Como é passar uma noite no deserto do Saara, no Marrocos

Arredores da cidade Merzouga contam com acampamentos de luxo e oferecem passeio de dromedário

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Merzouga (Marrocos)

Entre o fim da manhã e as últimas horas antes de o sol se pôr, não há vida no deserto. Os pequenos bazares empoeirados à beira da estrada cerram as portas. Os homens se recostam em almofadas tecidas em padrões berberes e dormem a tarde inteira sob a sombra.

Não adianta carregar o celular. O calor é tanto que surge um alerta no aparelho avisando que a bateria está superaquecida e que, portanto, não receberá carga. O termômetro marca 43 graus.

Dunas do deserto do Saara nas proximidades de Merzouga, no Marrocos - Malu Alvarez/The New York Time

Merzouga é uma das últimas aldeias marroquinas antes da fronteira com a Argélia, hoje conflagrada. Embora seja um destino turístico que atrai muitos viajantes em busca de sentir o gosto do que é a vida no deserto do Saara, o sentimento de desolação é inescapável.

Quando se caminha por aquela que parece ser a via central do lugarejo, entre um punhado de lojas de quinquilharias e um ou outro restaurante de hospedaria, os séculos nos atravessam. Mudam os itens à venda, mas tudo mantém o mesmo jeito de como as coisas deveriam ser no tempo das caravanas.

Ao redor há as dunas. Um mar delas, torrando debaixo do sol inclemente.

Qualquer tentativa de descrevê-las para além dos clichês parece ser inútil, pois é tudo exatamente como vemos nos filmes e lemos nos livros. O vento, quente, alisa aqueles montes de areia e vai retirando deles camadas finíssimas como se fosse um descascador de queijo. A vegetação é inexistente.

A melhor forma de desbravar a paisagem é sob quadriciclos, no finalzinho da tarde. Em Merzouga há um punhado de agências que os alugam a pequenos grupos por não mais do que 300 dirhams (ou R$ 150) por pessoa pelo passeio de uma hora.

Seguindo o guia, a fila de veículos se embrenha nas dunas, ao sabor de suas subidas e descidas. Dirigir um deles não chega a dar frio na barriga —e os mais receosos podem ir na garupa, se quiserem --, mas permite algumas surpresas como ver o sol, já baixo no céu, se despedir tingindo tudo com 50 tons de laranja.

No trajeto, vemos um punhado de dromedários. São eles os bichos que carregam os turistas para os acampamentos em um percurso cambaleante de cerca de uma hora deserto adentro. O preço para montar no bicho, ao contrário do passeio de quadriciclo, costuma estar incluído nos pacotes turísticos oferecidos para quem quer pernoitar no Saara.

O roteiro segue o mesmo padrão. Por volta das 19h, quando o sol já está bem fraco, mas ainda há luz o suficiente, beduínos já estão à espera dos turistas que seguem para o acampamento. Enquanto uma quatro por quatro segue outra rota com as malas, os estrangeiros montam na corcova do bicho.

A sensação não é nada parecida com a de se montar num cavalo --dromedários são mais altos e bem mais vagarosos. Um pata por vez, vão singrando a areia, enquanto se sacoleja no dorso do animal, entre altíssimas colinas de areia, preenchendo o horizonte até onde a vista alcança.

Os acampamentos em si têm diversos níveis de luxo, mas costumam ser muitíssimo bem equipados. No geral, consistem em tendas armadas em círculos, todas com banheiro privativo, chuveiro, cama de casal. Uma delas serve de restaurante, e nela o jantar é servido, com farta oferta de comida típica.

Finda a refeição, os berberes armam um pequeno showzinho para os turistas e batucam ao redor de uma fogueira sob as estrelas.

A temperatura cai quando anoitece mas, nas noites de verão, a amplitude térmica não é lá tão grande. Ao dormir, a vontade é de não pregar os olhos enquanto a ventania zune e sacode as paredes e o teto da tenda, num efeito curioso --uma daquelas sensações peculiares que só estando no deserto para sentir.

DICAS PRÁTICAS PARA VISITAR O MARROCOS

Voos 
A Royal Air Maroc anunciou a retomada da rota entre São Paulo e Casablanca a partir de 7/12; até lá, a forma mais conveniente de chegar ao Marrocos é fazendo escala na França, na Espanha ou em Portugal

Dinheiro 
A moeda local é o dirham marroquino, que equivale a mais ou menos R$ 0,58. O ideal é embarcar com euros e trocar ao chegar

Mulheres e LGBTQIA+ 
É possível ver turistas desacompanhadas nas ruas das principais cidades marroquinas, mas não são poucos os relatos de mulheres vítimas de assédio. E embora cidades como Marrakech até tenham locais gay friendly, o Marrocos pune relações homoafetivas com prisão

Álcool 
O país é muçulmano, e a venda de álcool é proibida nas ruas, mas hotéis são bem abastecidos de vinho, drinque e cerveja

Idioma 
Embora o árabe seja o idioma principal, o turista não terá muita dificuldade em se fazer compreender com o inglês —o espanhol e o francês também são falados

Visita ao deserto 
Um pacote individual de quatro dias entre Fez e Marrakech, passando pelo deserto, pode sair a partir de R$ 5.000, mas fica mais barato se for feito em grupo. O da empresa Marrocos Expedições inclui estadias em hotéis razoáveis, jantares e cafés da manhã

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