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A minha Copa: Futebol era minha vida em 1970, diz Marcos Augusto Gonçalves

William Mur/Editoria de Arte/Folhapress
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Foi um domingo e tanto aquele 31 de agosto de 1969. Bilhete no bolso e bandeira na mão, saí cedo de casa, peguei o 455, Méier-Copacabana, no Posto 6, e desci na Tijuca a tempo de encontrar um pedaço de cimento para sentar na arquibancada do Maracanã.

As "feras" de João Saldanha enfrentariam o Paraguai na última partida das eliminatórias para a Copa de 1970 –e eu fui um dos 183.341 pagantes que se espremeram no maior estádio do mundo naquela tarde.

As "feras", todos tínhamos na ponta da língua, em 4-2-4: Félix, Carlos Alberto, Djalma Dias, Joel e Rildo; Piazza e Gerson; Jairzinho, Pelé, Tostão e Edu. Que ataque! Um empate bastaria, mas, aos 23 min do segundo tempo, Edu entortou seu marcador e chutou cruzado. Aguilera bateu roupa e o Rei entrou rasgando para estufar o barbante.

Agora podíamos sonhar, confiantes, com a conquista definitiva da Taça Jules Rimet.

Só que, no início de 1970, o samba desandou. O time jogava mal. Não passou de um empate com o Bangu num jogo-treino. Saldanha, pressionado, comprava briga à torta e à direita. Disse que Pelé estava "cego" e foi de revólver à concentração do Flamengo encarar o técnico Yustrich, homenzarrão feroz que criticava o escrete.

A MINHA COPA POR

Para completar, Médici, o ditador de plantão, queria Dario, o "peito de aço", no time –e o desassombrado João deu-lhe uma resposta atravessada. Médici não escolhia jogador, e ele não escolhia ministro.

Quando Zagallo assumiu, o Tri parecia mais longe. Voltei ao Maracanã na vitória por 1 a 0 sobre a Áustria, último amistoso antes da viagem ao México. A seleção foi vaiada.

A Copa de 1970 foi a primeira transmitida ao vivo pela TV. Alguns privilegiados viram em cores. Eu, não. Mas foi uma maravilha. "Noventa milhões em ação / pra frente Brasil / salve a seleção." A marchinha tocava e já estávamos lá, de olho na tela e ouvidos nos bordões do "speaker" Geraldo José de Almeida: "Olha lá, olha lá, olha lá no placarrrr!"

Zagallo mudou o time, e a estreia contra a Tchecoslováquia foi uma tensão danada. Quando eles fizeram 1 a 0, deu medo. Mas empatamos, viramos e massacramos: 4 a 1. A partir dali formou-se mesmo a tal "corrente pra frente". Os jogos terminavam e íamos para as ruas de Copacabana festejar. Superada a Inglaterra, a conquista parecia certa.

Bem, ainda faltava a Celeste –velho fantasma– antes da final. Deu trabalho, mas espantamos. Depois disso, alguém imaginaria que fôssemos perder para a Itália? Não! Zagallo, justiça se faça, deu um baile tático e encaçapamos a Azurra.

Sim, eram tempos difíceis. A presidente Dilma, então uma militante de esquerda, estava presa, como muitos outros. Mas com meus 14 anos, pouco sabia do que se passava. Podia simplesmente me entregar à vida –e a vida para mim, em 1970, era futebol. E que futebol!

Marcos Augusto Gonçalves é jornalista da Folha em Nova York

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