'Deixei uma marca em Hollywood, ainda que de pincel'

Repórter tem acesso à reforma do letreiro mais famoso de Los Angeles, que completará cem anos em 2023

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Los Angeles

Há 12 anos, convivo com o letreiro de Hollywood visível da minha varanda. Em outubro, percebi que algo se passava quando vi dois andaimes pendurados no "h" e no "o". Pela primeira vez em dez anos, o painel estava sendo pintado.

A primeira reação foi procurar os responsáveis para fazer uma matéria. Olhando diariamente para o símbolo de Los Angeles, sempre quis escrever sobre o letreiro com mais profundidade, mas nunca ninguém respondia meus emails e telefonemas. Não desta vez.

Em 1978 em péssimo estado, o letreiro sumiu por três meses para ser totalmente reconstruído - Courtesy of Los Angeles Public Library/ Hollywood Sign Trust

A assessora do Hollywood Sign Trust marcou a data para a entrevista com seu presidente e pediu para eu ir de botas. Imaginei que seria para fazer uma trilha, como já fiz inúmeras vezes para chegar até as costas do letreiro, no topo do Monte Lee.

A vista é cinematográfica, e o painel surge de um ângulo menos conhecido. Em visitas anteriores, avistei um ninho de corvos atrás de uma letra e ouvi o alto-falante da polícia dissuadindo gente que subia fora das trilhas oficiais.

Mas não, desta vez, nada de trilhas, informou a assessora. Eu teria acesso à base das letras, algo difícil de visualizar. Será? Como? Com meu marido de cinegrafista, subimos o monte de carro por uma via restrita a veículos autorizados e depois descemos até a base por uma corda, usando luvas de construção.

Foi quase como se sentar nos dedos do Cristo Redendor, menos a vertigem de altura —quase caí montanha abaixo e fui segurada pelo braço por um funcionário da obra. O painel fica num ângulo de 45 graus, e o terreno é imprevisível.

O tempo estava horrível, nublado como quase nunca acontece, e ainda levei uma "chuva" na cabeça ao passar debaixo das duas últimas letras que estavam sendo lavadas. Conversei com o presidente e trabalhadores da obra. Veados, coiotes e falcões eram vistos com frequência, eles disseram.

Quando me deram a chance de dar umas pinceladas, já me sentia em casa. Nem me liguei que pintava o "w". Pintei para fazer onda e gravar um vídeo, mas no final a experiência foi surreal. Deixei uma marca de verdade em Hollywood, ainda que seja uma marquinha de pincel.

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