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O governo FHC rouba, mas faz?

O presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu, na semana passada, uma constrangedora sentença dos brasileiros: a de que seu governo rouba, mas faz.

Pesquisa Datafolha informou que 71% dos cidadãos acreditam haver roubalheira na administração e que a maioria deles atribui a culpa disso, em algum grau, ao próprio presidente. Destes, 31% vêem FHC como "muito responsável" pelas mazelas administrativas; para 49%, ele é "um pouco responsável".

A sensação de que se rouba muito e se investiga pouco foi exposta também pelo Ibope: 61% dos entrevistados disseram existir "muita corrupção". Mais uma vez, expressiva parcela dos entrevistados vê as autoridades, a começar pelo chefe da nação, de braços cruzados, cometendo, no mínimo, o crime de omissão.

A boa notícia para o governo é que, apesar da certeza da impunidade, os brasileiros mandaram o recado de que não estão se importando tanto assim.

O noticiário sobre delinquências públicas, no qual o Palácio do Planalto aparece no epicentro ou na periferia das suspeitas, não conteve o aumento da popularidade presidencial. O Datafolha e o Ibope detectaram o crescimento do prestígio de FHC.

Podemos traduzir a mensagem da seguinte forma: não é a corrupção que determina o grau de aceitação de um político, mas a eficiência de sua administração. Em essência, a velha impropriedade do "rouba, mas faz".

Estatísticas divulgadas na semana passada sustentam a sensação de que se "faz" alguma coisa, pretexto para se amenizarem os deslizes éticos.

No rastro de uma riqueza nacional que ultrapassou a marca de R$ 1 trilhão, a taxa de desemprego em fevereiro deste ano foi de 5,7%, contra 8,2% no mesmo período do ano anterior.

É mais fácil entender o que significam esses pontos, revelados pelo IBGE, quando se sabe que eles valem, somente num mês, mais 315 mil empregos em seis regiões metropolitanas.

Melhorou também a qualidade do emprego: cresceu o número de trabalhadores com carteira assinada. Em fevereiro, em todo o país, o emprego formal agregou mais 80.243 pessoas. Nos últimos 12 meses, foram 668 mil.

Depois de investigar as negociações de 375 categorias profissionais, o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), instituição ligada a entidades sindicais, engordou as estatísticas positivas da semana passada - a maioria dos trabalhadores teve reajustes salariais iguais à inflação.

Além da maior oferta de vagas, os trabalhadores já incluídos no mercado vão conseguindo aos poucos valorizar seus salários. Várias categorias vão mais longe e obtêm ganhos reais.

Vive-se, hoje, a rara combinação, no país, de inflação baixa e emprego em alta. Os números dessa combinação contam, em poucas palavras, que existe mais gente com mais dinheiro.

Essa satisfação alimenta a velha máxima de que o prestígio do governante é, em larga medida, condicionado pelos indicadores do bolso.

Síntese do pragmatismo mais rasteiro, a aceitação do "rouba, mas faz" não é provocada, no caso brasileiro, apenas pelo imediatismo econômico.

Tende-se a ver a atividade política, em si, quase como uma manifestação da esperteza e da malandragem, representada por frases do tipo "todos os políticos são iguais". Mas não é só isso.

Se as pessoas suspeitam da corrupção generalizada, até porque estão dispostas a confirmar sua visão arraigada da política, também desconfiam dos paladinos da moralidade.

As CPIs são encaradas cada vez menos como instrumentos moralizantes e cada vez mais como peças de jogos eleitorais para desmoralizar inimigos e ganhar votos nas urnas. Daí se entende a aliança entre Lula, Itamar Franco e Antônio Carlos Magalhães.

O PSDB joga o mesmo jogo. Numa vingança rasteira, os tucanos tentam abrir uma CPI para investigar os contratos de coleta de lixo firmados por Marta Suplicy.

Desgastar a administração do PT em São Paulo é desgastar a candidatura de Lula, assim como minar o governo de FHC é minar as chances de seu candidato.

O grau de estupidez nacional não é tão alto para ignorar essas armadilhas. Consequência natural, as CPIs transformam-se em circos eleitorais, nos quais se tenta passar o papel de palhaço para o cidadão.

Quando a opinião pública, animada com os sinais de recuperação da economia, minimiza a ética, a batalha pela moralidade leva uma banana - o que é obviamente ruim.

Mas a manipulação eleitoral da moralidade e seus paladinos também levam uma banana - o que é bom.

PS - Um dos fatos mais importantes sobre mercado de trabalho vem da França e, certamente, vai inspirar as lideranças sindicais brasileiras. Relatórios feitos por grupos empresariais, divulgados na semana passada, afirmam que a redução da jornada de trabalho na França para 35 horas ajudou consideravelmente a aumentar o nível de emprego e a impulsionar o crescimento econômico. Note-se que também foram diminuídos os impostos que incidem sobre a mão-de-obra.

 

 
 
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