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16/04/2009 - 02h30

Hospitais psiquiátricos, nova Justiça, fumo, Ronaldo

da Folha Online

Hospitais psiquiátricos

"Gostaria de parabenizar o colunista Ferreira Gullar ( Ilustrada, 12/4) por conseguir expressar um sentimento que só quem possui parentes com esse tipo de problemas sabe o que é, visto que na teoria as coisas funcionam de uma forma, mas, na prática e no dia a dia, as coisas são bem diferentes.
Tenho uma cunhada de 28 anos que possui problemas de esquizofrenia desde a infância, residindo no bairro do Capão Redondo. Devido à origem humilde que possuímos, o diagnóstico foi efetuado tardiamente. Em seu tratamento utilizamos o Caps do Jardim Lidia, o qual está sem médico há mais de três meses. Em caso de emergência, temos de recorrer ao Hospital do Campo Limpo, no qual ela já teve a oportunidade de ficar internada, sendo que em uma das passagens acabou sendo molestada por outro doente mental pelo fato de não haver alas separadas entre homens e mulheres. Este é apenas um dos contratempos que as pessoas mais humildes passam: não possuir um bom amparo e, quando o encontra, estarem sujeitas aos acasos da vida."

MARCELO CARLOS DOS SANTOS (São Paulo, SP)

*

"Acredito na luta antimanicomial e sempre me incluí como um militante desta. Mas admito ser extremamente complicado defender o extermínio de leitos de internação psiquiátrica, com o discurso atrelado a uma eventual desospitalização ou contrário ao hospitalocentrismo. Ao longo de todo o tempo de atuação na saúde mental, pude observar que o cerne da questão seria justamente dar oportunidade oportunizar espaços em meio a uma série de ações que são extremamente carentes em nossa área.
Vejamos as famílias e os pacientes que sofrem em decorrência de problemas relacionados à dependência química. Espera-se que serviços de internação possam vir a somar recursos a uma rede de cuidados e níveis de atenção já existentes, mas que infelizmente ainda são insuficientes e muitas vezes pouco especializados para uma adequada atenção à saúde integrada destinada a este perfil de pacientes.
Amanhã acabamos por completo com os leitos de internação prolongada, que ótimo! Seria bom poder contar com centros de excelência, internação prolongada em clínicas ou comunidades terapêuticas, enfermarias de desintoxicação, hospital dia para álcool e drogas, moradia assistida para dependentes, ambulatório especializado, unidade comunitária, grupos de autoajuda, unidade comunitária de saúde mental, ambulatório de saúde mental, ambulatório de especialidades, hospital geral, apoio por parte de empresas, escolas, ambulatórios gerais, albergues, cadeias e prisões, unidades para adolescentes infratores. Alguém já tentou acessar qualquer um desses serviços? É provável que uma das poucas portas que realmente se abrirá ou estará disposta a ser parceira do dependente e sua família que dependam do SUS será a dos grupos de autoajuda; as demais não estão preparadas para tal."
Antes de levantar qualquer bandeira, lembro-me que cansei de ser 'militonto' e, com todo o respeito à luta antimanicomial, caso eu venha a desenvolver um surto psicótico, não me encaminhe para um Caps, pelo menos por enquanto. Afinal em São Paulo são apenas 45 unidades para cerca de 11 milhões de habitantes. Logo, do ponto de vista estatístico, deveríamos contar com aproximadamente 165 unidades, atendendo à crianças e adolescentes, adultos e álcool e drogas."

SÉRGIO LUÍS FERREIRA, psicólogo atuante na área de dependência química (São Paulo, SP)

