Veja o que visitar em Búzios sem cair em armadilha para turistas

Destino no litoral fluminense tem charme de cidade pequena sem tédio provinciano

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Anoitecer em praia de Búzios

Anoitecer em praia de Búzios Matheus Coutinho/Divulgação

Búzios (RJ)

Difícil encontrar um lugar no Brasil com as características de Búzios. É uma cidade pequena (cerca de 70 km2), com todo o charme que as cidades pequenas têm —mas sem o provincianismo de alguns destinos praianos, que nos fazem ficar entediados no terceiro dia de viagem ou fechados em resorts tentando aproveitar tudo o que eles oferecem, para valer o investimento.

Ambiente do hotel Villa D'Este, em Búzios
Ambiente do hotel Villa D'Este, em Búzios - Divulgação

Há muito o que se fazer e conhecer nesta cosmopolita e animada península, a 180 quilômetros do Rio e oito horas de carro de São Paulo. Praia e gastronomia, duas das boas coisas da vida, se entrelaçam no balneário, uma complementando a outra, de forma deliciosa.

Ir a Búzios é ficar de chinelos o dia todo, tomar bons drinques à beira-mar e comer bem, muito bem, a qualquer hora do dia nas muitas opções que a cidade oferece.

A Orla Bardot, comece por ela, é uma via à beira-mar com pouco mais de 600 metros de extensão ao longo da praia da Armação, no Centro. Ela se inicia no cais, o "ponto final" dos aquatáxis, pequenos barcos de fibra de vidro nos quais, por cerca de R$ 20, é possível ir de uma praia a outra sentindo o ventinho no rosto. Eita coisa boa.

Curiosidade: ali na rua do cais funcionou, até agosto, o único cinema da cidade. O Gran Cine Bardot talvez tenha sido, em seus quase 30 anos de funcionamento, a única sala de projeção do mundo onde era proibido comer pipoca. "Suja muito o chão", alegava seu dono. O cineminha deixou saudades.

Você já deve estar torto de saber, mas não custa lembrar o porquê de tantas menções a Brigitte Bardot, homenageada com cinema, orla e estátua na cidade: ela apresentou a vila de pescadores ao mundo em 1964, e virou uma espécie de "madrinha" de Búzios.

Uma porção de lulas fritas com caipirinha no simpático O Barco, perto da estátua dos três pescadores, é um bom pitstop para continuar o passeio pela Orla até a praia dos Ossos. É um bom ponto para um mergulho, com mar calminho e uma estranha e recente onda de turismo mórbido à casa onde Angela Diniz foi morta Por Doca Street, em 1976. Virou 'point instagramável'. O ser humano é mesmo muito doido.

As praias Azeda e Azedinha ficam coladinhas à Praia dos Ossos, basta subir uma pequena ladeira para, lá de cima, dar de cara com uma vista embasbacante. Com águas claríssimas, elas têm acesso por uma longa escada de madeira ("Stairway to Heaven", vou cantarolando enquanto desço).

É neste trajeto, entre a Orla Bardot e os Ossos, que um dos personagens mais queridos e folclóricos de Búzios pode te abordar (torça para isso): Sassá, um senhorzinho que circula de bicicleta e vende ostras por dúzia. O approach merece um prêmio. "Ostrasss afrodisíacassss....", costuma dizer, baixinho, quase ao pé do ouvido, geralmente a casais que estão sentados na areia. Gênio.

A hora de comer pode ser agradável até para quem tem crianças pequenas e levadas. Tocado há décadas por uma família de pescadores, o A Peixaria, também na Orla Bardot, serve o melhor peixe na brasa da região (a gim-tônica também é ótima), e tem, logo à sua frente, um playground natural: a praia da Armação. Sem ondas, as crianças vão se divertir catando conchas, brincando com a areia ou algo do gênero. Crianças sendo crianças e você ali, no bem bom.

Anoitecer em praia de Búzios
Anoitecer em praia de Búzios - Matheus Coutinho/Divulgação

Búzios, para que você tenha uma ideia, é uma cidade com basicamente uma rua principal (Avenida José Bento Ribeiro Dantas), de mão dupla. Ela corta a península, que de um lado tem lugares como a sem graça praia da Foca e a gostosa praia da Ferradura, com suas mansões, águas calmas e algumas insuportáveis banana boats, aquela banana gigante inflável que dá um cavalo de pau para que as pessoas caiam na água, num "susto" previamente agendado. Nem tudo é perfeito.

Para quem quer fugir da muvuca ao longo da Ferradura, uma opção é o day use do Tawa Beach, no canto esquerdo. Duchas, espreguiçadeiras, sessões de massagem e um ótimo serviço de bar, com belisquetes variados, são uma opção para quem quer uma sensação de exclusividade.

Um único senão: eles não oferecem toalha —vamos combinar que não custava nada dar mais esse chameguinho a quem paga entre R$ 150 e R$ 200 para estar lá. O valor é convertido em consumação.

E Geribá? Bem, Geribá é boa para surfe, com excelentes escolinhas do esporte e faixa de areia bem larga. É a praia mais movimentada, mais conhecida, e tem seu público cativo. A verdade é que não há praia feia ou ruim em Búzios. Um fenômeno.

