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08/12/2003
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06h41
Dublin estará em festa por cinco meses em 2004. Comemoram-se os cem anos em que Leopold Bloom, o protagonista de "Ulisses" --um dos mais importantes épicos da literatura-- passa um único dia (16 de junho de 1904) perambulando pela capital.
Aficionados pela história de James Joyce (publicada em 1922) saem às ruas para lembrar o dia de Bloom, o Bloomsday. Vestem roupas de época, dramatizam, fazem leituras da obra e tentam reproduzir aquela data em locais por onde o personagem passou.
"Esperamos ter milhares de pessoas participando das leituras numa tentativa recorde", diz Bob Joyce, sobrinho-neto do autor de "Ulisses" e diretor do James Joyce Center --um centro instalado em uma casa em estilo georgiano, no norte de Dublin, que visa ajudar os interessados por literatura a entender um pouco mais sobre a vida e a complexa obra do autor.
Diferentemente dos outros anos, em que o Bloomsday é comemorado por no máximo uma semana, em 2004, o evento começa em 1º de abril e prolonga-se até 31 de agosto. A festa será inédita.
"Queremos projetar imagens em prédios e iluminar alguns que tenham conexão com "Ulisses"."
O governo organizou um comitê Rejoyce 2004 (www.rejoycedublin2004.com) para cuidar do evento e reunir outras pessoas - -além de leitores da obra.
"É um livro muito complicado. Joyce foi muito complexo na maneira em que ele esquematizou o livro", diz o outro Joyce. O centro dirigido por ele ajuda a descomplicar a obra por meio de palestras, grupos de leitura e de discussão, quadros, vídeos e murais. Numa das salas, há um quadro esquematizando com cores, partes do corpo e tipos de linguagem os 18 capítulos de "Ulisses".
Leia entrevista que Bob Joyce concedeu à Folha no James Joyce Center (35 North Great George's St.), com detalhes sobre os eventos dos cem anos do dia de Bloom.
Folha - O que vai acontecer em 2004 para comemorar o centenário do Bloomsday?
Bob Joyce - Planejamos ligar o Bloomsday pela internet ao redor do mundo. Exatamente como, ainda não finalizamos. Nos surpreende o número de países que participam. Países como Croácia e Eslovênia terão eventos Bloomsday pela primeira vez. Tradicionalmente, há eventos na maioria dos países da Europa e em muitas cidades nos EUA e também na América do Sul. Em 1998 tivemos uma leitura mundial de "Ulisses" com a participação do Brasil e da Argentina. Há grupos em São Paulo e no Rio com os quais temos tido contato por anos.
Folha - A leitura de "Ulisses" assusta muita gente. O Bloomsday terá participação popular maior?
Joyce - Estamos tentando fazer eventos para que pessoas comuns que estejam andando nas ruas se envolvam. No domingo que antecede o Bloomsday esperamos fazer um café da manhã de graça e leituras para 20 mil pessoas na O'Connell Street, baseado no café que Leopold Bloom comeu em Dublin [leia na programação]. Haverá muitas dramatizações. Queremos fazer uma leitura de "Ulisses" na ponte Liffey. Esperamos ter milhares de pessoas participando das leituras numa tentativa recorde. Outros eventos incluem exibições de arte e shows. Queremos projetar imagens em prédios e iluminar alguns que tenham conexão com "Ulisses".
A abertura de "Ulisses" acontece na torre Martello em Sandycove. Há nove dessas [torres] ao longo da baía de Dublin. Iremos acendê-las todas, com cores que casam com o esquema que Joyce tinha no livro.
Folha - Qual é a expectativa de público para o centenário?
Joyce - Em alguns dos festivais, tivemos cerca de 500 pessoas do exterior. Mas, como o ano que vem é o centenário do Bloomsday, esperamos milhares [de estrangeiros]. O festival começará bem antes. Normalmente é apenas um dia de festa ou uma semana. Dessa vez, será um evento de cinco meses. O governo montou um comitê nacional, o Rejoyce Dublin 2004 para coordená-lo.
Folha - Os irlandeses lêem "Ulisses"?
Joyce - Essa é a situação mais peculiar. As pessoas de fora da Irlanda tendem a ler Joyce mais do que os irlandeses. Acredito que uma das razões é que as pessoas em Dublin sentem que não têm de ler o livro porque elas vivem isso todos os dias.
Folha - "Ulisses" pode ser um guia turístico de Dublin?
Joyce - Sim, eu acho que, quando você vem para Dublin, você tem um sabor do livro. Deve ser difícil para as pessoas fora de Dublin entenderem as gírias e a linguagem. Nós as entendemos de imediato.
Folha - A leitura dessa obra intrincada foi difícil para o sr.?
Joyce - Ser parte da família não tornou a leitura mais fácil, mas o fato de eu ser de Dublin tornou isso mais fácil, porque entendo as gírias. Nunca li ["Ulisses"] do começo ao fim. Na verdade, li diferentes capítulos em momentos distintos. E há histórias dentro de histórias. Parece ser fácil ler só um capítulo. Você descobre coisas diferentes a cada leitura ou toda vez que alguém faz uma palestra ou fala sobre "Ulisses". É um livro muito complicado. Joyce foi muito complexo na maneira em que ele esquematizou o livro. Os 18 capítulos são escritos em estilos diferentes e parece não haver lógica de um capítulo para o outro.