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"Na década de 90, foi proposto, pelo movimento social da luta antimanicomial, uma lei federal de reforma psiquiátrica que, há dez anos transitando no Congresso, foi aprovada em 6 de abril de 2001, por ocasião do lançamento do filme 'Bicho de Sete Cabeças', em que o protagonista, Austragésilo Carrano, nos mostra cenas de sua internação involuntária, em um hospital psiquiátrico, sendo que o mesmo nem era portador de sofrimento mental e, sim, usuário de drogas.
Muito do texto original foi perdido nesse tempo em que a lei transitou no Congresso, embora, em alguns Estados, algo pode ser recuperado em suas leis estaduais.
A palavra de ordem do movimento da luta antimanicomial --'Por uma sociedade sem manicômios'-- vai muito além do fechamento de hospitais psiquiátricos. Ela propõe a desconstrução do conceito manicômio que, como nos alerta Basaglia, pioneiro da reforma psiquiátrica que queremos, é todo o exercício de poder que segrega, exclui, oprime.
Convidamos a sociedade a se responsabilizar pelo convívio com a loucura, não enquanto reduzida a parâmetros de normalidade e, sim, enquanto diferença, naquilo em que se mostra irredutível.
Para isso, foi e continua sendo implantada uma rede de assistência à saúde mental, preconizada pelo SUS, enquanto direito à saúde, que oferece atendimento às crises psiquiátricas, nos chamados Caps, estendendo esse atendimento de forma ambulatorial na atenção primária.
Em um resgate do direito de circulação da loucura pela cidade são oferecidos centros de convivência, onde o convívio se constrói entre oficinas de arte e artesanato. E para aqueles pacientes com longa permanência em hospitais psiquiátricos e que perderam seu vínculo com a família são oferecidas residências terapêuticas, para que o paciente não apenas volte ao convívio na cidade como realize, incluído nela, o seu tratamento em regime aberto.
Com o funcionamento desses serviços, foi possível desmistificar alguns mitos, como a periculosidade dos loucos, sua incapacidade, bem como a rejeição da família. Embora tenha uma minoria que prefira se ver livre de seu parente em crise, na grande maioria dos casos o que se observa é um cuidado e o interesse de se manter junto ao seu parente.
Em maio de 2008, na capital mineira, foi realizado um evento de extrema importância e sensibilidade, a Mostra de Arte Insensata, em que muitos trabalhos produzidos pelos usuários dos serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico puderam ser expostos em diálogo com a sociedade. Convidada a repensar sua relação com a loucura, os usuários da saúde mental puderam apresentar outras identidades que não aquelas referidas à doença mental onde, há 300 anos, a psiquiatria, assenhorando-se da loucura, a manteve presa.
Convidados os usuários a serem protagonistas, dentro dos princípios que regem a reforma psiquiátrica, a liberdade e a cidadania, por exemplo, não éramos somente bem cuidados, como em gaiolas de ouro que nos oferecem salas de jogos, cinema, teatro... Éramos nós que produzíamos."

SÍLVIA MARIA SOARES FERREIRA, membro da Comissão Municipal de Reforma Psiquiátrica (Belo Horizonte, MG)

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"Quero saber da professora de psicologia Ianni Regia Scarcelli ('Painel do Leitor', 15/4) onde cita: 'o autor desconhece a história dos movimentos pela extinção dos manicômios e pela reforma psiquiátrica brasileira, que defendem a internação, quando necessária, em serviços preocupados com a reabilitação (hospitais gerais,entre outros)...', onde estão tais serviços?
Gullar pôs o dedo na ferida."

EDEMAR AFONSO GONÇALVES, médico pediatra (Jaru, RO)

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"Ferreira Gullar merece respeito como poeta, mas para discutir reforma psiquiátrica precisa de um pouco mais de conhecimento. Sugiro começar com leitura, que é algo fundamental para um poeta. Leitura de Foucault, por exemplo. Depois, da própria lei.
A falta de responsabilidade --que é delegada a terceiros, na pessoa de médicos e hospitais-- é uma característica recorrente em parentes de pacientes mentais. Essa falta, digo isso por experiência própria, é resultado da falta de perspectiva, da situação por vezes desesperadora. Sei que tive muita discussão com minha família acerca de um parente com doença mental e que todos se recusavam a se implicar em seu tratamento e sua recuperação, no mínimo, social. Se eu não me implico, por que o doente se implicaria?
Existem manicômios sim. Em minha cidade existem. Continuam servindo para a mesma coisa que sempre serviram, papel igual ao dos presídios: eliminar do convívio social os indesejáveis. Mesmo as famílias se sentem aliviadas assim.
A reforma tem que ser implementada antes de ser criticada. Os hospitais gerais precisam capacitar seus profissionais e abrir seus leitos psiquiátricos. As prefeituras precisam estruturar seus Caps e seus Naps. Os profissionais de saúde mental precisam entender seu papel na sociedade. E os meios de comunicação e educação precisam esclarecer sobre a reforma."

DANIEL DANTAS (Natal, RN)

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Nova Justiça

"Li o artigo 'O real significado da Justiça' ('Tendências/Debates', 14/4), do desembargador Henrique Nelson Calandra, presidente da Apamagis. Como velho advogado e antigo procurador municipal, pode até ser encarado este meu posicionamento como de um leigo na matéria ou desconhecedor da composição de nossos tribunais perante o julgamento de determinada ação. Não vou citar nomes, tipo de ação e demais particularidades, afim de melhor ser entendido perante todas as camadas de leitores.
Eu, e muitos colegas, ali por volta de 1987 ou 1988, movemos uma ação contra o órgão público ao qual prestávamos serviço, tendo como objeto a equiparação de nossos cargos aos de outros que foram beneficiados por uma lei municipal. Todos, ou quase todos, tivemos o mesmo advogado como nosso representante. Os anos se passaram e não vou tecer críticas quanto à morosidade da Justiça.
Em fins do ano passado, ao encontrar um colega, este me indagou sobre a minha ação, pois ele, em meados de 2008, recebera uma vultosa quantia. Mesma ação, mesmo advogado, mesmo tribunal, o STF.
Pois bem, repito: fui ver. A minha ação, como a de muitos outros, fora julgada improcedente. Alguns foram até condenados a pagar custas e honorários. Tive sorte. Não fui condenado a tal.
É difícil entender! Realmente, como disse o ilustre desembargador, 'é preciso construir, todos os dias, uma nova Justiça'!"

