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Casario colonial de Mariana é o cenário ideal para encontro de palhaços

Evento internacional reúne mais de 40 grupos de artistas circenses na cidade histórica mineira

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Três palhaços em rua

Os palhaços Guimba, Luba e Churumello, em rua do centro histórico Karime Xavier/Folhapress

Biti Averbach
Mariana (MG)

Localizada a 14 km de Ouro Preto, Mariana foi primeira vila, primeira cidade e primeira capital de Minas. Não tem a grandiosidade da vizinha, mas tem história.

E tem graça. É lá que acontece o Circovolante - Encontro Internacional de Palhaços. O evento deste ano, ocorrido de 26 a 29 de setembro, reuniu mais de 40 trupes do Brasil e do exterior, em apresentações gratuitas nas principais praças do centro histórico.

O casario colonial fez um cenário contrastado para os trajes coloridos dos palhaços.

Fundada no final do século 17, quando bandeirantes descobriram jazidas de ouro na região, a vila foi batizada de Ribeirão do Carmo. Depois, teve o nome mudado em homenagem à rainha Maria Ana de Áustria, esposa do rei português dom João 5º.

O evento circense, idealizado pelos produtores culturais e palhaços João Pinheiro e Xisto Siman, também ocupa bairros periféricos de Mariana. Nesta edição, foram 34 espetáculos em escolas e praças do entorno. “Fazemos a descentralização, percebemos a importância de levar a arte do circo para locais onde o acesso é menor”, diz Siman.

O público, em grande parte moradores de Mariana e arredores, recebe o encontro de palhaços com familiaridade de fã. Simone Negrão, que nasceu em Passos e mora em Mariana, frequenta o evento há seis anos. “Pretendemos ver toda a programação.” Com as filhas, Manuela, 5, e Melissa, 3, ela acompanhava a festa desde o primeiro dia.

Todo ano um palhaço é homenageado. Foi assim com Alegria, Borrachinha, Saracura e Dedé Santana. Desta vez, quem recebeu a honraria foi Jasmim, palhaça interpretada por Lily Curcio, uma argentina que adotou o Brasil.

“A palhaçaria feminina cresceu. É função da arte pensar na diversidade”, diz Xisto Siman.

Lily Curcio, que além de palhaça é antropóloga e bonequeira, conta que Jasmim surgiu quando ela já tinha 40 anos, para salvar sua vida. “Estava com problemas familiares, foi através da personagem que me reequilibrei”, disse. “Imagine ser a primeira mulher homenageada!”

Débora Guimarães, do coletivo Calcinha de Palhaça, que expunha na praça um lindo varal de calçolas coloridas, também comemorou: “Esperamos que sejam apresentados mais espetáculos com palhaças protagonistas”.

Um ponto alto do evento é o cortejo que sai da parte alta da cidade em direção ao centro. A concentração é na praça Minas Gerais, lugar mais visitado de Mariana e um dos mais belos exemplos do urbanismo barroco no Brasil.

A praça fica em um plano elevado em relação às praças Gomes Freire e Cláudio Manoel, onde se localiza a Catedral da Sé. Essa situação permite que sejam avistadas as torres dos campanários de suas duas igrejas de qualquer ponto do centro histórico. 

As igrejas de São Francisco e Nossa Senhora do Carmo, erguidas na segunda metade do século 18 quase ao mesmo tempo, estão muito próximas, implantadas perpendicularmente. Foram bancadas por duas irmandades que disputavam para ver qual tinha mais prestígio junto ao poder. 

Em frente à de São Francisco, no centro da praça, está o Pelourinho. Do outro lado da rua fica a Casa de Câmara e Cadeia, fundada em 1711 e concluída em 1798. É possível entrar nas salas onde há reuniões da gestão e ver algumas pinturas e móveis originais. Aproveite para olhar o tamanho das portas e grades da cadeia, no andar de baixo.

Antes do cortejo de palhaços sair, a praxe manda todo mundo se espremer em frente a uma das igrejas, para a foto. 

Daí, é só descer a ladeira, ao ritmo do carrinho de som improvisado, no meio da multidão composta por palhaços profissionais e amadores e o respeitável público.

Uma das coisas mais adoráveis do encontro de palhaços em Mariana é ver centenas de crianças com os rostos pintados exatamente como o do artista homenageado —neste caso, a palhaça Jasmim. Uma equipe de maquiadores fica a postos algumas horas antes do cortejo, para maquiar até 400 pessoas.

Faz parte da filosofia da dupla de criadores do evento envolver a comunidade em tudo que inventa.

“Não acredito em fazer cultura para o próprio umbigo. A arte é uma potência que precisa ser distribuída, espalhada. O resultado é o surgimento de uma nova geração de artistas na cidade”, diz Xisto Siman.

O adolescente Raed conta que, quando tinha seis anos, ao assistir à segunda edição do Encontro de Palhaços, seu coração bateu mais forte.

“Não deixei meu pai em paz até ele comprar um kit de mágico para mim. Eu ficava horas criando espetáculos com meus primos”, conta ele que, aos 12, já estreava na oitava edição do evento internacional como o palhaço Vinagre.

