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26/01/2011 - 11h14

Tragédia no Rio choca até quem já enfrentou Haiti

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ALENCAR IZIDORO
MARLENE BERGAMO
ENVIADOS A NOVA FRIBURGO

No volante de um caminhão da Marinha com três toneladas de doações para vítimas das chuvas, Edson Ney dos Santos, 41, descreve, a cada esquina de Nova Friburgo, um motivo de espanto.

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"Olha aquele casarão debaixo da terra. Olha quanto carrão revirado pela lama. Pegou rico, pegou pobre. E ainda tem centenas de corpos debaixo disso tudo."

A narrativa do sargento, integrante do Batalhão Logístico de Fuzileiros Navais, não é de nenhum principiante que se assusta com qualquer cenário de destruição.

Edson já esteve em missões da Marinha devido à guerra civil de Angola, a terremotos no Chile e Haiti, onde permaneceu durante seis meses, e na recente ocupação do Complexo do Alemão.

Mesmo assim, estava impressionado com a tragédia na região serrana do Rio. "Que coisa de louco. Só não está pior do que no Haiti", dizia ele, em referência ao terremoto que deixou mais de 200 mil mortos há um ano.

A Folha acompanhou uma tarde de trabalho do sargento, durante a entrega de água e comida em áreas periféricas de Nova Friburgo.

No caminho, mulheres se jogam na frente do caminhão da Marinha pedindo água. O sargento diz que não pode parar. "Ou então não sobra para quem está distante, precisando mais", argumenta.

Um homem junta as mãos e, diante da janela do veículo, implora para saber se sua casa está em risco. "Pode sair daí porque vai cair", orienta Edson, sem pestanejar.

Editoria de Arte/Folhapress

CRIANÇAS

O sargento nasceu em Belém, mas já está no Rio desde os 15 anos. Trabalhar nas Forças Armadas, com salário de pouco mais de R$ 2.000, significa ficar mais de um terço do ano afastado de casa.

A mulher de 23 anos com quem ele está casado há pouco mais de 12 meses ainda não está acostumada. É questão de tempo, avalia ele.

Nos primeiros dias em Nova Friburgo, a principal atribuição da equipe de fuzileiros navais integrada pelo sargento foi resgatar corpos. Ele já havia feito esse trabalho em outros lugares, como no Haiti. Mas não havia carregado tantas crianças mortas de uma única vez.

"Numa busca, num retiro de Campo do Coelho, trouxemos dez corpos de criança. E tinha muito mais por lá", conta Edson, emocionado, apesar de não ter filhos.

Seguido por outros dois caminhões da Marinha, ele visualiza sinais de pobreza em uma casa aparentemente intacta no meio do lamaçal.

Marcos Michael - 23.jan.11/Folhapress
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O comboio faz uma parada para saber se as crianças postadas diante da casa precisam de ajuda. A costureira Ducilene Vasconcelos de Oliveira, 38, confirma que sim. Até meninos com menos de dez anos ajudam a receber e a levar os sacos de arroz.

Ducilene teve seis primos mortos. Mas seu imóvel de dois quartos ficou apenas alagado. Por isso, nos últimos dias, pulou de 10 para 25 ocupantes, abrigando os parentes que ficaram sem teto.

"Obrigado, meus queridos", agradeceu a mulher. O sargento Edson abre um sorriso e faz questão de alertar a reportagem. "Está vendo só. No Haiti também tinha isso. Compensa tudo."

 

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