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29/10/2002 - 03h12

Sátira e religião marcam literatura baiana

ANA LÚCIA ARAÚJO
free-lance para a Folha de S.Paulo

O baiano Gregório de Mattos (1636-1695), conhecido também como Boca do Inferno, ao lado do luso-baiano padre Antônio Vieira, do "Sermão da Sexagésima", são os principais exemplos da produção literária produzida no país, principalmente na Bahia, durante o barroco.

Mattos, poeta satírico da famosa estrofe 'Incêndio em mares de água disfarçado! / Rio de neve em fogo convertido!', trabalhou ativamente no final do século 17, quando a representação do barroco nas artes plásticas já estava consolidada em Salvador. Sua vasta obra contém os principais elementos do estilo, como a metáfora e o uso de antíteses, exemplificado na estrofe anterior. Por volta de 1650, na sua adolescência, foi para Portugal, onde se formou em direito pela Universidade de Coimbra. Só retornou ao Brasil 15 anos antes de sua morte. Sua obra é de grande expressão para o movimento, tanto no Brasil quanto em Portugal.

"A nossa Sé da Bahia,
com ser um mapa de festas,
é um presépio de bestas,
se não for estrebaria:
várias bestas cada dia
vemos, que o sino congrega,
Caveira mula galega,
o Deão burrinha parda,
Pereira besta de albarda,
tudo para a Sé se agrega."
("Aos Capitulares do Seu Tempo", do livro "Crônica do Viver Baiano Seiscentista")

Por outro, o padre português Antônio Vieira (1608-1697), que chegou ao Brasil aos seis anos de idade, tinha uma escrita austera, típica da sua formação jesuítica.

"Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são os que se contentam com pregar na Pátria", do Sermão da Sexagésima, exemplifica a mentalidade catequizadora dos jesuítas para conquistar novos fiéis na colônia.

Além de publicar centenas de sermões, Vieira estudou teologia, física, matemática e economia. Voltou a Portugal como embaixador em 1641 e foi preso pela Inquisição, acusado de defender os judeus. Só retornou ao Brasil 40 anos mais tarde, onde viveu até a sua morte.

Dom Lucas revitalizou música sacra
No final dos anos 80, o ex-arcebispo de Salvador Dom Lucas Moreira Neves, morto neste ano, convidou o padre alemão Hans Bönisch para criar uma associação que revitalizasse a música sacra-clássica na cidade. O projeto, batizado de Barroco na Bahia, deu certo, e há quase 10 anos vem realizando cursos e concertos na capital baiana.

Mestre de Capela da Catedral Basílica e presidente da associação, Hans Börnisch coordena o centro cultural que oferece cursos de canto e oficinas de produção artística.

Além disso, todos os domingos, o grupo se apresenta na Catedral Basílica, acompanhado pelo famoso órgão de tubos do local. Há também os ensaios do Coro de Câmera, que hoje conta com 60 integrantes, e acontecem às segundas e quartas, às 19h, na sede do Barroco na Bahia.

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