

EXPERIÊNCIAS DE CARRO

Pouco antes de o casal Spencer pisar em solo brasileiro, Henrique Fonseca, 31, e Sabrina Chinelato, 24, deram início à sua viagem pelo mundo. Desde outubro de 2016, eles já percorreram 16 países e cerca de 50 mil km –o objetivo é visitar 75 nações.

Responsáveis pelo projeto “Terra Adentro”, começaram a se planejar financeiramente cerca de dois anos e meio antes da partida e aumentaram o pé-de-meia mais perto da viagem, vendendo apartamento, carro e móveis.

Também procuraram empresas para parcerias. “Percebemos que firmas do ramo turístico estão saturadas de pedidos. Uma das nossas estratégias foi procurar apoiadores de outras áreas e que poderiam ganhar visibilidade com a gente, como uma oficina mecânica e uma universidade”, afirma Henrique.

Ganham dinheiro com a venda de fotografias, hobby que virou profissão, com a assessoria a distância que Sabrina ainda faz para um hospital e com algumas aulas online que Henrique ministra para a universidade onde lecionava. Segundo eles, o trabalho na estrada cobre 70% dos gastos e os outros 30% são resolvidos com a poupança.

Assim como o casal do “Viajo Logo Existo”, eles também planejam produzir um livro por continente. “A gente já escrevia textos e editava imagens pensando nisso, o que adiantou bastante no processo de produção”, diz ele. Para o primeiro livro, fizeram campanha de financiamento coletivo e conseguiram vender cerca de 760 edições. “Assim que a gente pisar num novo continente, começa o trabalho tudo de novo, já pensando num próximo livro.”

Carro parado sobre um gramado, com porta malas aberto. Homem sentado em cadeira na frente do carro, com mesa em sua frente
Vinicius Bressiani, do site "Provando o Mundo", em pausa para comer - Divulgação

Já o casal Vinicius, 37, e Daniela Bressiani, 35, busca experiências gastronômicas. Criadores do site “Provando o Mundo”, estão na estrada desde setembro de 2017 e planejam visitar 70 países. “Para bancar o projeto, aplicamos nossas economias em fundos diversificados, desde Tesouro Direto até fundos DI, para termos o dinheiro disponível mais rapidamente, o que sustentará um terço da viagem”, afirma ele.

No caminho, pretendem escrever para publicações especializadas em viagem e gastronomia e trabalhar na área de alimentação —em trabalhos que vão dos mais manuais a consultorias. “Na Itália, por exemplo, onde vamos completar um ano de projeto, fazemos planos de ficar ao menos três meses e arranjar algo em restaurantes, vinícolas e fazendas produtoras de alimentos”, diz Vinicius.

DICAS

Viajar por vários países requer bastante organização e planejamento, já que questões diplomáticas, ambientais e de saúde podem influenciar o roteiro. “A dica mais importante é: escolha uma data de partida e se apegue a essa data. É muito fácil você postergar e pensar que não está preparado”, afirma Leonardo, do “Viajo, Logo Existo”.

Vinicius, do "Provando o Mundo", aconselha que se pense bem na companhia de viagem. "É importante ter muita afinidade, pois terão que tomar decisões juntos.”

As fotos bonitas também não significam que os turistas não encontrem problemas pelo caminho. Henrique diz que se passa por situações complicadas, mas que, ao pensar na balsa que pegou na Nicarágua, se lembra de que “independentemente do meio de transporte e do dinheiro, todos estavam atrás de um sonho”.

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