JOSÉ BUENO LIMA (Santo André, SP)

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Fumo

"A carta da sra. Marta Caetano Bezerra ('Painel do Leitor', 14/04), que critica o governo em gastar R$ 37 milhões com tratamentos e pensões como resultados do tabagismo irresponsável, vem na contramão da realidade.
Os tabagistas são doentes que adquiriram a dependência química e psíquica e necessitam de tratamento gratuito pelo Estado. Se for encomendada pesquisa junto a esses dependentes sobre o desejo de parar de fumar, desde que haja um tratamento comprovadamente eficiente e gratuito, com certeza milhões participariam deste projeto.
Ao contrário, com a nova tributação do cigarro, o governo arrecadará mais de R$ 950 milhões em impostos que será utilizada para aquecer o mercado automobilístico, com a redução do IPI, quando deveria reverter no tratamento dos tabagistas.
A indústria automotiva, apesar da crise, vendeu no mês passado 271.494 veículos. Portanto, 17% a mais que em igual período de 2008, e isso vai garantir milhares de toneladas de monóxido de carbono para os pobres passivos pedestres. Os veículos automotores 'fumam' nos subsolos dos prédios, repartições públicas, academias, centros esportivos, shoppings etc. e vocês não fumantes não reclamam, porque também é uma opção de morte lenta e gradativa."

GERALDO FERNANDES (Araraquara, SP)

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Ronaldo

"Concordo plenamente com José Roberto Torero no artigo 'Ronaldo, o brahmeiro' ( Esporte, 14/4). É um absurdo o jogador Ronaldo fazer apologia de bebida! E acrescento o péssimo exemplo que esse moço passa para a juventude e para as crianças! Além de todas as situações vexatórias em que se envolve, ainda faz propaganda de bebidas. E pior, não joga mais futebol, sendo até violento, como demonstrou no último jogo no lance com André Dias do São Paulo, em que só não foi expulso por ser blindado pela arbitragem!
O mais incrível é que ainda existem pessoas que teimam em endeusar um atleta decadente e patético! Infelizmente é o retrato da nossa sociedade, uma completa inversão de valores! O futebol verdadeiro e os verdadeiros atletas perdem espaço para tipos assim."

THEREZINHA DE JESUS LIMA E OLIVEIRA (São José dos Campos, SP)

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Faixa cidadã

"Mais uma vez um legislador tenta colocar em vigor uma lei sobre circulação de motocicletas sem ter conhecimento do assunto. Li a reportagem 'Comissão da Câmara proíbe motos de trafegar entre carros' ( Cotidiano, 14/4) que um deputado da Bahia quer proibir a circulação das motos entre os automóveis. Esse deputado ignora o fato de que a maioria das motocicletas são refrigeradas a ar e não possuem ventoinha, não podendo, dessa forma, permanecer paradas nos congestionamentos, desses que são diários em São Paulo e na maioria das grandes cidades, sem que os motores superaqueçam e cheguem a travar ou fundir.
A maneira correta de trazer mais segurança à circulação seria proibir a circulação entre os automóveis quando estes estivessem em movimento, permitindo o avanço das motos quando o trânsito parasse, admitindo como velocidade máxima nesses casos igual a metade da máxima naquela via.
Dessa forma as motocicletas seriam muito mais seguras, além de continuarem econômicas, rápidas e ecológicas."

ELCIO JOSÉ CIASCA (São Paulo, SP)

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"Louvável a iniciativa que se propõe salvar a vida dos 'motoqueiros'. Mas e nós, não 'motoqueiros'? Pela segunda vez fui vítima dos irresponsáveis. Na primeira vez, nervoso não sei por que, o 'motoqueiro' arrancou o retrovisor de meu carro com um pontapé. Fiquei no prejuízo, pois ao manobrar o carro para parar na faixa da direita e conferir os danos a roda do carro passou em cima do retrovisor, que ainda estava inteiro.
Na segunda vez, um 'motoqueiro' com garupa tentou passar entre dois carros, num espaço que não cabia nem um patinete. Resultado: meu carro teve o retrovisor danificado e um estrago enorme na porta direita. Detalhe: os dois saíram serpenteando entre os carros com o garupa cobrindo o número da placa para que eu não pudesse anotá-la.
Pergunto: onde está a cidadania?"

AIRTON SOARES (São Paulo, SP)

 

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