Peru vai muito além de Machu Picchu; veja o que conhecer no país andino

'Lar de um vasto império', nação quer contornar o excesso de turistas divulgando melhor seus atrativos menos famosos

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Lago Parón, no Peru, é o maior da cordilheira Branca, no norte do país; a região abriga o parque nacional Huascarán, que sofre com o derretimento das geleiras

Lago Parón, no Peru, é o maior da cordilheira Branca, no norte do país; a região abriga o parque nacional Huascarán, que sofre com o derretimento das geleiras Marcio Pimenta

Richard Morgan
The News York Times

Elvis Lexin La Torre Uñaccori sabe muito bem que uma maravilha do mundo muitas vezes cria um mundo menos maravilhoso, repleto de resíduos —ele é o prefeito de Machu Picchu Pueblo, a vila de entrada para o destino peruano que atrai milhões de visitantes (além de seu lixo) a cada ano.

Ele compartilhou sua experiência em fevereiro, em uma cúpula de dois dias que organizou sobre avanços ambientais e de infraestrutura na cidadela inca. Para 99 prefeitos e outros líderes municipais de todo o Peru, La Torre falou sobre um compactador de garrafas plásticas, um pulverizador de garrafas de vidro e um processador que sua vila desenvolveu para lidar com restos de comida de hotéis e restaurantes.

Mas o objetivo principal da cúpula era maior do que iniciativas de reciclagem e resíduos de alimentos; tratava-se de disseminar práticas eficazes para o turismo sustentável em todo o Peru, como parte do desejo nacional de acelerar o desenvolvimento do turismo em sítios arqueológicos menos conhecidos e suas vilas locais.

Nos últimos anos, aliás, o país tem se empenhado em um esforço para valorizar seu vasto tesouro de sítios arqueológicos que muitas vezes são tão bem preservados ou culturalmente significativos quanto Machu Picchu.

"Machu Picchu é uma maravilha vista pelo mundo. Somos afortunados. Mas há muitas maravilhas no Peru esperando para serem vistas", diz La Torre.

Elvis Lexin La Torre Uñaccori, o prefeito de Machu Picchu Pueblo, a porta de entrada para a vila peruana que atrai milhões de turistas (e seus lixos) todo ano
Elvis Lexin La Torre Uñaccori, o prefeito de Machu Picchu Pueblo, a porta de entrada para a vila peruana que atrai milhões de turistas (e seus lixos) todo ano - Alvaro Gamarra/NYT

Lideranças locais como a de La Torre preenchem um vácuo de poder no Peru, que teve sete presidentes desde 2016 —todos de diferentes partidos políticos. Protestos violentos após a última transferência de poder, em dezembro de 2022, levaram a uma evacuação em massa de turistas de Machu Picchu e ao fechamento completo do local por 21 dias.

A importância de Machu Picchu e do turismo em geral para a economia do Peru é inquestionável. Madeleine Burns Vidaurrazaga, vice-ministra do turismo do Peru, disse que a indústria em 2019 faturou US$ 8,9 bilhões, ou 3,9% do produto interno bruto do país, e empregava 1,5 milhão de empregos.

Burns disse que, em 2023, o governo peruano aumentou seu orçamento anual de turismo para US$ 100 milhões, um aumento de cerca de 15% em relação aos US$ 87 milhões do ano passado, e dedicou mais US$ 144 milhões para infraestrutura turística, marketing e apoio a artesãos e empresas com menos de 50 funcionários.

Em dezembro, Burns planeja lançar uma campanha nacional chamada "Peru al Natural" que destacará o Parque Nacional Huascarán e outros "pontos turísticos naturais e de aventura" e complementará locais mais conhecidos como as Linhas de Nazca, os antigos geoglifos esculpidos no deserto costeiro do sul do Peru.

"Temos joias, mas não sabemos como usá-las, como discuti-las, como compartilhá-las", disse Burns, acrescentando que seus modelos de turismo são o Egito e a Índia. Ambos expandiram suas ofertas turísticas e infraestruturas além das pirâmides e do Taj Mahal.

"Temos uma cultura viva e uma história viva", disse José Koechlin, presidente da Canatur, a agência nacional de turismo do Peru. "Somos um dos berços da civilização no nível do Egito ou da Mesopotâmia. Mas precisa de um empurrão suave." Um empurrão gentil.

Em 1975, Koechlin fundou a Inkaterra, uma empresa de ecoturismo sediada no Peru que agora emprega 600 trabalhadores em várias propriedades. "Podemos fazer as coisas acontecerem em nossos próprios termos. É desafiador, mas emocionante", disse ele.

Um dos funcionários de Koechlin, Joaquín Escudero, transferiu-se do hotel Machu Picchu da Inkaterra, onde trabalhava como gerente geral, para se tornar gerente geral da Hacienda Urubamba, sua propriedade no Vale Sagrado, perto de Cuzco, em 2014. Três anos depois, ele fundou uma aliança de turismo na região que agora inclui 14 restaurantes locais, hotéis, agências de viagens e uma clínica. A aliança recentemente se reuniu com chefes de polícia locais para planejar a segurança, incluindo a criação de patrulhas especiais e a instalação de câmeras de segurança para turistas e moradores.

Escudero tem feito lobby junto ao governo local por melhores estradas e tratamento de esgoto para toda a comunidade. "Não estamos vivendo em outro planeta", disse ele sobre a indústria de viagens no Peru. "Estamos nas mesmas cidades. Somos vizinhos. Quero me orgulhar do meu bairro. O orgulho é a magia que transforma pedras em maravilhas do mundo."

Para alguns dos povos indígenas quechua do Peru, o movimento de expansão do turismo também é uma chance de aumentar a visibilidade de seus ancestrais e cultura.

"O Peru não é apenas Machu Picchu. É o lar de um vasto império", disse Roger Gabriel Caviedes, um guia turístico da região de Cuzco que é mestiço de descendência andina e cresceu falando quechua. "Se os turistas puderem ver toda a nossa história, temos a oportunidade de existir em seus corações, não apenas em seus perfis no Instagram."

Uma visita a Machu Picchu se tornou uma experiência altamente coreografada, com horários específicos de chegada, visitas limitadas no tempo, áreas isoladas e limites diários de visitantes (agora fixados em 4.044).

"Foi quase como a 'Disneyficação' dos incas", disse Rachel Rucker-Schmidt, 48 anos, uma turista de Dallas, sobre sua visita a Machu Picchu no verão passado. "Era como estar de volta ao Texas. Todo mundo era americano, apenas um pouco menos especial. Foi legal de ver, mas tinha uma vibe diferente. Tínhamos nos resignado a apenas ticar isso da lista."

Sua família foi para Moray, um sítio de fazenda em platôs construído pelos incas, onde encontraram menos de uma dúzia de outros turistas. "Foi muito intimista", disse Rucker-Schmidt. "Muitas vezes éramos as únicas pessoas lá com os moradores locais."

Seu marido, Jason, 48 anos, concordou. "Achei muito mais encantador", disse ele sobre Moray. "Não estava sendo apresentado a você em um estado perfeito. É mantido, mas não no mesmo nível que Machu Picchu. Todo mundo tem a mesma foto de Machu Picchu."

Moray e as caminhadas de oito horas que a família fez pela natureza selvagem dos Andes também ressoaram em sua filha, Trilby, 15 anos. "Era uma perspectiva mais local", disse ela. "Basicamente estávamos no quintal do Peru."

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