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16/08/2004 - 05h00

Autofagia à paulista: Nem tudo no roteiro é realmente bandeirante

do enviado especial da Folha de S.Paulo ao interior de SP

Nem tudo o que se apregoa no Roteiro dos Bandeirantes, ao contrário do que o nome sugere, é bandeirante. E o que, para alguns, pode significar variedade, para outros, talvez sobressaia como uma amarração temática frouxa.

Entre os pontos turísticos sugeridos pelo folheto de divulgação do projeto, estão, por exemplo, uma pedra de 270 milhões de anos e um museu com acervos de cidadãos ilustres nascidos na segunda metade do século 19 ou ao longo do século 20. Ainda que se aceite que tais lugares são interessantes, resta a pergunta: o que têm eles realmente a ver com as pegadas deixadas pelos caçadores de minérios e de índios?

Responde a diretora da Cotur (Coordenadoria de Turismo da Secretaria Executiva de Turismo), Sonia Belardinucci: "Seria impossível a apresentação do roteiro do modo como a região foi concebida na configuração original. O espaço foi alterado, os povoados tornaram-se vilas que se tornaram cidades." Para ela, deve ser levada em conta a influência do período nas gerações seguintes.

Belardinucci diz que não ocorre uma descaracterização do tema. "O roteiro agrega outras possibilidades de desenvolvimento turístico que os municípios não poderiam deixar de lado por não se inserirem no âmbito bandeirista."

Mocinho e bandido

Os bandeirantes não foram mocinhos nem bandidos, classificações maniqueístas do bangue-bangue. Em périplos que dilataram as fronteiras brasileiras para além do Tratado de Tordesilhas --o que os transforma, para alguns, em heróis--, eles dizimaram milhares de índios --o que os torna, para outros, vilões.

"Isso é uma tolice. Eles eram assassinos? Sim. Mas é preciso notar que o mundo era muito violento", diz Jean Marcel Carvalho França, professor de história da Universidade Estadual Paulista (Unesp). "Eles eram violentos para os nossos padrões", explica Katia Maria Abud, historiadora e professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

O mito do semideus que descobriu as minas e deu ao Brasil um mapa mais generoso começa a ser forjado no final do século 19 e no início do século 20 pela elite "quatrocentona" cafeicultora. "Nos séculos 16, 17 e 18, já há documentos que sugerem um imaginário grandioso", diz França.

Essa mania de grandeza paulista encontraria ecos na Revolução Constitucionalista de 1932 e no Quarto Centenário paulistano, em 1954.

Nos 450 anos da capital, comemorados em janeiro último, a chama nativista foi mais branda. "É que ninguém mais estuda história", avalia Abud.

A atuação bandeirista se desenvolveu no século 17 e atingiu boa parte do século 18, com declínio neste último. Mais ligadas ao século 16, as entradas, expedições em geral organizadas pela Coroa, exploravam novas terras. Também se prospectava o ouro e se preava o gentio. Elas antecederam as bandeiras paulistas e foram contemporâneas suas.

A função das explorações bandeirantes de capital particular era aprisionar índios e abastecer o mercado com a mão-de-obra escrava caçada. Essa atividade econômica demandava a estrada --fluvial ou não.

Metais valiosos também eram buscados por esses varões rudes, que falavam tupi e tinham sangue mestiço. "Geralmente, o grande chefe era branco, mas tinha bastardos com as índias", afirma Abud. Por vezes, os bandeirantes trabalhavam como mercenários --em 1692, Domingos Jorge Velho partiu para o Nordeste a fim de arrasar o Quilombo de Palmares.

Quando o ouro foi descoberto em Cuiabá e em Goiás, no começo do século 18, começaram a ser organizadas as monções, que proviam os rincões do Centro-Oeste. Os batelões (barcaças) que deslizavam pelas águas do Tietê partiam de Porto Feliz.

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