Rio de janeiro, Búzios, praia do canto - Divulgação

A alguns quilômetros dali, chega-se à Praia Brava, numa área um pouco mais árida, onde instalou-se o charmoso Rocka, restaurante com decoração rústico-chique, ombrelones e almofadões confortavelmente espalhados pelo caminho que dá acesso à faixa de areia.

O cardápio do Rocka é beeeem mais chique do que rústico. Onde mais você já viu bar de beira de praia servir caviar Beluga e Ossetra? Eles têm no cardápio. Sai a partir de R$ 710 a latinha com 15 gramas, mas não se avexe, não. Dá para tomar umas boas taças de vinho (R$ 42) e escolher opções menos ostentação.

Praias menos interessantes ficam ali perto, como a do Forno, e a naturista Olho de Boi. Para frequentar esta última, a nudez é obrigatória, como em todas as praias de naturismo do mundo. Não fui. Não sou capaz de opinar.

Bom lugar para se hospedar é no Centro ou perto dele. Boas opções são a Armação, Praia do Canto ou no Morro do Humaitá, onde está instalado um dos melhores hotéis da região, o Villa D'Este (diárias a partir de R$ 1.487, casal, com café da manhã). Destaque para a piscina aquecida de borda infinita escandalosamente bonita.

Ambiente ensolarado à beira de uma piscina; o mar e alguns barcos aparecem no cenário, onde uma mulher, de costas, toma um drinque
Vista de uma das piscinas do hotel Vila D'Este, na Orla Bardot, em Búzios - Divulgação

No Villa D'Este fica um dos melhores restaurantes da cidade, o Altto. É uma boa indicação para fazer um bonito com o "conje". Luz baixa, musiquinha tranquila, serviço impecável e o melhor orecchiette com polvo, delicada massa de sêmola, (R$ 120) da vida. A noite vai ser boa...

Outro romanticão que vale a visita é o tailandês Ban Thai. Ele fica dentro do A Concept Hotel & SPA, na praia de Manguinhos, e é comandado pelo chef Marcos Sodré, que por anos manteve na Orla Bardot o Sawasdee, outro thai de respeito —e de onde foi importada a entrada de maior sucesso: a berinjela missô, frita em crosta de tapioca com gergelim. Um must.

Na mesma reta da Orla Bardot, mas seguindo em direção à Praia do Canto, eis o mais conhecido dos points buzianos: a Rua das Pedras. É um lugar manjadíssimo e, segundo a ala adolescente da família, "o maior zero a zero" em termos de paquera. Pode ser. Mas é impossível não flanar descompromissadamente por ali em algum momento. Assim como não tem como não dar um pulinho no Chez Michou, creperia jurássica, com o mesmo cardápio há 25 anos e uma vibe difícil de descrever, de tão bacana. Vá, apenas vá.

Vista de praia em Búzios, no litoral do Rio de Janeiro
Vista de praia em Búzios, no litoral do Rio de Janeiro - Ronald Pantoja / Divulgação

No Porto da Barra, em Manquinhos, o grande tchan é a vista para o melhor pôr do sol da cidade e opções variadas de comidinhas —como os pasteis de camarão com cerveja de garrafa do Bar dos Pescadores, na beira do Cais (um clássico), e o Belli Belli, há dez anos no mesmo lugar, o mais antigo restaurante dali. Pratos bem servidos como o dourado em crosta de castanha de caju e risoto de abóbora saem por volta de R$ 60. O bom custo benefício mantém a casa sempre cheia.

Vale a pena conferir o Nami, no canto direito, um gastrobar latino asiático com decoração moderninha e pratos como tacos de tartar de atum com wasabi (inesqueciveís), e uma interessante cavaquinha roll, versão buziana para o lobster roll.

Os dois segredos mais bem guardados de Búzios ficam fora dos principais roteiros gastronômicos da cidade. Com a cozinha sob os cuidados do chef alemão Jan Rabe (com passagem por dois restaurantes com estrela no Guia Michelin), e o salão comandado por sua mulher, a simpática francesa Valérie, a Rabe Boulangerie começou, há dez anos, como o nome indica, como uma padaria.

Fornecia suas baguetes perfeitas a mais de 40 hotéis e pousadas da cidade. Aos poucos, foram investindo em comidinha de bistrô e hoje em dia oferece pratos delicados a preços justíssimos. Tome-se o menu du jour como exemplo. Por cerca de R$ 50, a opção dias atrás era atum marinado ao dill sobre carpaccio de rabanete com vinagrete de grãos de mostarda; lombo de dourado e camarão sobre batata doce e molho de vinho branco; banoffe de sobremesa. É bom ou não é?

No centro da cidade, numa rua paralela à rua das pedras, uma casinha florida esconde o melhor e mais agradável restaurante argentino de Búzios. O Café Porteño é um oásis em meio a casas com funcionários na porta mostrando seus cardápios (o horror). Sob o comando de Ricardo Nisivoccia e Karina, pai e filha, come-se ali as melhores empanadas que um ser humano pode oferecer, além de saladas, risotos e pratos à base de carne caprichados. O crepe de doce de leite fecha com chave de ouro.

A jornalista se hospedou a convite do hotel Vila D'Este

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