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da enviada especial da Folha de S.Paulo à IrlandaDublin estará em festa por cinco meses em 2004. Comemoram-se os cem anos em que Leopold Bloom, o protagonista de "Ulisses" --um dos mais importantes épicos da literatura-- passa um único dia (16 de junho de 1904) perambulando pela capital.
Aficionados pela história de James Joyce (publicada em 1922) saem às ruas para lembrar o dia de Bloom, o Bloomsday. Vestem roupas de época, dramatizam, fazem leituras da obra e tentam reproduzir aquela data em locais por onde o personagem passou.
"Esperamos ter milhares de pessoas participando das leituras numa tentativa recorde", diz Bob Joyce, sobrinho-neto do autor de "Ulisses" e diretor do James Joyce Center --um centro instalado em uma casa em estilo georgiano, no norte de Dublin, que visa ajudar os interessados por literatura a entender um pouco mais sobre a vida e a complexa obra do autor.
Diferentemente dos outros anos, em que o Bloomsday é comemorado por no máximo uma semana, em 2004, o evento começa em 1º de abril e prolonga-se até 31 de agosto. A festa será inédita.
"Queremos projetar imagens em prédios e iluminar alguns que tenham conexão com "Ulisses"."
O governo organizou um comitê Rejoyce 2004 (www.rejoycedublin2004.com) para cuidar do evento e reunir outras pessoas - -além de leitores da obra.
"É um livro muito complicado. Joyce foi muito complexo na maneira em que ele esquematizou o livro", diz o outro Joyce. O centro dirigido por ele ajuda a descomplicar a obra por meio de palestras, grupos de leitura e de discussão, quadros, vídeos e murais. Numa das salas, há um quadro esquematizando com cores, partes do corpo e tipos de linguagem os 18 capítulos de "Ulisses".
Leia entrevista que Bob Joyce concedeu à Folha no James Joyce Center (35 North Great George's St.), com detalhes sobre os eventos dos cem anos do dia de Bloom.
Folha - O que vai acontecer em 2004 para comemorar o centenário do Bloomsday?
Bob Joyce - Planejamos ligar o Bloomsday pela internet ao redor do mundo. Exatamente como, ainda não finalizamos. Nos surpreende o número de países que participam. Países como Croácia e Eslovênia terão eventos Bloomsday pela primeira vez. Tradicionalmente, há eventos na maioria dos países da Europa e em muitas cidades nos EUA e também na América do Sul. Em 1998 tivemos uma leitura mundial de "Ulisses" com a participação do Brasil e da Argentina. Há grupos em São Paulo e no Rio com os quais temos tido contato por anos.
Folha - A leitura de "Ulisses" assusta muita gente. O Bloomsday terá participação popular maior?
Joyce - Estamos tentando fazer eventos para que pessoas comuns que estejam andando nas ruas se envolvam. No domingo que antecede o Bloomsday esperamos fazer um café da manhã de graça e leituras para 20 mil pessoas na O'Connell Street, baseado no café que Leopold Bloom comeu em Dublin [leia na programação]. Haverá muitas dramatizações. Queremos fazer uma leitura de "Ulisses" na ponte Liffey. Esperamos ter milhares de pessoas participando das leituras numa tentativa recorde. Outros eventos incluem exibições de arte e shows. Queremos projetar imagens em prédios e iluminar alguns que tenham conexão com "Ulisses".
A abertura de "Ulisses" acontece na torre Martello em Sandycove. Há nove dessas [torres] ao longo da baía de Dublin. Iremos acendê-las todas, com cores que casam com o esquema que Joyce tinha no livro.
Folha - Qual é a expectativa de público para o centenário?
Joyce - Em alguns dos festivais, tivemos cerca de 500 pessoas do exterior. Mas, como o ano que vem é o centenário do Bloomsday, esperamos milhares [de estrangeiros]. O festival começará bem antes. Normalmente é apenas um dia de festa ou uma semana. Dessa vez, será um evento de cinco meses. O governo montou um comitê nacional, o Rejoyce Dublin 2004 para coordená-lo.
Folha - Os irlandeses lêem "Ulisses"?
Joyce - Essa é a situação mais peculiar. As pessoas de fora da Irlanda tendem a ler Joyce mais do que os irlandeses. Acredito que uma das razões é que as pessoas em Dublin sentem que não têm de ler o livro porque elas vivem isso todos os dias.
Folha - "Ulisses" pode ser um guia turístico de Dublin?
Joyce - Sim, eu acho que, quando você vem para Dublin, você tem um sabor do livro. Deve ser difícil para as pessoas fora de Dublin entenderem as gírias e a linguagem. Nós as entendemos de imediato.
Folha - A leitura dessa obra intrincada foi difícil para o sr.?
Joyce - Ser parte da família não tornou a leitura mais fácil, mas o fato de eu ser de Dublin tornou isso mais fácil, porque entendo as gírias. Nunca li ["Ulisses"] do começo ao fim. Na verdade, li diferentes capítulos em momentos distintos. E há histórias dentro de histórias. Parece ser fácil ler só um capítulo. Você descobre coisas diferentes a cada leitura ou toda vez que alguém faz uma palestra ou fala sobre "Ulisses". É um livro muito complicado. Joyce foi muito complexo na maneira em que ele esquematizou o livro. Os 18 capítulos são escritos em estilos diferentes e parece não haver lógica de um capítulo para o outro.
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