Descrição de chapéu férias

Como aproveitar as férias na pandemia com ou sem viagem

Usufruir do período de descanso requer estratégias para desligar preocupação

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São Paulo

Depois de um ano de Covid e com a vacinação desacelerada, planejar o período de férias começa a ser uma realidade inevitável. Mesmo na pandemia, especialistas dizem que o descanso pode valer a pena —mas é preciso rever expectativas e criar estratégias para se desligar da rotina, com ou sem viagem.

Michelle Oliveira da Silva, analista comercial, que passou as férias em casa, com a filha de nove meses, em Santos 
Michelle Oliveira da Silva, analista comercial, que passou as férias em casa, com a filha de nove meses, em Santos  - Karime Xavier/Folhapress

Desde o início do ano, um número maior de companhias preocupadas com o impacto do distanciamento social passou a buscar o serviço da startup Férias & Co., segundo Bruno Carone, cofundador. A plataforma, com 10 mil usuários, permite que empresas ofereçam benefícios que se convertem na compra de diárias de hotel e passagens aéreas com preços até 70% menores.

“Muitos representantes de departamentos de recursos humanos estão monitorando a questão da saúde mental e querem incentivar o funcionário que está em casa a fazer uma descompressão. Há um olhar especial para quem tem filhos”, diz Carone.

Períodos mais longos de férias estão relacionados à qualidade de vida e à menor chance de depressão e de doenças cardiovasculares, afirma Fabiano Moulin, neurologista e médico-assistente do departamento de neurologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Mas, para colher esses efeitos positivos para a saúde, são necessárias algumas condições. “É preciso presumir que você vai ter momentos de felicidade, o que é difícil na atual situação de incertezas. Além disso, muito da satisfação das férias vem da autonomia de escolher para onde e quando ir, e da desconexão do habitat natural”, diz.

Segundo o especialista, uma maneira de lidar com as adversidades é encontrar formas de se desengajar de preocupações diárias e avaliar quais são as alternativas possíveis dentro das condições do momento, mesmo que seja uma programação mais comedida.

Viagens locais ou que permitam isolamento ainda devem ser as mais procuradas a curto prazo, diz Rayane Ruas, pesquisadora do Laboratório de Estudos em Turismo e Sustentabilidade da UnB (Universidade de Brasília). Ruas, também à frente da consultoria Up Soluções, afirma que, por ora, esses deslocamentos são mais curtos e têm como destino áreas ricas em natureza.

O isolamento e a proximidade ao mar de uma hospedagem em Ilha Grande, no Rio de Janeiro, ajudaram a médica patologista Mariella Saponara Vianna, 60, a decidir onde passar seus seis dias de férias. Chamado de Bangalô do Lugar Preferido no Mundo (diária a partir de R$ 690), tem cinco quartos e acomoda até dez hóspedes por vez.

Lá, ela, o marido e a filha, saíam do quarto para fazer refeições, passear de barco e tomar banho de mar. “Aproveitamos de uma forma diferente. Você se desconecta do trabalho, mas não da pandemia, porque não dá para baixar a guarda”, diz.

A exaustão causada pela Covid foi o motivo que levou a médica a negociar com o laboratório onde trabalha um período de descanso —tirado em uma semana com fluxo menor de atividades.

De acordo com as regras da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), quem determina o período em que os funcionários irão tirar férias é o empregador, mas é comum que exista um acordo, diz Viviane Corrêa Asselli de Andrade, professora do curso de recursos humanos da Universidade Anhembi Morumbi.

“Da parte do colaborador, é importante entender o momento da equipe e as atividades planejadas. Já para o empregador, cabe lembrar que as férias são um momento de prazer e o funcionário tende a se sentir mais satisfeito quando consegue planejar o período de descanso”, diz Ana Paula Prado, diretora nacional do InfoJobs, empresa de tecnologia para recrutamentos.

Dentro desse contexto, é importante observar, porém, que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) assinou nesta terça-feira (27) medida que permite ao empregador fazer a antecipação de férias e ter flexibilização para decretar férias coletivas.

Depois de adiar o período de descanso uma vez no fim do ano passado, Michelle Oliveira da Silva, 40, analista comercial, teve que usufruir as férias entre janeiro e fevereiro por causa da escala de sua equipe. Mas isso aconteceu enquanto restrições eram retomadas onde mora, em Santos, litoral de São Paulo.

Durante o período, Michelle teve que cuidar da filha de nove meses, com o fechamento das escolas, e dar conta das tarefas domésticas, mesmo tendo desenvolvido sintomas de ansiedade. Em 2020, a Covid desencadeou uma crise de cuidado para mulheres, que já acumulavam funções antes.

“A impressão é que eu não saí de férias. A casa virou nosso escritório e não pude sair desse ambiente. Você fica ligada sem querer o tempo todo”, diz. De volta ao trabalho, a estratégia de Michelle, é esconder os itens usados no home office para se desconectar no fim do dia.

Com a pandemia e as restrições, é preciso fazer uma adaptação ao que entendemos como férias, diz Denise Pará Diniz Romaldini, psicóloga especialista em gerenciamento do estresse e qualidade de vida.
“Não dá para ter expectativas lembrando de como era esse período antigamente. Mas você pode pensar em estratégias se souber o que te dá prazer e criar uma nova rotina”, diz.

Isso inclui, por exemplo, dormir até mais tarde, fazer um café da manhã demorado ou organizar uma viagem de um dia para as redondezas. “Na pandemia, não existe o ideal, existe o possível, mas isso precisa estar conectado com você.”

Regras para férias na pandemia

O funcionário tem direito a 30 dias de férias após 12 meses de trabalho, que podem ser usufruídos nos 11 meses e 29 dias seguintes. Quem determina o período é o empregador, mas é comum que exista um acordo

Uma medida provisória editada na terça (27) permite ao patrão antecipar férias desde que avise no mínimo 48 horas antes; também há flexibilização para decretar férias coletivas

Durante vigência, a MP possibilita a concessão de férias antes de o funcionário completar 12 meses de trabalho e prioriza grupo de risco

Com a reforma trabalhista, o funcionário pode usufruir das férias em até três períodos: um deles não pode ser inferior a 14 dias corridos e os demais não podem ser menores do que 5 dias corridos; na vigência da MP, não há obrigatoriedade do período de 14 dias

Fonte:Viviane Corrêa Asselli de Andrade, professora de RH da Universidade Anhembi Morumbi

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