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Análise: A explosão McCain
LUCAS MENDES
da BBC Brasil
Se a eleição fosse hoje, o senador republicano John McCain seria o novo presidente dos Estados Unidos. São margens mínimas, tanto sobre Hillary Clinton como Barack Obama e sabemos que pesquisas sete meses antes da eleição são boas para o lixo. Ou para colunas como esta. Tente chegar ao final.
Não precisamos de pesquisa para reconhecer que o velho senador é um fenômeno. Contra a maioria da população, ele defende a Guerra do Iraque e condena o aborto. Diz que não entende de economia, confunde xiita com sunita, tem um estopim tão curto que assusta os próprios colegas. E não tem dinheiro. Enquanto Obama arrecadou US$ 55 milhões em fevereiro e Hillary US$ 36 milhões, McCain só levantou US$ 11 milhões.
"Um presidente precisa ouvir de assessores quando acham que ele está errado. Quem teria coragem de entrar no salão oval e dizer não ao presidente McCain?". A citação é de um ex-assessor que não se identifica numa matéria de capa sobre o Mundo Segundo McCain, da revista Newsweek.
Embora na semana passada o senador tenha feito um discurso propondo a expulsão da Rússia do G-8 e a entrada do Brasil e da Índia, na longa matéria não há nenhuma referência ao Brasil, América Latina, China ou Índia.
O mundo de McCain é o do terror islâmico centrado no Iraque. Antes da guerra, McCain foi não só a favor da derrubada de Saddam como da invasão, e, em 2003, já queria aumentar o número de tropas. Bateu de frente contra o secretário de Defesa Rumsfeld e foi o precursor do surge, o aumento de tropas que estaria dando certo.
McCain aposta todas as fichas na vitória no Iraque: "se der errado perco a eleição", não enrola.
Esta franqueza é um dos motivos porque os eleitores e a imprensa gostam dele. Raramente se curva ao discurso de conveniência e seus marqueteiros estão convencidos de que os eleitores votam no homem e não nas promessas. Para eles, a teimosia do senador é um sinal de caráter.
Esta semana McCain começou a percorrer o país num roteiro heróico biográfico para projetar seus valores pessoais e seus serviços a pátria. O ponto de partida é Meridian, no Mississipi, no Campo McCain. O nome é uma homenagem ao avô dele que, como o pai, foi almirante na Marinha. Família de heróis militares.
Depois ele vai à Academia Naval, onde foi péssimo aluno, em seguida visita Pensacola, na Flórida, onde aprendeu a voar, e faz uma parada em Jacksonville, onde comandou seu primeiro esquadrão.
A biografia dele é a do herói que sobreviveu ao incêndio no porta aviões Forrestal, onde morreram 134 companheiros, ao tiro que derrubou seu avião quando bombardeava Hanói e a cinco anos de prisão e tortura pelos vietnamitas. McCain acha que os americanos poderiam ter ganhado a Guerra do Vietnã.
Este roteiro biográfico, entre outros objetivos, realça o contraste entre ele, Barack Obama e Hillary Clinton, que continua levando chumbo pela mentira de que teve de correr de franco-atiradores na Bósnia.
A imprensa tem sido muito mais implacável com ela do que com Obama que mentiu sobre a ligação da família Kennedy com o pai dele. Mais de uma vez, Obama contou que foi dinheiro dos Kennedys que trouxe o pai dele e outros 80 estudantes quenianos para estudar nos Estados Unidos, em 1959.
Obama admitiu o erro e o assunto morreu, mas a senadora não consegue se livrar do deboche nem da cobrança sobre os franco-atiradores imaginários da Bósnia, onde teria saído correndo do avião, debaixo de fogo para entrar no carro.
Dos males, qual o pior? Dois senadores que envernizam seus passados ou um que confunde o presente. Neste momento, os americanos preferem o confuso.
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Só assim pra se justificar esse Nobel a Obama, ou podemos ver como um estímulo preventivo a que não use da força bélica que lhe está disponível contra novos "Afeganistões" do mundo.
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