Descrição de chapéu litoral norte

Avistamento de baleias leva turistas à praia em pleno inverno no litoral norte de SP

Jubartes se tornaram atração turística de Maresias, que busca driblar baixa temporada

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São Sebastião

Em 2021, ano em que o avistamento de baleias jubarte no litoral norte de São Paulo aumentou consideravelmente, pesquisadores ficaram intrigados. Era de conhecimento geral que elas passavam por ali anualmente, entre o fim de maio e início de julho. Os avistamentos, porém, não eram tão comuns quanto naquele ano, quando atingiram 69 registros.

Três anos depois, a presença já popularizada dos grande animais, que podem ultrapassar 30 toneladas e 15 metros de comprimento, virou fonte renda para pescadores de Boiçucanga, em São Sebastião, e para a rede hoteleira de Maresias, no mesmo município. Somente em 2024, já foram mais de 330 avistamentos até o começo de julho.

Embora Maresias seja conhecida por ter boas ondas —é lá que fica a escola do campeão mundial de surf Gabriel Medina—, as baleias criaram uma nova veia turística a ser explorada, mais voltada para pequenas viagens de casais que querem fugir dos clichês turísticos de inverno, como tomar um vinho nas regiões serranas.

Maresias oferece um passeio de outono/inverno que se sustenta pelo turismo de aventura e pela diversidade da vida marinha, adicionalmente aquecido por uma boa rede de hotéis e restaurantes de alta gastronomia. Empreendedores da área estão empenhados, de fato, em mostrar que dá para curtir a praia no período frio, e as jubartes são parte disso.

Baleia jubarte salta para fora da água em alto mar
Baleia Jubarte dá show durante avistamento em Ilhabela, litoral norte de São Paulo - Jorge Mesquita /Divulgação

O avistamento delas se torna aos poucos uma atração requisitada nas águas de São Sebastião e Ilhabela. A atração ainda busca se firmar, mas já entrega, de fato, uma experiência nova para quem está acostumado a ir ao litoral apenas para sentar-se à areia —fria por esses meses.

Em Boiçucanga, bairro vizinho de Maresias, é que acontecem os embarques nas lanchas de pescadores que viram na atividade de receptivo uma alternativa à queda de renda com a puxada dos pescados cada vez menor.

"A puxada do camarão e dos peixes está caindo nos últimos anos, então estamos recebendo o apoio do município para aprender o turismo", conta um dos pescadores, que se identifica como Wellington, enquanto embarca um grupo de sete pessoas que sairá em busca das baleias.

Do "portinho" de Boiçucanga até os arredores do arquipélago de Alcatrazes, um dos pontos onde são avistadas, são cerca de 1 hora de navegação. Mas nem sempre as jubartes ficam por lá. O arquipélago, no entanto, oferece um show de avistamento de aves silvestres, sobretudo o alcatraz, que batiza a região.

A procura pelas baleias acontece boca a boca entre os pescadores. Quem avistar, avisa o colega.

Logo na saída, um dos pescadores informou que três delas haviam sido vistas bem cedo em Ilhabela, para onde a reportagem da Folha foi. No local, um grupo de sete barcos já aguardava pela atração principal, as baleias, mas era um dia de timidez das estrelas.

Ao menos duas delas mostraram, após muitos minutos de espera, suas caudas. Deixaram atordoados os turistas que as esperavam, sem saber para onde olhar. Quando submergiam, pareciam mesmo brincar com os humanos, que não podem ultrapassar a distância dos 100 metros dos animais. "Estou aqui, já não estou mais", pareciam comunicar ao grupo, que via baleia onde não havia.

Assim foi por cerca de uma hora, até que a timidez das jubartes, aliada ao sol intenso em alto mar, cansa o grupo, que decide voltar.

O aparecimento de um animal de tal porte emociona a todos, sem exceção. É notável que todos viram crianças ao ver um ser vivo tão inacessível e, ao mesmo tempo, tão presente no imaginário infantil.

Embora a sensação de ver um animal de 30 toneladas saltando a muitos metros de altura seja indescritível, é preciso alinhar as expectativas. Cada vaga na lancha custa R$ 450, e o encontro com os mamíferos pode decepcionar, no caso de estarem tímidos. Se assim for, de toda forma, os receptivos oferecem um tour pelas ilhas de São Sebastião e Ilhabela.

Apesar de serem a atração principal, as jubarte compartilham espaço com outros seres da vida marinha que estão dando as caras com maior frequência nas águas dos dois municípios litorâneos, como o tubarão-baleia e a baleia orca.

"Não sabemos bem o motivo da presença desses animais cada vez mais frequente e por mais tempo no litoral norte, mas acredita-se que esteja relacionado com o aumento da temperatura do oceano", explica Marina Veltman, diretora da Associação de Pousadas, Hoteis, Bares, Restaurantes e Receptivos de Maresias (APHM).

"O que percebemos é que há um aumento da ocupação na baixa temporada, que vai ao encontro do avanço dos passeios de avistamento e de um incentivo maior do município a esse tipo de turismo", complementa.

O ecoturismo se ramifica mata a dentro para oferecer outras atrações e consolidar Maresias como um destino também de outono.

Quilômetros longe das baleias, na praia de Calhetas, a atração é o rapel em uma cachoeira de 90 metros. O passeio é desafiador, não recomendado para quem tem medo de altura.

O local, no entanto, oferece uma vista ampla da praia de Calhetas, uma das mais belas de São Sebastião, conservada pela proibição de veículos, ambulantes e quiosques. A vista é composta por praia, um trecho de mata atlântica e ilhas próximas à costa.

Casal preso por uma corda de rapel desce penhasco de cachoeira com 90 metros de altura. Ao fundo há um trecho de mata antes do mar
Rapel em Calhetas proporciona vista da mata, praia e ilhas, ao mesmo tempo em que desafia turista à descida de 90 metros - Divulgação

O desafio de descer o corpo por uma corda, sob pedras muito escorregadias e respingos de água exige um bom café da manhã e disposição, uma vez que a descida é regulada pela dosagem da corda. Dois guias a controlam, um embaixo e um em cima, e se comunicam para o caso do turista travar no meio do caminho.

À noite, ao término de um dia cansativo, restaurantes de alta gastronomia, que se multiplicam na cidade, oferecem jantares à moda nordestina. Frutos do mar e peixes dominam os cardápios. Um deles, o Gaya Gastronomia y Arte, construído aos pés de árvores, à beira-mar, oferece música ao vivo no jantar.

O serviço impecável, tanto na rede hoteleira quanto nos restaurantes, integra os esforços de consolidar a cidade do litoral paulista em um destino "gourmet" próximo à capital. Os hotéis boutique, por exemplo, são apostas do setor para consolidar o clima de casal e romance, comuns nas viagens de outono.

O mais bem avaliado, Maui, remete ao luxo dos grandes hotéis nordestinos. O espaço, que não recebe crianças —com exceção de algumas datas—, promove um combo de alta gastronomia, extensa carta de vinhos e bom atendimento. Além da própria estrutura, que oferece hidromassagem em algumas suítes, piscina aquecida e lareira, além de um spa L’Occitane.

Como o Maui, outros boutiques apostam no alto padrão, com diárias que ultrapassam os R$ 1,4 mil. Mas há opções, também, para quem vai com os filhos, como o Beach Maresias, ou sozinho, como o Maresias Hostel.

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