O nome foi sugerido pela mãe de Raed, que ajuda o filho com os figurinos. O pai se encarrega dos cenários. O garoto também escreve roteiros e dirige peças de teatro.

Enquanto isso, a velha guarda continua na ativa. Moisés, o Rei do Pedal, tem 72 anos e passou os últimos 46 fazendo shows em monociclos e bicicletas estranhas. Uma tem três metros de altura; outra não tem rodas, mais parece um pula-pula; uma terceira mede apenas 30 centímetros.

Ele afirma orgulhoso que já trabalhou em circos grandes e famosos em décadas passadas, como Orlando Orfei, Tihany e Beto Carrero.

“Depois, montei meu próprio circo, rodei com ele durante 15 anos. Agora, faço mais shows e festas, mas o circo continua vivo dentro de mim”, diz Moisés. 

Álvaro Francisco Marinho, o Palhaço Alegria, é considerado um dos mais velhos em atividade no Brasil. De família circense tradicional, diz que começou a ser palhaço “quando nasceu, no fundo de um circo”. Ele e a mulher tiveram 19 filhos, todos criados no circo. Para Alegria, a melhor coisa de ser palhaço é ser muito aplaudido. Até hoje, ele diz ter medo de levar vaia, mas isso nunca aconteceu.

O colombiano Daniel Satin, que incorpora o Palhaço Satin, diz procurar o contemporâneo na atividade. “Temos que buscar algo com nossas próprias influências latino-americanas, com sangue quente, festa e explosão. Um palhaço pode ser fofo, mas, às vezes, louco e perigoso.”

Depois de assistir a vários espetáculos, até mesmo o público leigo começa a perceber que os melhores palhaços são os que têm uma personalidade bem definida.

Rodrigo Robleño, o Viralata, explica que a criação de um palhaço sempre acontece do nariz para dentro, com a potencialização de algumas características pessoais.

“A coisa mais importante do palhaço é o espírito de provocação”, afirma. Essa arte, na visão dele, “chacoalha” o público, seja através da gargalhada, da emoção ou da reflexão. “A alegria é perigosa, subversiva, faz a gente ter vontade de quebrar as fronteiras.”

Viralata se define como um palhaço muito sutil: “Ele faz críticas de uma forma suave. Manda o recado, mas evita o embate direto”, explica.

Para Satin, o palhaço alivia o estresse coletivo. “O ofício é simples e efêmero. Por 20 ou 30 minutos, ajudamos as pessoas a se esquecerem de seus problemas. Mas, com isso, acredito que ajudamos a reconstruir o tecido emocional da sociedade”, conclui.

Onde comer

Lua Cheia
Instalado em um casarão do século 19, o restaurante tem cafeteria, choperia, almoço self-service, jantar à la carte e/ou buffet, clube do whisky, confraria do espumante e chocolateria.
Rua Dom Viçoso, 58, Centro. Tel. (31) 3557-3232

Bistrô
Inaugurado em 1999, é um dos restaurantes mais tradicionais da cidade. Na decoração, o artesanato mineiro é bem destacado pela iluminação intimista. Uma carta de cervejas importadas acompanha pizzas e batatas recheadas na preferência dos frequentadores.
Rua Salomão Ibrahim, 61A, Centro. Tel. (31) 3557-4138

Sinhá Olímpia
Tem clima de negócio familiar e faz sucesso com um parmegiana caseiro e porções generosas —recomenda-se ir em, pelo menos, quatro pessoas.
R. do Boqueirão, 8, Passagem de Mariana. Tel. (31) 3557-5300

Chantilly Confeitaria
Uma das mais requisitadas da cidade, próxima ao principal ponto de encontro da cidade, a Praça Gomes Freire, mais conhecida como Jardim. O local é pequeno, mas agradável, com ótimo atendimento. Vende salgados, bolos, tortas e cupcakes (os de doce de leite são a especialidade da casa).
Frei Durão, 32, Centro. Tel. (31) 3557-3195. chantillyconfeitaria.com.br

Onde ficar

Pousada Primaz de Minas
Tem quartos com ar-condicionado, wi-fi e estacionamento privativo gratuitos. Sua localização é privilegiada: fica próxima das principais atrações da cidade, mas é silenciosa à noite. Serve café da manhã colonial farto.
Rua do Seminário, 36, Centro. Tel. (31) 3557-1577

Pousada do Chafariz
Fica a 300 metros das Igrejas do Carmo e de São Francisco e a 500 metros do Teatro Sesi. O restaurante serve um buffet de café da manhã com especialidades regionais. Os quartos têm frigobar, TV e ventilador. Tem piscina ao ar livre sazonal e estacionamento gratuito.
Rua Cônego Rego, 149, Centro. Tel. (31) 3557-1492

Contos de Minas 
Instalada em um casarão colonial de dois andares, foi toda reformada recentemente, e uma nova ala foi anexada. Os apartamentos são amplos, confortáveis, com mobiliário neutro e funcional. Ótima localização, perto das principais praças do centro histórico.
R. Zizinha Camelo, 19, Centro. Tel. (31) 3558-5400. pousadacontosdeminas.com.br/2016

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