Mantenedora da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto completa 75 anos
Apaixonados por música, o barbeiro e carteiro Luiz José Baldo e o motorista de praça Manoel da Silva, conhecido como Maneco, integravam, junto com outros amigos, várias bandas de jazz que realizavam shows já nos anos 1920 em Ribeirão Preto (313 km de São Paulo).
Aos poucos, as diferentes bandas foram se juntando até formar a Orchestra Symphonica --com a grafia típica da época--, cuja mantenedora, a Associação Musical de Ribeirão Preto, completa agora 75 anos de história.
Por meio de recortes de jornais e fotos antigas guardadas em caixas, Maria de Lourdes da Silva Laguna, 71, filha de Silva (1896-1963), e Maria Lúcia Baldo, 70, filha de Baldo (1909-2010), relembram as histórias contadas e recontadas por seus pais.
Edson Silva/Folhapress | ||
Maria Lúcia Baldo ao lado do piano que ganhou de seu pai, Luiz José, um dos fundadores da Sinfônica de Ribeirão |
Maria Lúcia não tinha nem nascido quando o sonho do pai (o violinista Baldo) começou a virar realidade. Barbeiro e carteiro, ele dividia suas funções diárias com os ensaios da banda de jazz.
As apresentações iniciais aconteciam no restaurante Pinguim, no centro da cidade, na rádio PRA-7 (inaugurada em 1924) e em casamentos e festas da alta sociedade.
DE BANDA A ORQUESTRA
Maria de Lourdes conta que em uma das apresentações no restaurante, o alemão Max Bartsch, que trabalhava na cervejaria Antarctica, propôs uma parceria entre as bandas. Foi assim que esses grupos se transformaram na Orchestra Symphonica, na versão de Maria de Lourdes.
Além de incentivador da orquestra, Bartsch também foi o responsável por plantar algumas das palmeiras imperiais na avenida Jerônimo Gonçalves, perto da cervejaria, e no centro da cidade, nas proximidades da Catedral Metropolitana.
As filhas dos músicos contam que o início da orquestra foi difícil. O dinheiro ganho com a sinfônica não era muito e os integrantes não podiam deixar seus trabalhos.
"Eles chegavam a pagar para manter a orquestra", afirma Maria de Lourdes.
"O meu pai e os integrantes da orquestra eram apaixonados pela música", diz Maria Lúcia. "Tinham prazer em viajar para outras cidades, mesmo sem recursos financeiros", conta.
"Hoje não existe tanto amor assim." Ela diz que podia faltar algo em casa, mas o dinheiro para levantar a orquestra, não.
30 ANOS NO CLARINETE
Tendo a Associação Musical de Ribeirão Preto como mantenedora, a Orquestra Sinfônica convidou o maestro Antônio Giammarusti para reger o primeiro concerto, no Theatro Pedro 2º, no dia 22 de setembro de 1938.
Com os dedos atrofiados, Aluizio da Cruz Prates, 88, clarinetista na então Força Pública e também na Sinfônica durante 30 anos, entre 1952 e 1982, lembra da passagem de oito maestros durante seu tempo no grupo.
"Spartaco Rossi foi quem mais me ensinou técnicas musicais", afirma.
Silva Junior/Folhapress | ||
Aluizio da Cruz Prates, que participou da Sinfônica de Ribeirão por 30 anos, em sua casa, nos Campos Elíseos |
Do início de sua fundação até hoje, 16 maestros estiveram à frente da Orquestra Sinfônica. Dentre eles está o italiano Ignácio Stábile (1889-1955), o primeiro contratado. Foi seu regente por 15 anos.
O mais novo titular é o maestro Alex Klein, que assumiu a orquestra neste ano.
SERENATAS DA MEMÓRIA
Além das apresentações da sinfônica, o grupo realizava serenatas durante as noites livres. A maior lembrança de Maria de Lourdes foi a serenata para as almas realizada pelo grupo no cemitério da Saudade.
"O meu pai levou os músicos em seu táxi e o piano foi transportado na carroceria de uma camionete", conta. "Foi uma festa." Além de músico, lembra ela, Maneco também foi compositor.
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