Putin diz que relações entre Rússia e EUA pioraram sob Trump

Crédito: Sergei Ilnitsky - 17.jan.2017/AFP Russian President Vladimir Putin gestures as he speaks during a joint press conference with his Moldovan counterpart following their meeting at the Kremlin in Moscow on January 17, 2017.
O presidente russo, Vladimir Putin, em foto de janeiro

ISABEL FLECK
DE WASHINGTON

Pouco antes de receber o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, em Moscou nesta quarta (12), o presidente russo, Vladimir Putin, disse que a relação entre os dois países piorou desde que Donald Trump chegou à Casa Branca, em janeiro.

A visão negativa foi corroborada por Trump horas depois, em Washington. "Talvez estejamos no patamar mais baixo de todos os tempos na nossa relação com a Rússia", disse o republicano.

Segundo Putin, "o patamar de confiança no nível de trabalho, sobretudo em questões militares", não só não melhorou, como "se deteriorou" com a chegada de Trump, que durante a campanha manteve tom amigável em relação a Moscou.

Depois do encontro com Putin, Tillerson disse haver um "baixo nível de confiança" entre os dois países. "As duas maiores potências nucleares do mundo não podem ter esse tipo de relação", afirmou.

O momento já era delicado entre Washington e Moscou devido às investigações sobre a influência russa nas eleições de 2016 e a questionamentos enfrentados pelo governo Trump sobre possíveis contatos de seus assessores com o governo Putin durante a campanha.

A tensão entre os dois países subiu consideravelmente após o ataque americano, na última semana, a uma base aérea do regime sírio, aliado da Rússia – o primeiro promovido por Washington contra um alvo do regime desde o início da guerra, em 2011.

Na Casa Branca, após se reunir com o secretário-geral da Otan (aliança militar ocidental), Jens Stoltenberg, Trump disse que seria "fantástico" se os EUA pudessem "se dar bem" com a Rússia: "Neste momento, não estamos nos dando bem mesmo".

O presidente americano ainda disse que é "certamente possível" que o governo russo soubesse do ataque químico que matou pelo menos 80 pessoas numa cidade síria no último dia 4 e que os EUA atribuem ao governo de Bashar al-Assad. Damasco nega participação na ação.

"Eu gostaria de pensar que eles não sabiam, mas certamente eles podem ter [tido conhecimento]. Eles estavam lá", disse Trump. A origem do ataque químico teria sido na base aérea depois atingida pelos americanos.

Em frente aos jornalistas em Moscou, Tillerson e o chanceler russo, Sergei Lavrov, discordaram sobre o papel de Assad no ataque químico. Enquanto o americano afirmou que seu governo tem certeza de que a ação foi "planejada e executada" pelo regime, Lavrov disse ser preciso uma investigação.

"Claramente, nossa visão é a de que o reino da família Assad está chegando ao fim", disse Tillerson. Trump, por sua vez, chamou o ditador sírio, nesta quarta, de "animal" e de "açougueiro", mas descartou um envolvimento maior na guerra síria por ora.

A posição de Trump, que defendia desde a campanha que a prioridade dos EUA na Síria deveria ser destruir a facção terrorista Estado Islâmico, e não depor Assad, mudou desde o ataque químico.

Tillerson, que vinha adotando tom mais brando em contraponto com a embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, endureceu o discurso durante a viagem.

Apesar das discordâncias verbalizadas após duas horas de reunião com o americano, Lavrov disse que os governos concordaram em criar uma força-tarefa para tratar das questões "irritantes" que atrapalham os contatos bilaterais.

Crédito: CONFLITO NA SÍRIAControle territorial do país está fragmentado após seis anos de guerra

OBSOLETA

Em contraste com o desgaste cada vez maior na relação entre Washington e Moscou, Trump e Stoltenberg se esforçaram para demonstrar sintonia após as duras críticas do republicano à Otan durante a campanha.

"Eu disse que [a Otan] era obsoleta. Não é mais obsoleta", afirmou Trump, sugerindo que teria motivado a aliança a "fazer mais" no combate ao terrorismo. "Eu reclamei disso há muito tempo, e eles mudaram e agora eles combatem o terrorismo."

O secretário-geral da Otan, por sua vez, apoiou a ação militar dos EUA contra a Síria dizendo que o ataque químico "não podia ficar sem resposta". Stoltenberg também agradeceu ao republicano por cobrar de outros membros que cumpram suas obrigações financeiras.

O encontro dos dois antecede a cúpula da Otan em maio, em Bruxelas, na qual Trump já confirmou presença.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.