Indústrias da região de Ribeirão Preto enfrentam onda de demissões
Em menos de 48 horas, duas empresas de Sertãozinho (a 333 km de São Paulo) demitiram 325 trabalhadores. A Simisa mandou embora 175 funcionários, e a Fuzi-tec, 150. Ambas produzem peças e máquinas e fazem manutenção em usinas.
Elas não representam casos isolados.
De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Sertãozinho, somente neste mês foram mais de 400 desligamentos e, em todo o ano, mais de 3.000.
O momento econômico ruim vivido pelas empresas tem a ver com o setor sucroalcooleiro, que passa pela pior crise de sua história.
Segundo a Unica (entidade que representa as usinas) 43 unidades encerraram as atividades nos últimos cinco anos e 36 entraram em recuperação judicial.
O governo federal diz apoiar o setor.
"O setor está na UTI, abandonado pelo governo, e agora dá sinais de que está morrendo", disse Valdemir Caldana, membro da administração do sindicato.
Ele disse que mais dispensas vão ocorrer na semana que vem, pois há reuniões marcadas para negociar novos desligamentos.
O sindicato informou ainda que ao menos dez empresas estão com dificuldades para pagar planos de saúde, vale-refeição e benefícios. Algumas, inclusive, estão atrasando salários.
A crise no setor afeta também o comércio. Em Cravinhos (a 292 km de São Paulo), por exemplo, uma fábrica de móveis demitiu 300 funcionários há três meses.
Edson Silva/Folhapress | ||
Empresa Fuzi-tec, em Sertãozinho, que, de acordo com sindicato, encerrou as atividades |
Um dos advogados da empresa, André Archetti Maglio disse que os proprietários não suportaram a crise.
"O governo não tem dado atenção aos empresários. Virou as costas para o setor [sucroalcooleiro], e a indústria nacional está sentindo."
Laudelino Barbosa Neto, gerente comercial da Simisa, empresa que no ano passado tinha 1.250 funcionários, disse que hoje são cerca de 700 trabalhadores. Desde o início do ano, 550 foram demitidos.
"Isso é reflexo da política governamental para o setor. O mercado está destruído. Não há usinas contratando serviços, e isso inviabiliza a indústria de base", afirmou.
A Folha tentou falar com representantes da Fuzi-tec, mas não conseguiu. Os advogados da empresa também não foram localizados.
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos, a indústria encerrou as atividades.
Presidente do Ceise-BR (Centro das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis), Antonio Eduardo Tonielo Filho afirmou que as últimas demissões ocorridas em Sertãozinho não são algo comum.
"Em outros anos, nesta mesma época, inclusive no ano passado, estávamos contratando. Agora, demitimos. A indústria vem segurando os empregos na esperança de melhorar a situação, mas não melhorou", afirmou o presidente da entidade.
De acordo com ele, historicamente em novembro as indústrias de base fecham contratos para venda de maquinário e manutenção das usinas na entressafra, mas essa movimentação não ocorre como em anos anteriores.
De janeiro a setembro deste ano, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, as dez cidades mais populosas da região registraram um saldo de 2.865 postos de trabalho na indústria.
No mesmo período do ano passado, o saldo era de 13.773 empregos.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade