Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

15/04/2009 - 02h30

Hospitais psiquiátricos, hospitais em Minas, fumo

da Folha Online

Hospitais psiquiátricos

"Ferreira Gullar ( Ilustrada, 12/4) merece todo o respeito pelo depoimento tocante que deu, como pai, sobre a legislação contrária aos hospitais psiquiátricos. Sem tomar partido nessa discussão, o que acho importante é justamente o debate. O Brasil aprovou nos últimos anos quatro leis importantes, das quais apoio três incondicionalmente (a paulistana Cidade Limpa e as federais do ciclo fundamental de ensino de 9 anos, a lei seca e a Maria da Penha), mas eu, que leio jornais, só soube delas depois de estarem em vigor. Isso é um absurdo, porque todas elas exigem ampla discussão prévia, uma vez que afetam a todos nós. Espero que a cobertura, ainda que só na última semana, da lei paulista antitabaco e o debate suscitado por Ferreira Gullar comecem um controle maior da cidadania e da opinião pública sobre as leis que nos regem. Não importa tanto que a lei seja perfeita. Importa que não nos colha de surpresa."

RENATO JANINE RIBEIRO, professor titular de ética e filosofia política da Universidade de São Paulo (São Paulo, SP)

*

"Não poderia deixar de calar-me diante da clareza e profundidade alcançadas por Gullar em sua análise relacionada à forma equivocada de implantação da lei 10.216/01, que disciplina a assistência psiquiátrica no país. O Ministério da Saúde deveria criar serviços alternativos e complementares à internação para beneficiar uma parcela crescente de usuários antes de destruir os leitos psiquiátricos, cada vez mais raros. Enquanto nos EUA a atenção psiquiátrica é considerada procedimento de alta complexidade, no Brasil o que se tem é abandono e desassistência, com raras exceções."

RICARDO N. TEIXEIRA MENDES, coordenador do Departamento de Saúde Mental do Sindhosp --Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

*

"O sr. Ferreira Gullar é lamentável na sua arrogância e desinformação. Passa por cima de 25 anos de SUS, de reforma psiquiátrica no Brasil, das convenções internacionais sobre atenção às pessoas em sofrimento psíquico, cuja lista ocuparia muito espaço. Para citar uma: a Declaração de Caracas de 1990, da qual o Brasil é signatário. Gullar joga com seu lugar de jornalista para desfiar uma história pessoal, parcial e nada transparente.
Se hoje existe desatenção na rede pública não é por falta de lutas e de reclamos daqueles que há anos vêm atuando na luta por melhores e maiores atendimentos.
Gullar deveria exigir à atual prefeitura que obedeça ao Ministério Público, que já a denunciou como cúmplice do déficit de equipamentos de tratamento indicados pela própria lei.
Se mantivermos o debate no nível que o senhor Gullar propõe, perguntaria se alguma vez ele se implicou nessa luta."

ISABEL MARAZINA, psicanalista e supervisora na rede de saúde mental pública (São Paulo, SP)

*

"O artigo de Ferreira Gullar mostra o seu total desconhecimento em relação à reforma psiquiátrica. A citada lei 10.216/01 não prevê total extinção dos hospitais psiquiátricos. Como trabalhador na área de saúde mental, já conheci hospitais públicos vergonhosos, que por isso, sim, foram fechados. Mas também há bons hospitais. A atual política de saúde mental ainda tem muito a ser melhorada, mas apresenta, sim, quando praticada com técnica e ética, bons resultados, principalmente quando familiares são inseridos no tratamento em vez de apenas deixarem seus parentes no local de tratamento e irem embora.
Diferentemente do que disse o sr. Marcos Aurélio Martins Ribeiro ('Painel do Leitor', 13/4), sempre será necessário a figura do psiquiatra nos cuidados da saúde mental, mas que estejam realmente engajados em um trabalho diferenciado que não busca apenas a medicalização. Uma das dificuldades dos serviços substitutivos é de ter um psiquiatra que esteja ali no dia a dia, trabalhando em grupos e realmente conhecendo os usuários e seus convivas. Na verdade, eles vão, atendem, prescrevem e vão embora, como em um ambulatório qualquer. Isso porque trabalham em vários locais diferentes e também pela formação acadêmica, que ainda ensina que o melhor remédio é o modelo que ainda persiste: remédios e internações longas."

MARCEL VALOIS CHUCRE (Santana de Parnaíba, SP)

*

"O poeta Ferreira Gullar certa vez escreveu assim:

'Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
--que é uma questão
de vida ou morte--
será arte?'

Quero acreditar que quem escreveu a coluna deste domingo de páscoa tenha sido apenas uma parte de Gullar. Uma parte que não conhece os enormes avanços que a reforma psiquiátrica brasileira e a lei (à qual ele se referiu como idiota) puderam fazer na vida e na história dos milhares de familiares e usuários com os quais lidamos no nosso dia a dia de trabalhadores da saúde mental. Antes dessa lei --que não foi daquelas que surgiu de trás da orelha de um cretino qualquer, mas resultado de um processo de mais de dez anos de discussão, luta, enfrentamentos e negociações--, familiares e pacientes tinham no manicômio o único modo de ter e de oferecer 'tratamento' para suas loucuras ou doenças mentais. A mesma parte que desconhece que existem, sim, em nosso país e em outros manicômios --com este nome ou com outros mais amenos--, que continuam a ferir direitos mínimos aos seus 'frequentadores'. Manicômios que ainda mantêm pessoas encarceradas por 20, 30 ou mais anos, condenadas à reclusão simplesmente pelo fato de serem doentes mentais.
Não quero acreditar que um poeta sensível como Gullar consiga enxergar na doença de seus filhos somente pessoas dispostas a matar ou morrer quando estão em crise. Outra parte do poeta, certamente, conhece muitas outras facetas e singularidades que só quem convive de perto com a esquizofrenia ou com outras doenças mentais pode experimentar.
Por isso minha carta é um convite para que escute a outra parte de si mesmo e desta história, que contou de maneira rasteira e parcial. Uma história que tem lá suas dificuldades e imperfeições (e bem sabe o poeta que num mundo perfeito não haveriam poetas), mas é uma história bonita e legítima e que merece no mínimo respeito. Convido outra parte do poeta a conhecer um Caps (ou serviço deste tipo) e escutar o depoimento de usuários e familiares que lá frequentam e que puderam mudar suas histórias por causa das transformações que esta lei provocou em suas vidas."

RITA DE CÁSSIA DE A. ALMEIDA, trabalhadora de Caps e militante da reforma psiquiátrica brasileira há 12 anos (Juiz de Fora, MG)

*

"Parabéns ao poeta Ferreira Gullar por sua coluna do domingo de Páscoa, pois já estava mais do que na hora de colocar em evidência a triste situação da assistência psiquiátrica no Brasil, decorrente de uma política de saúde mental governamental equivocada. Pesquisas recentes demonstraram que a maioria dos moradores de rua são portadores de doença mental. Ou seja, não vivem nas ruas por opção, mas estão abandonados à própria sorte. Isso porque os Caps (Centros de Atenção de Psicossocial), que deveriam ser o pilar do sistema, encontram-se desestruturados, muitos sem nenhum médico psiquiatra. Além de limitar o número de leitos psiquiátricos, a remuneração paga pelo SUS inviabilizou na prática a existência dos hospitais psiquiátricos. O movimento antimanicomial se transformou em antipsiquiatria. Esta visão obscurantista impede que os pacientes do SUS tenham acesso a tratamentos como a eletroconvulsoterapia, que, em determinados casos, pode significar a diferença entre a vida e a morte de um paciente em depressão. A psiquiatria deve estar organizada no SUS do mesmo modo que as demais especialidades médicas. É urgente uma nova da política de saúde mental para o Brasil com base na evidência médica e científica, e não mais em posições político-ideológicas."

WALTER CINTRA FERREIRA JUNIOR, diretor executivo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (São Paulo, SP)

*

"Ferreira Gullar erra ao dizer que o tratamento ambulatorial para doentes psiquiátricos em hospitais-dia se destine somente a casos leves. Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) atendem casos graves e utilizam todo o arsenal terapêutico moderno que ele descreve. Mas vão além ao proporem estratégias que valorizam o potencial produtivo e criativo de cada paciente. Por conta desta abordagem integral e integrativa, as internações, antes frequentes, tornam-se raras. Testados nos últimos 20 anos, os Caps já provaram que funcionam.
Convido o poeta a conhecer o Caps em que trabalho."

JOSÉ MARCOS THALENBERG, médico clínico do Caps Itapeva (São Paulo, SP)

*

"Durante longos anos, como médico psiquiatra, exerci minha profissão assistindo doentes mentais e, mesmo como testemunha dos imensos progressos farmacoterápicos, nunca deixei de internar aqueles que durante crises agudas sofriam acima de suas forças, mortificando seus familiares. Foi com emoção e admirada solidariedade que li o artigo de Ferreira Gullar, lamentando não ter sua magnífica pena ao nosso lado no tempo das batalhas, quando com outros caros colegas perdemos leitos e hospitais públicos ou conveniados com o SUS para os seguidores do fracassado modelo Basaglia."

BENEDICTO ARTHUR SAMPAIO (São Paulo, SP)

*

"Há cerca de 30 anos acompanho e vivencio as consequências da política de saúde mental no Brasil e em especial na minha região. É com base nessa experiência que consinto com o artigo de Ferreira Gullar. Quem vive a realidade da situação de abandono desse numeroso contingente populacional, pode compreender o significado das tristes verdades que o autor trouxe à baila. Também tenho constatado o desaparecimento progressivo de pacientes, vítimas de atropelamentos, homicídios e suicídios. Seria essa uma forma de 'solução final tupiniquim'? Tomara que tenha chegado a hora, ainda que tardia, da sociedade rever a reforma psiquiátrica."

LOUSTON CASTILHO NOBRE VIEIRA, médico psiquiatra (Patrocínio, MG)

*

"Impressionado com a repercussão causada pelo artigo de Ferreira Gullar, constato que a maioria das opiniões a respeito do tema abordam o mesmo por partes, o que é um equívoco. Em primeiro lugar, é preciso que se saiba que a psiquiatria trata de inúmeras patologias diferentes, o que requer tratamento diferentes para cada uma delas. Além do mais, um mesmo paciente pode viver momentos diferentes dentro de sua história de doença, como bem disse o poeta. Um esquizofrênico em surto necessita de hospitalização, porém, quando ele sair do surto, vai precisar de acompanhamento ambulatorial. Isso também pode acontecer com um dependente químico ou com um portador de psicoses afetivas. Assim, o que se preconiza é uma rede assistencial integrada, que englobe hospital psiquiátrico (de preferência, unidade psiquiátrica em hospital geral), hospital-dia (etapa intermediária entre o hospital fechado e o Caps), Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e ambulatório de saúde mental (onde o paciente vai ter consultas periódicas para não deixar o tratamento pela metade). Tal rede tem que funcionar integradamente, isto é, todas as estruturas acima devem estar em perfeita sintonia para que o paciente seja mais bem tratado. O grande pecado da assistência psiquiátrica do Brasil é que ainda não se construiu tal rede, sendo que o Ministério da Saúde, assim como a Folha já demonstrou em matérias anteriores, reconhece que o país não tem uma estrutura mínima de tratamento para dependentes químicos. De qualquer maneira, é importante que se debata muito sobre tal assunto, para que a 'esquizofrenia' (mente dividida) não continue a prevalecer no imaginário do nosso povo."

JOSÉ ELIAS AIEX NETO (Foz do Iguaçu, PR)

-

Hospitais

"A reportagem '92% dos hospitais possuem falhas em controle de infecção' ( Saúde, 14/4), que traz levantamento do Cremesp e do Ministério Público sobre controle de infecção hospitalar nos hospitais do Estado de São Paulo, necessita de esclarecimentos à população usuária dos serviços de saúde para que não cause pânico.
O estudo foi feito há 15 meses, e seus resultados só foram divulgados agora. Portanto é estranho que os dois órgãos, um que fiscaliza o exercício profissional da medicina, e outro, os interesses dos cidadãos, só se manifestem agora em assunto de tamanha relevância. Afinal, ações corretivas poderiam ter sido tomadas nesse período em benefício dos pacientes.
Convém ressaltar, também, que o hospital deixar de atender um item dos que compõem o programa de controle de infecções não significa necessariamente que o seu índice de infecção seja maior que os demais. O estudo, que citou os nomes dos hospitais, deveria apontar quais as falhas ou a falha atribuída a cada um, assim como o índice oficial de infecção que apresenta. Imagine como está psicologicamente hoje um paciente com cirurgia marcada em um desses hospitais citados? Quais os benefícios efetivos que essa divulgação traz? Além disso, causa estranheza ver nomes de alguns hospitais na lista dos reprovados. Há instituições com selos de qualidade nacional e internacional, com rigorosos controles de qualidade e que são referência em suas regiões."

DANTE MONTAGNANA, médico, presidente da Fehoesp (Federação dos Hospitais do Estado de São Paulo) e Sindhosp (Sindicato dos Hospitais do Estado de São Paulo) (São Paulo, SP)

-

Fumo

"Fiquei surpresa ao ler o editorial 'Outra lei draconiana' ( Opinião, 3/4), pois a abordagem parte de um pressuposto errado, o de que já existe uma lei federal que resolve a matéria, mas que não é cumprida. Também lança dúvidas sobre os malefícios reais do tabagismo passivo, contrariando de forma leviana o que pesquisas científicas confiáveis já comprovaram. Finalmente, ele usa um termo absolutamente inadequado --draconiano-- que acaba desvirtuando os reais objetivos do projeto de lei.
A lei federal 9.294/96 cria os fumódromos, que não são adequadamente definidos e, portanto, não podem ser devidamente fiscalizados. Os fumódromos dão margem à criação de sistemas de ventilação que podem melhorar o conforto do usuário, mas não protegem o consumidor e principalmente o trabalhador da indústria da hospitalidade --o mais atingido pelo tabagismo passivo.
Os deputados paulistas mostraram ao país o que precisava ser feito ao aprovarem a lei que cria ambientes livres de fumo em São Paulo, sem exceção. Esta é apenas uma questão de saúde pública."

VERA LUIZA DA COSTA E SILVA, doutora em saúde pública e consultora da Organização Mundial de Saúde (Rio de Janeiro, RJ)

 

EnqueteVeja +

'Rolezinhos'

A polícia deve impedir os "rolezinhos" nos shoppings paulistanos?

Publicidade

Acompanhe a Folha no Twitter

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página